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Após 10 anos ausente, FMI conclui seu regresso à Argentina com aplausos a Mauricio Macri

O diretor para o hemisfério ocidental do organismo destaca “avanços muito importantes”

Carlos E. Cué
Mauricio Macri recebe o visto de aprovação do Fundo Monetário Internacional.
Mauricio Macri recebe o visto de aprovação do Fundo Monetário Internacional.EFE

Durante os primeiros meses do Governo de Maurico Macri se multiplicam os apoios internacionais e os aplausos por sua decisão de voltar à ortodoxia econômica e recuperar a relação da Argentina com todos os órgãos econômicos internacionais mais importantes. O mais destacado e durante anos mais o mais polêmico de todos, o Fundo Monetário Internacional (FMI), conclui seu reencontro com a Argentina com a primeira visita oficial após 10 anos da ruptura total decidida pelos Kirchner. E essa viagem se conclui, por enquanto, com grandes aplausos à mudança econômica de Macri. “Temos uma visão positiva do que está ocorrendo na Argentina”, disse em Buenos Aires Alejandro Werner, diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental.

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O fundo está aparentemente entusiasmado com a mudança de Macri, mas parece abaixar um pouco seu tom entusiasta precisamente porque, apesar de sua imagem ter melhorado nos últimos anos, o FMI continua tendo um passado na Argentina e em toda a América Latina que o transformou, aos olhos de milhões de latino-americanos, em um dos responsáveis pela grande crise dos anos 90. Mas a Argentina está mudando tanto nos últimos meses que uma visita do FMI já não é tão polêmica como se poderia imaginar. A passagem da missão, que durante 10 dias se reuniu com quase todas as referências econômicas do Governo e de instituições privadas, foi muito mais discreta do que o previsto. Durante 10 anos não pisaram na Argentina, e agora que o fazem pela primeira vez sequer houve muito escândalo.

Werner apoiou Macri claramente, mas tentou evitar polêmicas. Não quis entrar na possibilidade de que o ajuste realizado pelo presidente com o apoio do fundo e de muitos outros tenha sido muito duro, como evidencia o dado oficial publicado na quarta-feira: a pobreza na Argentina chegou a 32%, um número enorme em um país historicamente rico e somente superado em 2001, quando a economia explodiu e a pobreza superou os 50%. Werner disse que era um dado muito recente e o FMI ainda não pôde analisá-lo, mas disse que o fundo está de acordo com os dados trabalhados pelo Governo de Macri, que demonstram que nos meses finais de 2016 se verá uma leve recuperação e em 2017 ocorrerá um crescimento importante. O FMI já rebaixou há dois meses as perspectivas para a Argentina, e toda a América Latina em geral, pela queda da economia mundial. Mas Werner acredita que as reformas feitas por Macri darão frutos no futuro.

O que o preocupa mesmo é que o esforço para reduzir a inflação venha a frear a economia. “Vimos em outros países processos similares, e não se consegue baixar a inflação a um dígito em pouco tempo, costumam ser quatro ou cinco anos. O importante é que se faça isso levando em conta os impactos na economia real, para que a redução da inflação seja acompanhada de uma reativação econômica importante”. Mas a mensagem era de apoio total a Macri: “Acreditamos que, com as mudanças que estão tendo lugar, a Argentina tem as características para impulsionar nos próximos anos um processo de investimento lento, mas muito importante. A Argentina se beneficia do grande apetite mundial por investimentos com um retorno maior ao visto em outras partes do mundo”, afirmou.

A Argentina ainda não regressou totalmente ao FMI, e persiste uma espécie de moção de censura sobre os dados oficiais deste país, após anos de manipulação das estatísticas por parte do Governo kirchnerista, o que levou o Fundo a parar de usar essas informações. Para que voltem a ser levadas em conta, o Executivo de Macri fez um profundo processo de reorganização de todo o INDEC, o órgão governamental de estatísticas, que o FMI está fiscalizando. “A direção já se expressou há alguns meses de maneira muito favorável com relação às estatísticas, vimos avanços muito importantes na reestruturação do INDEC. Vemos indicadores muito satisfatórios, e em novembro haverá uma nova reunião para avaliá-los”, comentou Werner, que prepara assim o terreno para que a Argentina volte para todos os efeitos a ser um membro pleno do FMI

De fato, a Argentina havia se tornado um dos dois únicos países da América Latina, junto com a Venezuela, excluído do artigo 4º. do estatuto do FMI, que dita as regras para analisar os dados. É também o único membro do G-20 que está nessa situação anômala, agora prestes a ser corrigida. Mais de 180 países do mundo aceitam estas regras básicas do FMI para elaborar estatísticas, e os que estão fora são na sua maioria ditaduras ou Estados falidos ou em guerra, como Eritreia, Síria e Coreia do Norte. Até mesmo o Equador, que saiu temporalmente, decidiu voltar por decisão do presidente Rafael Correa.

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