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Netanyahu culpa o terrorismo pela catástrofe dos incêndios florestais

Com o envio de quatro hidroaviões, Espanha junta-se aos países que ajudam Israel a debelar as chamas

Juan Carlos Sanz
Bombeiros palestinos ao lado de um militar israelense.
Bombeiros palestinos ao lado de um militar israelense.JACK GUEZ (AFP)

As autoridades israelenses anunciaram, na manhã desta sexta-feira, o controle dos principais focos de incêndio que obrigaram a evacuação, na quinta, de dezenas de milhares de moradores da cidade de Haifa, onde cerca de 700 casas foram atingidas. Impulsionadas pelo forte vento, as chamas ainda ameaçavam zonas rurais dos arredores de Jerusalém, como Beit Meir, onde quase não choveu no inverno passado. Com mais de 200 focos em todo o país, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirma que alguns dos incêndios foram intencionais e acusa o terrorismo – sem dar maiores detalhes – de ser o causador da tragédia. No Estado judeu, onde a noção de terror nacionalista costuma estar relacionada com a violência palestina, as palavras de Netanyahu provocaram a ira dos árabes israelenses, que são quase 20% da população e que, em grande parte, residem perto das áreas queimadas.

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Nas últimas horas, a polícia israelense deteve 12 suspeitos de causar os incêndios. Alguns foram surpreendidos enquanto colocavam fogo em arbustos; outros, quando fugiam de florestas em chamas. O Exército também prendeu um palestino que tentava acender um fogo perto do assentamento de colonos judeus de Kochav Yaakov, no território da Cisjordânia ocupado por Israel em 1967.

O ministro da Segurança, Gilad Erdan, afirmou na véspera que metade dos incêndios havia sido intencional. Erdan se referiu a “minorias nacionalistas” como prováveis responsáveis pelos incidentes. O ministro da Educação, Naftali Bennett, também culpou o “terrorismo nacionalista” pela onda de incêndios. “Não foi uma coincidência. Seu objetivo é matar civis e gerar pânico”, afirmou.

Especialistas em terrorismo consultados por The Jerusalem Post consideram que falar de “Intifada do fogo” não tem fundamento. “Ainda que grande parte dos incêndios tenha sido intencional, não se trata de uma campanha organizada e nenhum grupo terrorista assumiu a responsabilidade”, disse Boaz Ganor, diretor do Instituto Internacional Antiterrorismo.

Interior de uma casa incendiada.
Interior de uma casa incendiada.Reuters

“Espero que deixem de jogar lenha no fogueira. A situação não está tão clara como afirmam”, advertiu, por sua vez, o líder da oposição israelense, o trabalhista Isaac Herzog. O deputado Ayman Odeh, chefe do bloco Lista Árabe Conjunta, que conta com 10 assentos na Knesset (Parlamento), acusou o Governo de tentar aproveitar a catástrofe natural para incitar o ódio contra a minoria árabe do país. Netanyahu precisou mais suas declarações nesta sexta: “Os responsáveis desse terrorismo incendiário, protagonizado por indivíduos com grande hostilidade contra Israel, pagarão o preço de suas ações. Ainda não podemos afirmar que se trate de um movimento organizado, mas podemos ver que há vários grupos operando.”

Após a evacuação de quase um terço dos 250.000 habitantes da cidade portuária de Haifa (incluindo os estudantes do campus tecnológico Technion e os detentos das penitenciárias ameaçadas pelas chamas), os moradores voltavam para casa na tarde de sexta. Os incêndios ocorrem quase seis anos depois dos devastadores fogos florestais que deixaram 44 mortos e destruíram a reserva natural de Monte Carmelo. Na ocasião, Netanyahu culpou os governos anteriores pela falta de recursos na luta contra o fogo e prometeu um plano de medidas contra incêndios.

O jornal Haaretz recordou que um projeto, com um orçamento de 50 milhões de euros (180 milhões de reais), para instalar barreiras contra incêndios nas áreas habitadas perto das florestas – inspirado na normativa espanhola –, espera aprovação do Ministério do Interior há dois anos. Num artigo de opinião, o jornal perguntava também sobre um plano anunciado pelo Governo em 2010 para equipar com novas aeronaves os serviços de combate a incêndio “Netanyahu permanece agora como um mendigo pedindo ajuda aos nossos vizinhos”, dizia o texto, assinado por Amir Oren.

Na noite de quarta-feira, o presidente israelense pediu ajuda internacional para lutar contra as chamas. Cerca de 10 países responderam até agora. Rússia e Estados Unidos enviaram algumas das maiores aeronaves contra incêndios do mundo. Nações como Chipre e Azerbaijão também colaboraram. A Espanha enviará quatro hidroaviões Canadair para ajudar a debelar os focos. Egito e Jordânia, os únicos países árabes que assinaram um tratado de paz com Israel, comprometeram-se a mandar veículos aéreos e terrestres. A Autoridade Palestina também mobilizou, com a autorização de Israel, quatro de suas brigadas nas zonas de Haifa e Jerusalém. Os 41 bombeiros palestinos trabalham lado a lado com os serviços de emergência das forças de segurança israelenses.

A angústia de um futebolista espanhol e sua família

LOURDES BAEZA

Desde a quinta-feira passada, em Haifa, quase todos só pensam nas horas de angústia que passaram devido aos incêndios que obrigaram a evacuação de boa parte da cidade. Entre os afetados, estava o jogador de futebol espanhol Marc Valiente, defensor do Maccabi Haifa, surpreendido pelo fogo em pleno treino. “No início vimos fumaça na montanha, mas não demos importância. Quando acabamos de treinar, já se viam perfeitamente as chamas e começamos a pensar que podia ser grave”, diz ele da cidade portuária de Ashdod, onde o clube está concentrado.

O coração de Marc disparou minutos depois, quando ligou o celular e encontrou diversas chamadas perdidas da esposa, Miriam, e da creche do filho de três anos. “O fogo já estava muito perto da região onde moramos. Por segurança, tinham evacuado meu filho para um hospital da redondeza, mas minha mulher estava em casa e não podia ir ao hospital pelo motivo contrário: não a deixavam sair. Foi angustiante”, recorda o jogador.

O trânsito praticamente parado – uma das artérias principais da cidade precisou ser cortada pela proximidade das chamas – e a sensação inicial de caos aumentaram sua angústia, até que Marc pôde abraçar o filho, que se divertia vendo filmes e brincando no auditório do hospital. Duas horas mais tarde, o jogador foi autorizado a voltar para casa, embora com a advertência de que provavelmente a família seria evacuada de novo. “Era impressionante percorrer o caminho entre os fogos e ver tudo queimado. Para o meu filho foi tudo obra de um dinossauro, mas dava a impressão de que os focos tinham sido coordenados para rodear tudo. Felizmente, os israelenses agiram com muita rapidez”, afirma.

O clube reservou-lhe um quarto num hotel de Tel Aviv, mas Marc finalmente pôde voltar para casa com a mulher e o filho. “Tivemos muita ajuda dos vizinhos, que nos informavam sobre como prosseguiam as tarefas contra o fogo. Eu não entendia como podiam ficar tão tranquilos estando tão perto das chamas e com o forte vento que soprava. Definitivamente, estão acostumados a coisas que para nós não são normais”, diz ele.

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