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Agora, Serra diz que não teve pesadelo com eleição de Donald Trump

Chanceler suaviza declaração contra eleito e diz esperar que o republicano suavize suas propostas

O ministro José Serra, nesta quarta-feira.
O ministro José Serra, nesta quarta-feira.ANDRESSA ANHOLETE (AFP)

Depois de ter dito em uma entrevista em julho passado que a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos seria um pesadelo, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, amenizou sua declaração e afirmou nesta quarta-feira que o seu pesadelo não se concretizou, porque ele ainda não dormiu. Conhecido por ser notívago, Serra passou a noite acordado acompanhando a apuração das eleições americanas e em contato com o embaixador brasileiro em Washington, Sergio Amaral.

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“Não foi pesadelo, porque eu passei acordado. A gente só tem pesadelo dormindo. Agora, tendo o resultado da eleição em um sistema democrático, nós vamos olhar o interesse do nosso país. E fazer votos para que ele [Trump] se saia bem e abra posições positivas em relação ao mundo, à América Latina e ao Brasil”, disse.

Em declaração à imprensa, o chanceler brasileiro disse que Amaral está elaborando um plano de relacionamento para tratar com a equipe de transição do presidente eleito e recorreu ao futebol para afirmar que ele espera que a gestão Trump não seja tão radical e deixe de cumprir algumas das propostas extremistas apresentadas na campanha. “Em respeito daquilo que foi dito em campanha, seja pelos candidatos, seja pelos observadores políticos do mundo inteiro, eu lembraria uma frase do Didi: ‘Treino é treino, jogo é jogo’. Treino é campanha. O jogo começa agora.” A fala é uma referência ao jogador de futebol Valdir Pereira (1928-2001), um habilidoso meia carioca, bicampeão mundial com a seleção brasileira nos anos de 1958 e 1962.

Um dos pontos que o ministro brasileiro espera que Trump não leve a cabo é o protecionismo comercial de produtos norte-americanos. O republicano, na campanha, também afirmou que, se eleito, construiria um muro na fronteira com o México e que proibiria a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.

Decisões eleitorais e alfinetada

Serra ressaltou ainda que as decisões eleitorais têm de ser cumpridas. “Nas democracias, as decisões do eleitorado se respeitam e se cumprem. Não apenas por aqueles que são eleitos, mas também para aqueles que estão ao lado, como países, como instituições”.

O ministro é filiado ao PSDB, partido de Aécio Neves, que foi derrotado por Dilma Rousseff (PT) em 2014. A sigla foi à Justiça Eleitoral logo após os resultados naquele ano questionando os números e as urnas eletrônicas. Em outro movimento, também acusou o PT de abuso de poder e do poder econômico na campanha, uma ação ainda pendente de decisão final. Para os apoiadores de Rousseff foi a inconformidade com os resultados que levou o Aécio a apoiar o impeachment meses depois. Instado por uma repórter a comparar a eleição presidencial americana com a brasileira, Serra se negou a fazer essa análise: “Isso vai muito longe. Isso é bobagem, sinceramente”.

Por meio de suas redes sociais, Rousseff mandou indiretas ao Governo de seu sucessor, Michel Temer (PMDB). “A tradição de um democrata é reconhecer a derrota, e não articular um processo golpista de impeachment sem medir as consequências para o seu país”, disse ela no Twitter. E continuou: “Os líderes americanos, apesar dos ânimos acirrados, respeitam os resultados eleitorais, como define a Constituição dos EUA”.

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