Leia, a princesa que nunca precisou ser resgatada
Carrie Fisher sempre será lembrada por interpretar uma mulher forte e independente
Todas as meninas da minha geração sonhavam em ser princesas. Queríamos ser bonitas e etéreas. Viver em palácios e usar roupas bonitas. Pedíamos a nossos pais que comprassem vestidos esvoaçantes e bonecas loiras que também usavam vestidos vaporosos. E, acima de tudo, queríamos entrar em muitos apertos para que algum dia um príncipe bonito e valente viesse nos salvar e nos fazer felizes. No final, todas sabiam que as histórias de Cinderela, Branca de Neve e a Bela Adormecida terminam quando se casam, e seus príncipes tinham conseguido livrá-las das maquinações maquiavélicas de suas inimigas que, claro, também são mulheres. Nas histórias de nossa infância, uma mulher só podia ser uma princesa indefesa ou uma bruxa má.
E então chegou Leia.
Era uma princesa, mas não era uma princesa como as outras. A primeira vez que a vemos, consegue enganar Darth Vader (que, em poucos segundos, deixava claro que devíamos temê-lo mais que qualquer outro vilão da história do cinema), e consegue colocar a salvo os planos da Estrela da Morte que os rebeldes devem destruir. Mais tarde, enfrenta corajosamente as torturas às quais é submetida. E depois, aguenta estoicamente a decisão do malvado governador Tarkin (Peter Cushing) de explodir seu planeta, acabando assim com tudo que conhece e ama. Em vez de ser vencida pela dor, Leia consegue resgatar os desajeitados que vieram em seu auxílio, e até encontra tempo para consolar o jovem Luke Skywalker por ter perdido seu mentor, Obi Wan Kenobi, embora ninguém pensaria em consolá-la por ter perdido um planeta inteiro.
Em Star Wars, Leia mostra que uma princesa, que uma mulher, pode ser inteligente, astuta, forte, poderosa, independente, engraçada, mordaz. Em O Império Contra-Ataca, além disso, mostra que pode ser líder de toda uma galáxia e se apaixonar não pelo herói, mas pelo canalha. E em O Retorno de Jedi, embora seja certamente o filme mais fraco da trilogia, Leia mostra mais uma vez sua força e valentia ao resgatar seu amor Han Solo, que continuaria congelado se não fosse por ela, e afogar com uma corrente a espécie de lesma que se atreveu a colocar um biquíni nela.
Tudo isso foi Leia para muitas garotas. Ela mostrou que as princesas, que todas as mulheres, podem ser corajosas, inteligentes, brilhantes e poderosas a ponto de salvar galáxias. Mas tudo isso e muito mais era Carrie Fisher, que foi ainda mais corajosa do que a própria Leia: é preciso ser extremamente valente para admitir que você é fraca.
A morte de Carrie Fisher deixou uma enorme perturbação na força. Mas Leia Organa continuará viva, sempre, para que todas as crianças do mundo saibam que todas as mulheres, que qualquer mulher, pode ser mais do que apenas uma princesa bela e indefesa ou uma bruxa má.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
¿Tienes una suscripción de empresa? Accede aquí para contratar más cuentas.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.