Mudar o nome do PT para quê?
Mudar o nome do partido é como querer mudar o nome da lua
O Partido dos Trabalhadores (PT), criado pelo ex-torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva, está pensando em mudar de nome. Para quê? E como se chamaria?
A ideia é de alguns de seus dirigentes e foi amadurecida depois da reviravolta que o partido sofreu nas últimas eleições municipais, nas quais perdeu 63% de suas prefeituras devido em boa parte às acusações de corrupção que pesam sobre muitos de seus dirigentes, alguns atualmente presos.
O velho Lula, a quem se pode acusar de muitas coisas mas não de falta de olfato político para perceber para onde vira o vento, não deveria cair nessa armadilha.
Mudar o nome do partido é como querer mudar o nome da lua. O Brasil tem um exemplo notório de fracasso na mudança de nome de um partido, o antigo PFL, que se transformou em DEM, mas continuou sendo o mesmo. Resultado: dos 105 deputados que o PFL tinham em 1998, quando mudou de nome, em 2008 restaram 28.
A ideia de mudar o nome do PT, em plena crise, foi até objeto de piada. O site humorístico Sensacionalista pediu a seus leitores sugestões para possíveis novos nomes para o PT.
Os três primeiros foram, na mesma linha de humor:
- “Partido dos Amigos de Lula”
- “Partido da Corrupção”
- “Partido Não sabia de nada”
Um partido, quando já tem dificuldade de respirar e perde sua força original, tem duas saídas: ou dissolver-se e dar vida a uma nova força política para experimentar melhor sorte, ou dar marcha ré e voltar a suas origens, levando a cabo sua refundação.
Foi essa a solução proposta por Lula no ano passado, durante um discurso, pronunciado na sede do Instituto que leva seu nome, com a presença do socialista Felipe González, ex-presidente do governo da Espanha. Não sei se ainda mantém essa ideia.
Depois de dizer, usando seus célebres pleonasmos, que o PT “é o exemplo mais glorioso da convivência democrática com a diversidade”, Lula reconheceu que “O PT vive um momento de cansaço”. E murmurou: “Como nós acreditávamos (na época) nos sonhos!”.
E hoje? Hoje, Lula confessou aos presentes ao ato: “Só se pensa em cargos, emprego, em ser eleito, ninguém trabalha de graça”.
Em uma entrevista ao EL PAÍS, o ex-sindicalista afirmou que o PT não nasceu “para ser como os outros, mas para agir de forma diferente”.
Foi como dizer que o drama vivido hoje pelo partido é que pretendia “não ser como os demais” e trazer novos ventos de uma utopia que, segundo seu chefe, se perdeu pelo caminho. O PT se tornou até mais igual que os outros.
Lula se diz católico e apoiado pela esquerda da Igreja. Em meio à tentação do partido de mudar de nome, Lula poderia recorrer à passagem de Mateus (9:16 ss) na qual, em briga com os fariseus, Jesus disse a seus discípulos: “Ninguém põe um remendo de pano novo em uma roupa velha”. E também: “Ninguém coloca vinho novo em odres velhos”.
É uma metáfora que deve fazer refletir os dirigentes que sonham, para ressuscitar o partido em dificuldade, usar a magia de mudar seu nome. Seria apenas querer derramar vinho novo em um odre envelhecido.
Melhor, talvez, a receita de refundar o partido, se é que ainda é possível. Voltar ao que fez com que o PT se transformasse um dia no partido de esquerda moderada mais importante da América Latina.
O PT e sua sigla já fazem parte, para o bem ou para o mal, da história política deste país. Mudar seu nome agora seria cair no pecado da apostasia.
Se o PT deixasse de ser e de se chamar “Partido dos Trabalhadores”, de quem seria? Dos banqueiros, dos empresários, da classe alta, dos satisfeitos com a vida? Ou dos que hoje sequer conseguem um trabalho ou, ainda com emprego, não conseguem chegar ao fim do mês sem dívidas?
O PT que quer mudar de nome está jogando, neste momento, nos bastidores do Congresso, para apoiar a candidatura à Presidência do Congresso de Rodrigo Maia, homem do PMDB e de Temer, a quem acusam de golpistas. Tudo isso para conseguir as migalhas de algum cargo na mesa da tal Câmara.
Mudar o nome do partido para isso?
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