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Húngaros votam contra acolher refugiados, mas participação não atinge mínimo para ser válido

Pesquisas de boca de urna apontam para participação de 45%, abaixo dos 50% requerido

Imagens sobre os muros levantados na Europa desde os anos 90 até a atualidade.Vídeo: EQUIPO EXPRÉSS

Ninguém duvidada que os húngaros votariam majoritariamente contra o pacto da União Europeia de acolhida aos refugiados. No entanto, parece que o xenófobo referendo convocado pelo Executivo para mobilizar uma população contra o sistema de solidariedade europeu não será legalmente válido. As pesquisas de boca de urna apontam para uma participação de 45%, abaixo portanto dos 50% requerido para que a votação seja válida. Portanto, ainda que 95% dos cidadãos tenham comparecido às urnas para rejeitar o pacto europeu, o resultado não é vinculante. Apesar do resultado que indicam as pesquisas, um pequeno fracasso para o primeiro-ministro Víktor Orbán, os vice-presidentes de seu partido (Fidesz) e do Governo consideram o resultado uma "grande vitória". O polêmico referendo, um claro desafio à União Europeia e ao modelo acordado de realocação obrigatória, é um teste de popularidade para o primeiro-ministro conservador, Viktor Orbán, opositor da acolhida a asilados.

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A pergunta que os húngaros responderam neste domingo deixa pouco espaço a dúvidas sobre a intenção do Governo do Fidesz: “Quer que a UE possa decidir, sem o consentimento do Parlamento, sobre o assentamento obrigatório de cidadãos não húngaros na Hungria?". Mais de oito milhões de húngaros foram convocados a responder sobre que modelo de convivência desejam, um ano depois de a crise dos refugiados, com a chegada de milhares de pessoas, ter sacudido o país.

Nesse tempo, a percepção na Hungria –que nunca foi um país muito aberto aos estrangeiros– sobre os asilados e imigrantes piorou muito. Os que acreditavam que os imigrantes deveriam receber um tratamento mais humanitário passaram de 52% nas pesquisas a 44% no último ano, segundo dados da consultoria Publicus Intezet. No total, 63% dos húngaros afirma também que não é tarefa sua ajudar os refugiados. Há um ano, 64% consideravam ser seu dever ajudar. São cifras que o Governo quer capitalizar. Na realidade, com a rejeição à imigração no auge, a maioria dos partidos de oposição fez campanha pela abstenção.

Orbán, que nas últimas semanas endureceu suas mensagens contra a imigração, vendeu a consulta como um teste da soberania húngara. “O referendo decidirá quão forte será o país em suas disputas de interesses. Um referendo forte significa uma Hungria forte. Um fraco, um país fraco”, escreveu no jornal Magyar Idök, próximo ao Governo. Edit Zgut, analista da consultoria e instituição de estudos húngara Political Capital, observa que o referendo é importante para Orbán sobretudo no terreno europeu. “Sua principal ambição é chegar a ser um importante líder na UE, daí que deseje mostrar o seu poder ao resto”, diz a especialista, que argumenta ainda que o primeiro-ministro húngaro quer ser um exemplo a seguir para os demais países da zona.

Uma húngara residente na Romênia vota no referendo húngaro sobre os refugiados, na quinta-feira.
Uma húngara residente na Romênia vota no referendo húngaro sobre os refugiados, na quinta-feira.ISTVAN BIRO (EFE)

No momento em que a popularidade de Orbán estava decaindo, suas medidas contra a imigração –blindar o país por meio de uma barreira nas fronteiras e uma dura política de expulsões– durante a crise dos refugiados fizeram-no voltar a ganhar apoio entre uma população preocupada. Para os oposicionistas, a posição do Governo e a consulta de hoje são uma forma de distrair o eleitorado de outras questões-chave. “Orbán fracassou em solucionar os problemas de saúde pública, da educação e da economia. E também ignorou que dois terços dos húngaros saíram do país para buscar um futuro”, disse o presidente do Partido Socialista, Gyula Molnár.

O Governo húngaro não anunciou que medidas vai adotar com base no resultado. Algumas fontes indicaram que poderia voltar a reformar a Constituição –como Orbán já fez para garantir para si mais controle sobre as instituições judiciais e econômicas, por exemplo. No entanto, o primeiro-ministro se negou reiteradamente a esclarecer suas intenções. O ultradireitista e xenófobo Jobbik, que com o partido de esquerda debilitado e as legendas de esquerda muito abaladas, se situa agora praticamente como a segunda força política, também fez campanha pelo “não”. E exigiu que Orbán renuncie tanto se o “não” perder como se o resultado não for considerado válido.

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