O quase de Fernando Haddad
Arrancada final do petista não foi suficiente. Desfecho é desalento em especial para o PT
Foi uma campanha que começou melancólica e acabou da mesma maneira para o petista Fernando Haddad, exceto pelos últimos dias de mobilização espontânea e avanço nas pesquisas. O interlúdio fez crescer no próprio prefeito de São Paulo e em seus apoiadores a esperança de que professor de ciência política da USP, na maior parte do tempo em quarto lugar nas intenções de voto, pudesse, ao menos, chegar ao segundo turno contra o agora eleito João Doria Jr.. “Temos a convicção de que esse legado para o futuro de São Paulo é importante discutir. E, mesmo na eventualidade de derrota em um segundo turno, a cidade teria ganho em termos de aprendizado, que esse projeto pudesse ser defendido em igualdade de condições. Mas não tivemos essa oportunidade”, lamentou Haddad, alçado à prefeitura há quatro anos como "novo" na política e como esperança de renovação de um PT já em crise.
Haddad até conseguiu chegar em segundo lugar na disputa, ultrapassando Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB). No final de agosto, aparecia com três pontos a mais que o rival Doria, com 8% das intenções de voto, ele crescia muito lentamente nas sondagens -na véspera da votação, aparecia com 16% dos votos válidos segundo o Datafolha, bem próximo do índice que conseguiu nas urnas, 16,7%. Foram números modestos. Se no primeiro turno de 2012 ele teve 1.776 milhão de votos e, no segundo, 3,387 milhão, agora ele não passou a barreira de um milhão em um colégio eleitoral de 8.886.195 eleitores. A marca, de 967.056 votos, é bem mais baixa do que o número de votos não úteis na eleição de São Paulo, que aumentou em relação a 2012. Foram 367.471 votos brancos, 788.379 nulos e 1.940.454 abstenções. Somados, esses votos perdidos chegam a 3.096.304 votos, mais do que teve o próprio Doria (3.085.187) ou 34,84% do colégio eleitoral.
Haddad era rejeitado na periferia, um reduto incontestável do PT até as últimas eleições. Foi afetado pela imagem do partido, abalada pela Operação Lava Jato e pelo impeachment de Dilma Rousseff, e pelo descontentamento da população com crise econômica e o aumento do desemprego, atribuídos à má gestão de Dilma Rousseff. O prefeito também foi castigado por não entregar promessas importantes para as áreas mais pobres, como os três hospitais (só um foi entregue e outros dois estão em construção) e os 20 CEUs (entregou um e outros 14 estão em construção). Era visto, pelos eleitores das franjas da cidade, como um governante para os ricos, diante de políticas urbanísticas como a implementação de ciclovias.
Na reta final, a campanha de Haddad se beneficiou de uma militância de esquerda espontânea que, assustada com a hipótese de um segundo turno entre dois candidatos conservadores, acabou trocando o voto em Luiza Erundina, no PSOL, e fazendo campanha na rua e nas redes sociais pelo prefeito. A mesma militância se reuniu na noite deste domingo no comitê de campanha de Haddad, na rua Augusta. A maioria era de jovens, que por jogral prometiam "resistir" ao que chamam de avanço conservador da cidade. Ao final do dia, a campanha de Haddad avaliava que errou ao não focar seus ataques também em Doria.
Ao encerrar seu discurso à imprensa e a apoiadores, o prefeito prometeu uma transição "à altura" dos desafios da cidade, "porque isso revela espírito público, respeito à democracia, respeito ao resultado das urnas e à vontade popular". "No que diz respeito à minha equipe, estaremos, a partir de amanhã, à disposição do prefeito eleito.”
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