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Coluna
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Barraco amoroso de Réveillon

Os barracos de Réveillon são fatais. Atire a primeira roupa branca na maré aquela criatura que nunca brigou por amor na virada de ano

Os barracos de fim de ano são capazes de causar até pousos forçados de aviões, como aconteceu esta semana com o voo 950 da American Airlines que seguiria de São Paulo a Nova York. A briga de um casal obrigou o piloto a fazer uma escala inesperada em Brasília. Este tipo de pane seca no amor é bem mais comum no período de festas e viagens de dezembro e janeiro. Por terra, mar e ar, todo cuidado é pouco, pombinhos.

Fiéis deixam flores e oferendas para Iemanjá na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no último dia 29.
Fiéis deixam flores e oferendas para Iemanjá na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no último dia 29. Silvia Izquierdo (AP)

Em um 2016 marcado pela treta política na família, na firma e no boteco, a D.R. crepuscular tende a fazer estragos nunca dantes. Escute um bom conselho, que te dou de graça: melhor deixar a discussão de relacionamento para o retorno aos lares doces lares. Qualquer debate a essa altura tende a virar balanço em vermelho e uma lavagem de roupa suja longe do alcance de qualquer adorável lavanderia da praça.

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Tergiverse, Lola, tergiverse, jamais discuta, corra léguas submarinas do bate-boca. Mesmo que você seja especialista em ganhar um embate polêmico sem ter razão alguma, mesmo que você manje da arte de eliminar o adversário no ringue dos golpes baixos.

Os barracos de Réveillon são fatais. Atire a primeira roupa branca na maré aquela criatura que nunca brigou por amor na virada de ano. Lembro a vez em que presenteei Iemanjá com um sapato de couro de cobra très chic sobre as ondas de Ipanema, depois de um arranca-rabo sentimental apocalíptico. Seria o começo do fim de um amor de três verões. Voltei descalço direto para a primeira ponte-aérea. Acabou chorare, adeus, está tudo lindo.

Um segundo a mais

Todo cuidado é pouco no apagar das luzes deste maldito 2016 cuja soma dos números dá em noves fora zero. Como se não bastasse, o ano terá um segundo a mais no relógio -para compensar a rotação da Terra ou seja lá que diabo for no entendimento dos cientistas. Até esse segundo extraordinário pode ser cruel. Um piscar de olho errado e, danou-se, está feito o inferno na madrugada festiva.

Um segundo é o tempo que o demônio carece para pulverizar com o enxofre do ciúme um ambiente celebrativo. A fração exata de um flerte ou de um sorriso de maldade. Eis a desgraça do casal inseguro. Daí ao desatino é mais fácil e rápido do que pular sete ondinhas de Copacabana.

Fica terminantemente proibida a D.R. crepuscular deste 2016. Que 2017 lhe seja leve

O fim do ano deixa os casais infinitamente mais sensíveis. Não importa o status amoroso. Pode ser um relacionamento de cinco, seis anos, ou um rolo recente que decide arriscar um Réveillon de última hora —mesmo sob a suspeita de que ainda era cedo para uma viagem. A ideia de paraíso praieiro na Bahia, por exemplo, constrói uma obrigação dos diabos de uma certa —fingida ou não— felicidade. Nem que seja felicidade de Facebook.

Ah, chega de teoria confusa. O amor não se discute, se pratica. Pelo menos neste período de festas. Fica terminantemente proibida a D.R. crepuscular deste 2016. Que 2017 lhe seja leve.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de O Livro das Mulheres Extraordinárias (editora Três Estrelas), entre outros livros. Comentarista de televisão nos programas Papo de Segunda (GNT) e Redação Sportv.

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