O filho da cidade das canoas leva a medalha de prata para casa
Isaquias Queiroz conquista a prata na canoagem, a primeira medalha na modalidade para o Brasil
Apesar do cenário cinematográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas na manhã ensolarada desta terça-feira, o vento não estava a favor de Isaquias Queiroz. Literalmente. Por ser canhoto, o canoísta brasileiro rema pelo lado direito, e, se o vento bate do mesmo lado - o que aconteceu nesta terça -, isso dificulta o desempenho do atleta que precisa fazer um esforço ainda maior para vencer.
Ainda assim, Isaquias Queiroz mostrou a que veio. O baiano de 22 anos era uma das grandes promessas de medalha pra o Brasil e não decepcionou. Conquistou a prata na prova de mil metros de canoagem individual, a primeira medalha do Brasil no esporte. Apenas 1'6 segundo o deixou atrás do alemão Sebastian Brendel, que ficou com o ouro.
O adversário alemão, que disputou a prova inteira segundo por segundo ao lado dele, tinha a vantagem do vento a seu favor, já que ele é destro. A condição climática era uma preocupação de Isaquias desde o ano passado. Após remar por uma hora e meia na Lagoa Rodrigo de Freitas, afirmou que o vento sudoeste que bate na Lagoa o deixara preocupado. "Com este vento não tem a menor chance de disputar pódio", disse.
Mas, ainda assim, o dia era dele. O garoto que nasceu em Ubaitaba - que em tupi-guarani significa "cidade das canoas" -, no interior da Bahia, está habituado com as remadas desde pequeno. Como a cidade é margeada pelo rio das Contas, o barco é o principal meio de transporte local, e muitos dos meninos canoeiros que pilotam as canoas para ganhar algum dinheiro se transformaram em canoístas.
Por isso, a cidade é conhecida informalmente como a capital da canoa. Um projeto social da Associação Cacaueira de Canoagem atende hoje 60 alunos a partir de oito anos. Assim como Isaquias, foi de Ubaitaba que veio Jefferson Lacerda, o primeiro brasileiro a disputar uma olimpíada na prova de canoagem pelo Brasil. Dos últimos dez torneios nacionais por equipes, oito foram vencidos por ubaitabenses. A expectativa com Isaquias, que é também bicampeão mundial, não poderia ser menor.
Apesar disso, ele afirma que não se sentia pressionado. "Me sinto ainda mais motivado para buscar um grande resultado", disse ao EL PAÍS, por e-mail, poucos dias antes da prova. "De preferência, com medalhas". Ele afirmou não ter nenhum preparo psicológico para encarar as disputas. Antes de competir, disse que tenta ficar “descontraído, ouvindo as minhas músicas e tentando focar na prova”. Seu estilo musical favorito é a arrocha, gênero original da Bahia, influenciado pelo brega romântico.
Fã de Neymar e do jamaicano Usain Bolt, começou a remar aos 11 anos, mas só passou a viver do esporte no ano passado, quando conseguiu o primeiro patrocínio individual. Além do mundial, levou o ouro nos Pana-Americanos do ano passado e no Sul-Americanos de 2014. Fora da água, Isaquias foi apelidado de “um rim e três pulmões”, pelo fôlego surpreendente, e porque perdera um rim aos 10 anos, quando caiu de uma árvore. “Mas nunca deixei essa dificuldade atrapalhar o meu rendimento”, disse à AFP. “Nunca deixei ninguém ganhar de mim para depois eu falar: ‘eu perdi porque só tenho um rim”.
Longe de Ubaitaba, Isaquias vive hoje em Lagoa Santa, Minas Gerais. Seu treinador, o espanhol Jesús Mórlan, escolheu a cidade quando buscava um local que tivesse uma lagoa para os treinos e temperatura parecida com a do Rio de Janeiro. O feito inédito de uma medalha na canoagem ainda pode se potencializar nesta Olimpíada: na quinta-feira, ele disputa a prova dos 200 metros da canoa individual, e no sábado, mil metros da canoa dupla. Isaquias pode ser o primeiro atleta brasileiro a trazer três medalhas de uma vez. E a competição de hoje já mostrou que o vento nem precisa soprar a seu favor para que ele entre para a história.
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