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Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

Mais masturbação, com ou sem amor

Depois de voltar aos anos 1990 na política temerosa e tacanha, os aliados do Governo rogam pelo retorno do século XVIII

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A suruba como história do Brasil

Bromas à parte, como o Projeto de Lei 6.449/2016 do deputado federal Marcelo Aguiar (DEM-SP), as atividades masturbatórias merecem todo respeito e devoção. Quiçá um plano nacional de incentivo. Algo pedagógico e curricular, na linha do psicanalista austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), um bravo combatente contra a repressão ao prazer.

Em vez de campanhas publicitárias desastrosas — gente boa também mata! —, mais educação sexual no próximo ano letivo. Mate-me na mão, por favor. Vem comigo neste libelo de botequim, destemidas criaturas. Chega de retrocesso histórico. Depois de voltar aos anos 1990 na política temerosa e tacanha, os aliados do Governo, caso do legislador anti-gozo em questão, rogam pelo retorno do século XVIII.

Neste período, lembra a minha amiga Regina Navarro Lins, psicanalista e escritora de mancheia, até a ilustradíssima Europa se estrebuchava contra a prática do onanismo. O gênio Rousseau, pasme, definiu a punheta como uma doença grave. Não havia “contrato social” que desse jeito na parada.

Corta para 2017. Parlamentices à parte, debatíamos o tema no último programa Papo de Segunda (canal GNT), quando a tela enrubescida exibiu um twitter de uma telespectadora que dizia ter nojo da masturbação. A palavra era nojo, repito. Nosso arrojado mediador Marcelo Tas, com uma maõzinha da atriz Mônica Martelli, devem ter convencido a jovem a mudar de ideia. Espero.

Medo do brinquedo

A vergonha e o medo de se tocar ainda existe, rapazes e raparigas. No que lembro de uma pesquisa de 2010 reveladora: 78% das brasileiras rejeitavam a siririca — adotemos o glossário popular de uma vez por todas.

Nada estranho no país em que o machismo puxa o gatilho e o machão ainda acha que o vibrador da mulher ainda é o seu inimigo dentro de casa. Corno de um inocente e delirante brinquedinho, ora ora? Seja homem e junte-se à moça nas fantasias e prazeres. Libera. Você vai curtir.

Pelo direito bíblico dos jovens Onãs, caríssimo e desocupado parlamentar. Duvido que o papa Francisco entenda tal “desordenado gesto” (registrado no Catecismo da Igreja Católica) como pecado. Sem o dito ato carnal e recreativo, o que seriam dos seminários e dos conventos? Relaxa.

Corta para a Matriz de Nossa Senhora das Dores, Juazeiro do Norte. Na confissão para a Crisma, entreguei o jogo ao padre Murilo, anos 1970: “Andei pensando desordenadamente na minha vizinha Neidinha”. Ele perdoou, óbvio, sabia das coisas da vida.

Viagem literária

Pulemos, pois, o muro moral e dogmático dos reprimidos e repressores. Chegou aquele momento em que esta coluna fornece o mote ilustrado para a discussão no boteco no final de semana. A fonte é o livro O amor de mau humor (Companhia das Letras), editado e traduzido por Ruy Castro:

“O que eu gosto na masturbação é que você não tem de dizer nada depois” (Milos Forman).

“Masturbação! É impressionante como ela está sempre disponível!” (James Joyce).

[Quando lhe perguntaram por que dera o nome de Onan a seu canário]: “Porque ele despeja suas sementes pelo chão.” (Dorothy Parker).

“No século XIX, a masturbação era uma doença; no século XX, é uma cura.” (Thomas Szasz).

“Punheta satisfaz, mas não convence.” (Marcos de Vasconcellos).

“Onanismo: perversão sexual que consiste em somente ter relações com um fanho.” ( Luís Fernando Veríssimo).

Ih, faltou aquela do Woody Allen. Sim, ainda é a melhor forma de fazer amor com a pessoa que você mais ama.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor do Catecismo de Devoções, Intimidades & pornografias (Editora do Bispo), entre outros livros.

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