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Grécia critica a falta de solidariedade da UE, enquanto o frio castiga os imigrantes

ONGs denunciam risco de milhares morrerem "congelados" e Bruxelas critica falta de preparo do país

Campo de refugiados a 86 quilômetros de Atenas, coberto pela neve.Vídeo: Muhammed Muheisen/AP | EL PAÍS VIDEO
María Antonia Sánchez-Vallejo

Com a Grécia transformada em um gigantesco campo de refugiados à intempérie – uma espessa capa de neve cobre a meia centena de instalações de abrigo –, a onda de frio polar que há dias castiga o leste da Europa colocou em sério risco de “morrerem congelados”, segundo denúncias de agências internacionais e ONGs, os mais de 62.000 imigrantes presos no país. De acordo com as denúncias, o frio polar já deixa um rastro de mortos por hipotermia, doentes de pneumonia e gripe e casos de pessoas com membros congelados, tanto na Grécia quanto em outros países dos Bálcãs.

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Nesta semana, a Comissão Europeia, o órgão executivo responsável pelos programas de ação da União Europeia, acusou Atenas de não ter se preparado convenientemente apesar das previsões meteorológicas. “A situação é insustentável... Precisamos ser claros: assegurar as adequadas condições de recepção e gestão dos centros de refugiados é responsabilidade primeira e fundamental do Governo grego”, atacou uma porta-voz da Comissão Europeia.

O Executivo de Alexis Tsipras se defendeu atribuindo à escassa solidariedade europeia e ao fracasso do sistema de cotas de recolocação de refugiados (Os membros da UE só cumpriram, em média, 10% de seus compromissos) a estadia forçada na Grécia, há meses e sem solução, de milhares de pessoas. O próprio ministro da Imigração grego, Ioannis Mouzalas, que semanas atrás se mostrava confiante sobre os preparativos necessários para a chegada do frio, reconheceu sua preocupação essa semana no Parlamento. “A situação nos hotspots (centros de detenção) é muito ruim. As condições nas ilhas são horríveis”, admitiu.

Um imigrante em um campo de refugiados em Belgrado.
Um imigrante em um campo de refugiados em Belgrado.ANDREJ ISAKOVIC (AFP)

Uma viagem de Mouzalas à ilha de Lesbos precisou ser suspensa na terça-feira pelo mau tempo, enquanto o Governo anunciava o envio à ilha do Egeu – principal porta de entrada à Grécia, e à UE, dos imigrantes vindos da Turquia – de um navio da Marinha, carregado de leitos de campanha e cobertores para 500 pessoas; um escasso alívio, de acordo com ativistas e ONGs, já que só em Lesbos existiam na segunda mais de 5.500 imigrantes em instalações com uma capacidade máxima de 3.500. Atenas volta a pensar na possibilidade de levar ao continente parte dos imigrantes das ilhas, ainda que essa medida, já proposta há meses ao se constatar o colapso dos centros das ilhas, suscita sérios receios em Bruxelas sobre a possibilidade de ser interpretada como um “efeito chamada” – pelo esvaziamento das ilhas – pelas máfias que traficam refugiados vindos da Turquia. Atenas não se pronunciou oficialmente sobre tal possibilidade em um momento em que Bruxelas defende a drástica queda (até 80%, em alguns casos) no número de chegadas desde o início do pacto UE-Turquia, em 20 de março.

Os centros de Atenas também não estão livres da ameaça meteorológica, como os de Elaionas – o primeiro construído pelo Governo grego, em agosto de 2015 – e Malakasa, velho aquartelamento também vencido pelo peso da neve; justamente, a heterogeneidade da tipologia dos centros (armazéns e fábricas abandonadas, quartéis e sítios em desuso, contêineres de mercadorias e simples armações de lona, como em Lesbos e Quios) complica a eficácia da ajuda.

Em Lesbos, sob a supervisão do Acnur (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados), centenas de solicitantes de asilo foram levados a hotéis dos hotspots, como Bruxelas denominava anteriormente os centros de detenção. Como afirma por telefone um porta-voz da Prefeitura de Mitilene, capital da ilha, “com a rede viária fechada durante dias, frequentes cortes de água e eletricidade, além de povoados isolados pela neve, a pressão sobre os serviços municipais é enorme”.

7.500 PESSOAS PRESAS NA SÉRVIA

A situação também é grave nos países da rota dos Bálcãs, fechada em março, mas que continua sendo percorrida, ilegalmente e levados pelos traficantes, por dezenas de imigrantes por dia. De acordo com a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), mais de 7.500 pessoas estão presas na Sérvia (contra as 6.000 que Belgrado se comprometeu com a UE a assumir), e somente 3.140 vivem em instalações adaptadas para o inverno. Em Belgrado, por volta de 2.000 jovens, principalmente afegãos, paquistaneses, iraquianos e sírios, dormem em edifícios abandonados à temperatura de 20 graus negativos. A provisão de ajuda humanitária pelas autoridades se reduziu drasticamente nos últimos meses. Várias pessoas morreram de hipotermia nas fronteiras da Sérvia e Bulgária.

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