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FMI aplaude as “ambiciosas reformas” de Mauricio Macri e pede a ele que baixe o déficit

O primeiro relatório depois de 10 anos de ruptura ataca o kirchnerismo e elogia o novo Governo

Federico Rivas Molina
A diretora do FMI, Christine Lagarde, durante uma conferência em Washington o 3 de novembro.
A diretora do FMI, Christine Lagarde, durante uma conferência em Washington o 3 de novembro.AFP

O Fundo Monetário Internacional (FMI) abriu seus braços para a Argentina. Depois de uma década de desentendimentos com o kirchnerismo, a instituição emitiu agora um relatório da situação cheio de elogios à gestão econômica de Mauricio Macri e com críticas ao governo anterior. “O avanço obtido em 2016 é importante”, diz o texto elaborado pela missão fiscalizadora que, pela primeira vez em 10 anos, visitou Buenos Aires em setembro passado. “Os diretores elogiaram as ambiciosas reformas empreendidas pelo novo governo para estabelecer um marco de política econômica mais estável e sustentável”, diz o texto divulgado pelo FMI, que também adverte que “continuar cortando o déficit fiscal é uma prioridade importante”.

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O governo de Macri se colocou como meta encerrar 2016 com déficit fiscal primário equivalente a 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e reduzir esse índice a 4,2% em 2017. Até o momento, conseguiu financiar essa diferença com emissão de dívida externa. O FMI comemorou a decisão de reduzir o déficit, sobretudo a partir da redução dos subsídios “mal focalizados e distorcidos” para a energia, com o que o kirchnerismo manteve baixas as tarifas dos serviços públicos. Também destacou “a racionalização dos gastos públicos, incluídos os salários” dos funcionários do Estado.

“A solução pactuada com os credores tornou possível a volta dos mercados internacionais de capital, tanto para o setor público como para o privado. Foram anunciadas metas fiscais e de inflação em médio prazo em conjunto com uma transição para um sistema moderno de metas de inflação. Por último, está se reconstruindo a instituição encarregada das estatísticas nacionais, o que permite a publicação de dados melhores e mais fidedignos”, resumiu o FMI ao enumerar o que considerou as principais realizações econômicas de Macri.

O FMI disse que as reformas empreendidas pelo novo governo são corretas, mas que necessitam de tempo para mostrar resultados concretos. “A tarefa de remediar um legado de graves desequilíbrios macroeconômicos, distorções microeconômicas generalizadas e fraqueza institucional levará tempo, mas [os diretores] reforçaram o importante avanço obtido pelas autoridades.” Os elogios não se limitaram à questão econômica. O relatório elaborado em setembro também destacou que “durante os últimos meses, as reformas estruturais avançaram no âmbito da governabilidade, da luta contra a corrupção, das políticas de concorrência e da infraestrutura do mercado financeiro”, apesar de ter lembrado que “persistem gargalos do lado da oferta que poderiam impedir um aumento mais rápido do investimento privado e da produtividade”.

A luta contra a inflação, hoje em torno de 40% anuais, também recebeu elogios. “Ao garantir a credibilidade da moeda – em particular estabelecendo uma mensagem clara de estabilidade de preços ao banco central e garantindo a independência operacional, ao mesmo tempo em que elimina o financiamento monetário do déficit – os custos econômicos e sociais da desinflação se tornam mais leves”, diz o FMI em seu texto.

Sem sanções

Os elogios do FMI à guinada no sentido da ortodoxia econômica feita por Macri chegou 24 horas depois de outra boa notícia para a Argentina. A instituição decidiu suspender definitivamente a sanção que pesava sobre o país sul-americano pela manipulação das estatísticas oficiais ocorridas nos últimos anos do kirchnerismo.

Era uma decisão esperada depois que o Governo reorganizou por completo o centro de estatísticas, o INDEC, que começou a oferecer dados muito duros sobre a economia argentina que antes ocultava, como a existência de 32% de pobres. O FMI, segundo comunicado oficial, se reuniu para analisar o caso argentino e, em especial, os dados sobre inflação, que deixaram de ser críveis a partir de 2008, quando o kirchnerismo interveio politicamente no INDEC.

Em seu último relatório, divulgado na própria quinta-feira, dia 10, o INDEC apresentou dados do IPC correspondentes ao mês de outubro. Depois de dois meses de inflação moderada (0,2% em agosto e 1,1% em setembro), os preços voltaram a subir 2,4% no mês passado, alavancados pela alta do preço do gás.

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