Os cariocas levam Crivella e Freixo ao segundo turno
A disputa no Rio fica entre um ex-bispo evangélico e um ativista dos direitos humanos
Cerca de 4,89 milhões de cariocas decidiram neste domingo que Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) disputarão no segundo turno no Rio de Janeiro, no próximo 30 de outubro, a eleição à Prefeitura. Crivella conquistou 842.201 votos (27,78% do total), e Freixo teve o apoio de 553.424 eleitores (18,26%). O apoio à candidatura de Freixo confirma a tendência dos últimos anos que situa o PSOL como a alternativa de esquerda a um PT em crise. Nesse cenário de embate entre Crivella e Freixo no segundo turno, a última pesquisa de Datafolha do sábado previa uma vitória de apenas cinco pontos percentuais do candidato do PRB (42%) sobre o deputado estadual do PSOL (37%).
Na já considerada eleição mais disputada na cidade desde a redemocratização, Pedro Paulo (PMDB), o candidato do prefeito Eduardo Paes, ficou fora da eleição com 16,12% dos votos, apesar da máquina eleitoral do partido, do sucesso da Olimpíada, do capital político do seu padrinho e de ter sido o candidato com mais doações físicas do país (cerca de 7 milhões de reais). Após conhecer o resultado, Pedro Paulo, principal alvo das criticas de Crivella e Freixo, sugeriu que nenhum dos candidatos vai contar com seu apoio.
Crivella chega ao segundo turno mais debilitado que no início da campanha. O candidato do PRB terá que lidar com um índice de rejeição em ascensão – passou de 22% em 26 de agosto, segundo o Datafolha, a 31% na véspera da eleição. Após quatro candidaturas, a governador e prefeito, fracassadas no Rio é este precisamente seu principal desafio: manter o impulso do começo até o fim da eleição.
Mas Crivella têm a seu favor a população evangélica (cerca de 24% dos cariocas) e o apoio da TV Record, propriedade de Edir Macedo, bispo e fundador da Igreja Universal e tio de Crivella. Em contra, o candidato tem, precisamente, a própria religião. Se por um lado Crivella é capaz de mobilizar o eleitorado evangélico que costuma ser fiel ao irmão de fé, independentemente da ideologia, por outro, a associação de púlpito e palanque incomoda ao resto de eleitores, conforme avalia o cientista Cesar Jacob, coautor do estudo A geografia do voto nas eleições para prefeito e presidente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
A favor de Freixo, que contará com o apoio dos eleitores de esquerda que votaram em outros candidatos, está o aumento da visibilidade que o segundo turno vai lhe dar. Freixo conquistou sua vaga do segundo turno com uma campanha muito barata, em comparação com seus adversários, e 11 segundos de televisão, frente aos três minutos e 30 segundos de Pedro Paulo. No segundo turno, o candidato do PSOL terá o mesmo tempo de tevê que seu adversário (cinco minutos), e poderá explorar o apoio de artistas e cantores como Wagner Moura e Chico Buarque. A pesar de participar da política há cerca de três décadas, Freixo pode explorar o discurso contra o panorama político atual, segundo especialistas. “Freixo tem algo que Pedro Paulo e Crivella não têm, que é essa coisa de novo, de nova política. Numa situação em que o eleitorado está muito descontente com a política tradicional esse discurso tende a fazer sucesso”, avalia o cientista político João Feres, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ.
A dificuldade de Freixo será penetrar no eleitorado de Crivella, onde o candidato da esquerda não tem tanta influencia. “Há um elemento nessa disputa que se sobrepõe aos programas dos candidatos que é região, classe e religião. Crivella é um candidato cujo eleitorado é primordialmente da Zona Norte e Oeste [as mais populosas], de classe mais baixa e evangélico, enquanto Freixo é um candidato da Zona Sul das classes média-alta. Freixo terá o trabalho espinhoso de penetrar nesses lugares que não é fácil. Pedro Paulo teria mais fácil essa tarefa”, afirma Feres.
Fora da disputa ficaram também Flavio Bolsonaro (PSC) com 14% dos votos, Índio da Costa (PSD) com 8,99%, Carlos Osorio (PSDB) com 8,62%, Jandira Feghali (PCdoB) com 3,34%, e Alessandro Molon (Rede) com 1,43%.
A abstenção teve níveis altíssimos nas eleições cariocas chegando a 24,28% do eleitorado. O total de votos brancos e nulos foi de 5,5% e 12,76% respectivamente.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.