Medo toma conta de Amatrice após novo terremoto de magnitude 4,3
Cidade italiana ficou devastada depois do tremor inicial na quarta-feira
Pouco mais de 24 horas depois do grande terremoto de magnitude 6 que deixou pelo menos 250 mortos no centro da Itália, o chão voltou a tremer nesta quinta-feira, embora desta vez com menor intensidade, magnitude 4,3, segundo o Instituto Italiano de Geofísica e Vulcanologia. As pessoas começaram a correr para lugares abertos, enquanto seguranças e médicos se mobilizavam nas imediações do parque municipal onde milhares de moradores permanecem desde a véspera. Durou só alguns segundos, mas causou pânico.
Partes de edifícios que já haviam sido anteriormente abalados desmoronaram, e algumas cornijas e tijolos se soltaram. Na escola secundária da pequena cidade, uma parede desabou.
Depois do tremor inicial, na madrugada de quarta-feira, a região central da Itália registrou vários sismos secundários. O último deles ocorreu às 14h36 (9h36, pelo horário de Brasília), e os moradores correram para se abraçar.
Dados atualizados nesta quinta-feira pela Defesa Civil, que coordena os trabalhos de resgate e socorro às vítimas, dão conta de pelo menos 250 mortos por causa do tremor da madrugada de quarta-feira. Na véspera, o premiê Matteo Renzi disse haver 368 feridos.
Enquanto prosseguem os trabalhos de resgate, os sobreviventes e as autoridades temem que mais vítimas sejam localizadas sob os escombros. O tremor afetou uma zona muito montanhosa e pouco povoada do centro da Itália, a 140 quilômetros de Roma, e que já sofrera um sismo devastador em 2009.
Ricardo, morador de Amatrice em busca de seus parentes, disse que continua “com esperanças” de encontrar seus familiares. “Acredito que haverá menos vítimas que em L'Aquila em 2009”, diz ele, referindo-se a um terremoto que matou mais de 300 pessoas na Itália. “Mas só porque aqui há menos habitantes. O horror foi o mesmo.” Entre as vítimas há 190 mortos na província de Rieti e 57 em Ascolano, segundo a Defesa Civil.
“A Itália é hoje uma família abalada, mas que não para”, disse Renzi, alertando que o número de mortos ainda poderia subir. “Queremos uma reconstrução verdadeira para que os habitantes destes povoados possam continuar mantendo sua comunidade e conservem o passado destas localidades, um passado maravilhoso que não pode ser perdido”, afirmou.
O tremor ocorreu pouco depois das 3h30 de quarta-feira (22h30 de terça pelo horário de Brasília), e dezenas de réplicas se seguiram. O sismo inicial foi sentido durante mais de 15 segundos em Roma, que fica mais de 130 quilômetros a sudoeste do epicentro, na província de Rieti, na região do Lácio, mas sentido com força também na região da Umbria. As localidades mais atingidas são Norcia, na província de Perugia; Amatrice e Accumoli, na província de Rieti; e Arquata del Tronto, em Ascoli Piceno. As autoridades italianas e a Cruz Vermelha estão mobilizando recursos para as zonas mais afetadas.
“É terrível, tenho 65 anos e nunca experimentei nada assim. Pequenos tremores sim, mas nada tão grande. Isto é uma catástrofe”, declarou Giancarlo, que esperava, de cueca, em plena rua de Amatrice. Na localidade de Illica houve cinco mortos, incluindo uma cidadã espanhola que vivia ali com seu marido, segundo a Cruz Vermelha italiana.
O Governo italiano e a Defesa Civil monitoram a área do epicentro para cuidar de possíveis danos, informou o porta-voz de Renzi pelo Twitter. Além disso, o Exército foi mobilizado para colaborar nos trabalhos de resgate, que são complicados por causa da dificuldade de acesso. Só é possível chegar lá de helicóptero ou a pé. Há interrupções do abastecimento energético e do serviço de telefonia.
Cerca de cem réplicas, mais da metade delas com magnitude acima de 3, sucederam-se ao sismo de magnitude 6. A mais forte delas teve lugar pouco antes das 5h (meia-noite em Brasília) nos arredores de Norcia, na província de Perugia.
Amatrice, uma das localidades mais afetadas, está devastada. Os trabalhos de resgate prosseguem, com a participação de militares, policiais, guardas de montanha e profissionais sanitários. Cães rastreadores auxiliam nas buscas por pessoas com vida sob as montanhas de escombros, algumas com dezenas de metros de espessura. Um hospital de campanha foi instalado na entrada, mas os feridos graves são transferidos para hospitais comuns dos arredores. Um senhor sob os escombros consegue fazer uma ligação telefônica dez horas depois do desmoronamento. Cães rastreadores trabalham para encontrá-lo. Silêncio total, com a esperança de conseguir achá-lo.
Cesare, auxiliar do pároco local, lamenta o desabamento de um asilo religioso para mulheres. Sete pessoas estão sob os escombros, sendo três freiras e quatro idosas. “A prioridade”, diz, “é socorrer os feridos e fazer o possível se ainda restar vida”. “Tristeza e impotência” são as palavras com que descreve este momento. Pina, moradora de Amatrice, conta que sua mãe, idosa, está sob os escombros. “Eu não estava aqui na hora do tremor, mas ao chegar me deparei com o fato de que não sei se continuará viva, está soterrada.”
Também Norcia (5.000 habitantes) foi muito afetada. Junto com Amatrice, trata-se de uma zona de veraneio para italianos, que recebem dezenas de turistas nesta época. O prefeito de Amatrice, Sergio Pirozzi, pediu ajuda para liberar as vias de acesso ao povoado e facilitar a chegada dos serviços de emergência. “Há pessoas debaixo dos escombros e há bairros que já não existem mais”, lamentou. Moradores de Amatrice entrevistados pela imprensa italiana dizem que a pequena cidade praticamente sumiu do mapa, já que, segundo alguns deles, 70% das casas desabaram.
Os habitantes desta cidade estão em instalações desportivas e a prioridade dos serviços de emergência é “salvar as pessoas que possam estar sob os escombros”. Os dois primeiros corpos foram recuperados durante a madrugada e, segundo o padre Fabio Gammarota, que está colaborando com os trabalhos de resgate, outras três pessoas morreram em decorrência do colapso parcial de uma casa.
As imagens aéreas fornecidas pelo Corpo de Bombeiros mostram o centro histórico de Amatrice, uma cidade formada principalmente de casas de pedra e antigas, completamente destruída, com poucas moradias ainda de pé.
Valerio, um morador de Rieti, relatou que “que todas as casas antigas desabaram, a rua principal é um desastre”. Ele saiu de casa correndo de madrugada, seminu. “Agora estamos tentando ajudar os demais na cidade. Tivemos de sair com o trator para remover os escombros das ruas e estradas”, acrescentou.
O prefeito de Accumoli (667 habitantes), Stefano Petrucci, informou que há ao menos seis mortos, entre eles quatro seriam da mesma família, sendo duas crianças, além de outros dois corpos recuperados sob os escombros.
O presidente da Itália, Sergio Mattarella, e o primeiro-ministro Renzi estão em contato direto com a Proteção Civil para monitorar o andamento dos trabalhos. Enquanto isso, o presidente da Cruz Vermelha Italiana, Francesco Rocca, disse em declarações à mídia que também estão sendo enviadas ambulâncias e pessoal para os pontos mais afetados e que a doação de sangue pode ser útil nas próximas horas. A associação de voluntários italianos doadores de sangue também fez um chamado para a doação de todos os grupos sanguíneos.
O Vaticano comunicou o envio de seis bombeiros para Amatrice, com o objetivo de ajudar no resgate. O papa Francisco agradeceu os esforços de todos aqueles que trabalham nos esforços de resgate e pediu que todos os cristãos rezem pelas vítimas. O comissário europeu de Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, o cipriota Christos Stylianides, disse em um comunicado que a UE está preparada para agir e ajudar. “Estamos em contato constante com as autoridades italianas. No momento, estamos fornecendo nossas imagens de satélite para ajudar com os esforços de resgate.”
Crise econômica
O terremoto atinge a Itália em um momento muito complicado. O país está passando por uma delicada situação econômica, e há receio de que uma crise política seja desencadeada no fim deste ano, quando a reforma constitucional de Renzi será submetida a um referendo.
As comparações com o terremoto em L’Aquila são inevitáveis, uma vez que entre os epicentros de ambos há uma distância de apenas 60 quilômetros e a magnitude foi quase a mesma. O porta-voz da Proteção Civil, Fabrizio Curcio, afirmou que “a intensidade foi semelhante, mas a diferença é a densidade da população, já que este terremoto afetou zonas menos densamente povoadas”, disse.
Em 2009, o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi foi muito criticado por não saber como administrar a crise. De fato, os serviços de emergência levaram horas para chegar ao local do desastre, e o assunto acabou nos tribunais. Longe do que aconteceu na época, a maioria das pessoas afetadas pelo terremoto da quarta-feira se mostrou agradecida pelo apoio recebido e pela chegada dos serviços de emergência com bastante rapidez.
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