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Guerra entre cartéis de drogas deixa 25 mortos no Estado mexicano de Guerrero

Em apenas algumas horas apareceram 12 corpos desmembrados nesse Estado do sul do México

Pablo Ferri
Membros de um grupo de autodefesa de Teloloapan a caminho de um protesto contra o cartel de La Familia, em janeiro.
Membros de um grupo de autodefesa de Teloloapan a caminho de um protesto contra o cartel de La Familia, em janeiro.JOSÉ I. HERNÁNDEZ (CUARTOSCURO)

Sempre prestes a explodir, o Estado de Guerrero, no sul do México, parece se preparar todo fim de semana para o desenlace final. Como se o horror dificilmente pudesse ser superado, como se desta vez fosse tão terrível que nada pior poderia acontecer. E, no entanto, aconteceu. Na noite de domingo, funcionários da procuradoria estadual recolheram os restos mortais de 12 pessoas em diferentes pontos do Estado. Restos, pois os corpos estavam despedaçados. O delegado do Governo federal na região, Roberto Álvarez, não se lembra de uma contagem similar. Mortos sim, mas em pedaços... As autoridades recolheram 11 cadáveres em Acapulco durante o fim de semana, entre eles os de dois marinheiros. A conta fecha com dois outros assassinatos em duas cidades no norte do Estado, na região de Tierra Caliente.

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Em primeiro lugar, os restos de três pessoas apareceram em uma comunidade de Teloloapan, precisamente na região de Tierra Caliente. Eram os ferreiros que um grupo de criminosos tinha sequestrado no início do mês. Ao lado dos corpos, deixaram dois bilhetes. Em ambos, os signatários explicam com alguma ironia que não os libertaram antes porque eles andavam “ocupadinhos”.

O sequestro dos ferreiros causou tensão na região. A polícia comunitária de Teloloapan denunciava há meses o líder do cartel de La Familia na região, Johnny Hurtado Olascoaga, conhecido como El Pescado. O cartel de La Familia, entretanto, adverte à sua maneira que os grupos de autodefesa de Teloloapan e a polícia da localidade são na verdade uma célula dos Guerreros Unidos. De fato, assim explicaram nas mensagens deixadas ao lado dos cadáveres dos ferreiros.

No Sul do Estado, do outro lado de Chilpancingo, a capital, funcionários da promotoria encontraram nove corpos com sinais de tortura perto de Tixtla. Quatro estavam com pés e mãos amarradas e cinco cortados em pedaços, dentro de sacos pretos. As autoridades também encontraram mensagens junto aos corpos, mas seu conteúdo não foi divulgado.

Tixtla é uma das cidades mais importantes da região central. Lá fica a escola que frequentavam os 43 alunos desaparecidos em setembro de 2014. De acordo com informações oficiais, dois bandos de criminosos disputam o território na região, Los Rojos e Los Ardillos. O primeiro está baseado na capital e nas cidades vizinhas, o segundo em Chilapa, ao sul.

Enquanto isso, sete pessoas permanecem sequestradas além de Teloloapan, em Tierra Caliente. Na quinta-feira passada, um comando armado raptou dez pessoas do povoado de San Gerónimo, em Ajuchitlán, perto da fronteira entre o Estado do México e o de Michoacán. No domingo, três delas apareceram com vida, incluindo um menor de idade. Roberto Álvarez explicou que se trata do grupo de Los Tequileros. “No início, não sabíamos, mas logo os sequestradores entraram em contato com as famílias e começaram a pedir dinheiro. Pedem valores entre 50.000 e 100.000 pesos (8.300 e 16.600 reais, aproximadamente)”.

Los Tequileros agem nas comunidades de outro povoado da região, San Miguel Totolapan. Em janeiro já realizaram um sequestro em massa. Levaram 22 pessoas que estavam indo para um casamento e, dias depois, sequestraram cinco professores de uma escola de Ajuchitlán. Todos apareceram com vida, menos dois.

Na ocasião e agora Los Tequileros culpam Johhny Hurtado Olascoaga por suas ações. Em vídeos divulgados nas redes sociais, acusam as autoridades de protegê-lo. El Pescado, segundo eles, é o culpado pela insegurança na região e pelo fim das exportações de minério, uma das mais importantes fontes de emprego da região.

Em qualquer caso, o fundo dessas ações é um absoluto mistério. Ou quase. Há um ano, um dos supostos líderes dos Guerreros Unidos detido pelo caso dos 43 estudantes, Sidronio Casarrubias, declarou que El Pescado extraía urânio das minas de Tierra Caliente e levava a mercadoria até o porto mais importante de Michoacán, Lázaro Cárdenas; que seu parceiro nessa empresa é o argentino Carlos Ahumada, um personagem polêmico, acusado de fraude, que esteve na prisão na Cidade do México há alguns anos por esse motivo. Disse também que Ahumada mandava a mercadoria para a China a partir de Michoacán. É curioso que o ex-líder do La Familia, José María Chávez Magaña, tenha dito o mesmo sobre El Pescado e Ahumada em sua declaração às autoridades quando foi preso, há pouco mais de dois anos.

Além da história das regiões de Guerrero, de quem e por que, o Estado do sul fechará o ano com um recorde absoluto no registo de assassinatos. No fim de outubro, as autoridades já contavam 1.832 homicídios dolosos, número inferior apenas ao do Estado do México, cuja população é três vezes maior que a de Guerrero. Se a tendência continuar, a região terminará um ano fatídico superando qualquer registro desde que o PRI voltou ao poder, em 2012.

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