Renúncia de Cunha abre corrida por sucessão e base de Temer se divide
Deputado tenta influenciar a eleição de seu sucessor para evitar uma possível cassação
O fantasma do deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ainda paira sobre a Câmara dos Deputados. Apesar de ele renunciar ao cargo de presidente da Casa nesta quinta-feira, sua opinião será fundamental para escolher o seu sucessor, que conduzirá a cassação do mandato dele e os projetos de interesse do Governo interino de Michel Temer (PMDB). A eleição foi antecipada para a próxima terça-feira, dia 12 de julho.
Menos de meia hora após a renúncia, quando o demissionário havia acabado de descer a rampa do Congresso Nacional, lideranças partidárias já negociavam os nomes que iriam sucedê-lo. Com a vacância do cargo, uma nova eleição deveria ser convocada em até cinco sessões. Até o fim da tarde desta quinta-feira, ao menos 15 nomes estavam entre os potenciais concorrentes para comandar a Câmara em um mandato-tampão entre julho de 2016 e fevereiro de 2017. Só dois não são da base do Governo: Alessandro Molon (REDE-RJ) e Chico Alencar (PSOL-RJ), dois dos principais adversários de Cunha e que são dos partidos que assinaram as representações que pediam a cassação do peemedebista. As chances deles são reduzidíssimas.
O agora ex-presidente da Casa trabalha para emplacar pelo menos quatro candidatos: Jovair Arantes, que foi relator da Comissão do impeachment da Câmara, Espiridião Amin, Aguinaldo Ribeiro, ambos do PP, e Fernando Giacobo, do PR. Arantes e Amin, porém, já se mostraram resistentes à ideia. Suas indicações provocaram um racha na base governista, já que alguns dos nomes preferidos de Cunha não agradam tanto a outros parlamentares que votam com Temer, e muito menos a oposição. “Cunha renuncia para, em acordo com Temer, continuar preservando o seu mandato. Cunha não pode definir a sucessão do parlamento brasileiro”, reclamou o vice-líder do PT, Henrique Fontana. Seu partido não deverá lançar candidatura.
O Governo interino acompanha atentamente os movimentos da Casa por motivos óbvios. Com 55 dias no poder, Temer tem conseguido apoio no Congresso para projetos difíceis, como a aprovação da meta fiscal deste ano.
A queda de Cunha, aliás – comemorada até por um grupo de servidores do Legislativo que fez uma pequena festa com bolo e salgadinhos encomendados de última hora em homenagem à renúncia – foi acordada com o presidente interino. Nas últimas conversas que tiveram, na semana passada, Temer disse ao deputado afastado que era fundamental que ele deixasse o Legislativo trabalhar, reforçou que ele já teve seu momento de protagonismo histórico ao comandar a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) e que ele deveria se concentrar na defesa dos processos que responde juntamente com sua mulher e sua filha no âmbito da operação Lava Jato. O apelo de Temer não fora o primeiro feito por seus apoiadores, como o próprio Cunha os denominou. Ao menos 15 deputados já haviam sugerido a renúncia.
Um outro fator que pesou na decisão foi ver o seu processo de cassação se aproximar do plenário da Câmara e com chances reduzidas de se salvar. Por isso, renunciou nesta semana, para que um novo presidente da Casa fosse eleito e o seu processo de cassação não fosse conduzido pelo primeiro vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA), um atrapalhado parlamentar que já foi seu aliado e muitas vezes se perde na condução dos trabalhos do Legislativo. Ao ler sua carta de renúncia, Cunha afirmou que a Câmara estava “acéfala” e sendo conduzida de uma maneira “bizarra”. A expectativa do agora ex-presidente é emplacar um membro do centrão, seu grupo político, na presidência.
Apesar de dizer oficialmente que não vai interferir no processo eleitoral da Câmara, a gestão Temer já deixou claro que tem dois favoritos: Rogério Rosso (PSD-DF) e Osmar Serraglio (PMDB-PR). Mas ambos enfrentariam resistências de parte do Legislativo. O que poderia pesar contra Rosso seria o fato de ele estar em seu primeiro mandato na Câmara e por ser muito próximo a Cunha. Já contra Serraglio, o problema poderia partir de alguns dos partidos aliados, que entendem que o poder deveria ser compartilhado, entre as siglas, pois o PMDB já preside o Executivo (ainda que interinamente) e o Senado. “Precisamos de um nome de consenso. O ideal é encontrar o perfil desse deputado ou deputada neste momento”, afirmou Rosso, que não admite que concorrerá ao cargo.
Ainda entre a base governista, há dois candidatos do PSB, Júlio Delgado e Heráclito Fortes; dois do PSDB, Jutahy Júnior e Antônio Imbassahy, dois do DEM, Rodrigo Maia e José Carlos Aleluia e um do PPS, Rubens Bueno.
Vários nomes que estão sendo considerados resistem à ideia por não querer ser presidentes por um período tão curto. Um presidente da Câmara não pode concorrer à reeleição dentro de uma mesma legislatura, ou seja, na eleição de fevereiro, o presidente-tampão não poderá se candidata.
A repercussão entre deputados
Pauderney Avelino (DEM-AM): “Renúncia de Cunha encerra um período de agonia a que foi submetida a Câmara”.
Ivan Valente (PSOL-RJ): “Obtivemos uma primeira vitória, que é arrancar Eduardo Cunha da presidência da Casa. A segunda está para acontecer, que é a cassação do mandato e a sua prisão e condenação por vários crimes.”
Henrique Fontana (PT-RS): “É uma renúncia em causa própria em que ele tenta salvar o seu mandato, num acordo com o governo interino de Michel Temer”.
Alessandro Molon (REDE-RJ): “Cunha tenta usar os seus tropeços, suas derrotas em possibilidade de reverter resultados ruins que ele mesmo prevê. É uma manobra para influenciar no seu processo de cassação”.
Beto Mansur (PRB-SP): “Não acredito que haja a influência de A ou B na escolha da presidência da Câmara, nem mesmo do Cunha”.
Carlos Marun (PMDB-MS): “Cunha renunciou para poder se dedicar à sua defesa no STF e na própria Câmara”.
Antônio Imbassahy (PSDB-BA): “Ao ser afastado pelo STF, sua situação ficou muito delicada e ele perdeu as condições de presidir a Câmara. Dessa forma, a vacância do cargo era esperada, uma questão de tempo”.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Mais informações
Arquivado Em
- Eduardo Cunha
- Operação Lava Jato
- Câmara Deputados
- Crises políticas
- Caso Petrobras
- Investigação policial
- Congresso Nacional
- Subornos
- Financiamento ilegal
- Corrupção política
- Caixa dois
- Parlamento
- Conflitos políticos
- Brasil
- Partidos políticos
- Polícia
- Corrupção
- América do Sul
- América Latina
- Força segurança
- América
- Empresas
- Delitos
- Política
- Economia