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Coluna
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Por que os novos protestos populares podem ter efeito bumerangue

Um protesto a favor da Lava Jato e contra a corrupção parece abstrato demais para levar o Brasil às ruas

Juan Arias
Protesto no Rio em dezembro passado.
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Os movimentos de protesto popular que levaram milhões de pessoas às ruas contra Dilma e Lula, e a favor do juiz Sérgio Moro, convocaram uma nova manifestação para 26 de março. A finalidade, desta vez, seria defender a Lava Jato. Mas, e se o novo protesto tiver um efeito bumerangue?

Trata-se de um protesto que, sob a intenção de defender a luta contra a corrupção, além de outras demandas, poderia levar consigo o veneno da ambiguidade. A Lava Jato, que ameaça condenar meia classe política, é uma das bombas que ainda não sabemos aonde podem chegar. É tão importante que nem sequer os que mais têm medo dela se atrevem a combatê-la de forma aberta. Fazem isso só nas sombras.

O que aconteceria se, por algum motivo, desta vez a manifestação fracassasse? Se as pessoas ficassem em suas casas? De que forma os corruptos aproveitariam para tentar dar o golpe de misericórdia no trabalho da Justiça? Seria seu maior triunfo, já que hoje os políticos estão mais sensíveis do que nunca aos gritos da rua.

Nas últimas manifestações os alvos eram concretos. As pessoas, em meio à crise econômica que havia mergulhado o país na maior recessão da democracia, pediam a renúncia do Governo. Eram os protestos “Fora Dilma”, “Fora Lula” e “Fora PT”. Agora que Dilma foi embora, que o PT murchou e que Lula está enredado na Justiça, cinco vezes réu em outros tantos processos, um protesto a favor da Lava Jato e contra a corrupção parece abstrato demais para levar o Brasil de novo às ruas.

Alguém se manifesta hoje abertamente a favor dos corruptos? Sabe-se que metade da classe política pode ser alvo da Lava Jato e que há movimentos subterrâneos para aprovar leis que a detenham. Ninguém, contudo, atreve-se a expressar uma oposição frontal à investigação judicial. Talvez alguns se mostrem contra Moro, mas ninguém é capaz de se pronunciar a favor dos crimes de políticos.

Diante de tudo isso, parece não existir força suficiente para mover as massas. O protesto poderia ser instrumentalizado por forças reacionárias de esquerda ou direita. E é possível que, sem pretender, acabe sendo uma manifestação contra Temer e seu Governo, no momento em que a economia começa a respirar, a inflação cai junto com os juros, começam a ser aprovadas reformas fundamentais nunca obtidas e os investimentos e empresários parecem voltar a respirar ares de confiança. Mas o que realmente pode arruiná-la é a ambiguidade dos seus verdadeiros objetivos políticos. E, desse modo, fracassará um protesto nacional, justo agora que o Brasil vive um momento delicado e os alarmes já começam a soar.

Vozes que merecem respeito alertam, por exemplo, que a crise política vivida pela sociedade, que primeiro se livrou da ex-presidenta Dilma e agora pretende fazê-lo com Temer, colocam o país à beira de uma crise social. O que aconteceu no Espírito Santo com a greve da polícia, deixando o horror de mais de uma centena de mortos e paralisando Vitória por uma semana, inclusive com cenas de guerra civil, é mais grave e perigoso do que imaginam os políticos que pareciam adormecidos. Rio, o terceiro estado mais populoso do Brasil, também começa a ficar em pé de guerra. E outros fogos poderiam se propagar. Volta a se estender a caravana dos pobres, desta vez duplamente castigados.

O Brasil, que conta com uma sociedade admirada em tantos lugares do mundo por sua capacidade de compreensão, marcada às vezes pela submissão frente ao poder, está hoje órfão de estadistas capazes de pensar um projeto que traga esperança e união para um país quebrado. Criticar os políticos, sim. Colocá-los em evidência também. Defender a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, sem dúvida. O que não se deve, pois é perigoso e explosivo, é jogar todo mundo na fogueira sem distinção. Não é terapêutico nem hermenêutico o grito de “todos os políticos são sem-vergonha”. Não são. Além disso, se demonizássemos a política como tal, restaria apenas a lei da selva e a barbárie.

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