Morre Arturo, o último urso polar da Argentina
Tinha 30 anos e passou por uma longa agonia no questionado zoológico de Mendoza
Arturo, o último urso polar da Argentina, morreu no domingo no polêmico zoológico de Mendoza, a milhares de quilômetros de seu habitat natural, o Ártico. Estava prestes a cumprir 31 anos, considerada uma idade avançada para sua espécie, e havia quatro anos vivia na mais absoluta solidão: sua companheira, Pelusa, morreu em 2012. A mídia o batizou então de “o animal mais triste do mundo” e as organizações ambientalistas reuniram mais de 400.000 assinaturas para transferi-lo a uma reserva natural canadense, mas o movimento foi freado em razão de seu precário estado de saúde. A morte de Arturo, ocorrida por um quadro terminal, reabriu a polêmica pelas más condições do zoológico, no qual morreram mais de 70 animais neste ano e que está fechado ao público desde maio.
Nascido em cativeiro em 1986 no Colorado (Estados Unidos), Arturo chegou a Mendoza com oito anos. “Estava em um clima totalmente adverso”, admite o secretário do Meio Ambiente de Mendoza, Humberto Mingorance. O clima desértico e os verões calorentos nesta cidade, situada no oeste da Argentina, não poderiam ser mais opostos ao frio e úmido habitat dessa espécie, o que levava o urso polar a se refugiar em sua jaula com ar-condicionado e na piscina, enquanto do lado de fora se multiplicavam os gritos para que fosse libertado.
"Não choras por ele, Argentina?", escreveu em 2012 a cantora norte-americana Cher no Twitter. “Não tem lágrimas, Cristina Fernández de Kirchner, pelo torturado urso polar Arturo? Suas mãos ficarão manchadas com seu sangue quando ele morrer”, acrescentou no tuíte dirigido à então presidenta argentina, que mais de 5.000 pessoas reproduziram.
DONT CRY 4 HIM ARGENTINA?!
— Cher (@cher) May 25, 2014
NO TEARS #MRSCRISTINAFERNANDEZdeKIRCHNER 4 TORTURED
P.BEAR #ARTURO YOUR HANDS R STAINED W/HIS BLOOD WHEN HE DIES
Este ano, a situação de Arturo se deteriorou ainda mais. Perdeu o apetite, baixou de peso e sua visão e olfato pioraram, conforme o diagnóstico de um grupo de especialistas, segundo os quais seu estado era “crítico”. Os veterinários estudaram sedá-lo para reduzir sua agonia, mas morreu antes de se decidirem a fazer isso.
A perda do exemplar mais emblemático do zoológico de Mendoza aumenta a pressão sobre as autoridades dessa cidade argentina para decidirem o futuro desse criticado espaço e seus quase 2.000 animais. Milhares de pessoas querem seu fechamento definitivo, enquanto outra opção sobre a mesa é transformá-lo em um ecoparque, como ocorrerá com o zoológico de Buenos Aires. “Não deverão ficar mais de 500-600 exemplares. Os demais, uns 1.500, queremos enviar a reservas, a fazendas educativas e a santuários”, especifica o secretário do Meio Ambiente.
Claudio Bertonatti, assessor da Fundação de História Natural Félix de Azara, afirma que o recinto de Mendoza “está fechado porque é um desastre, não pode ser exibido”. Considera imprescindível garantir as máximas condições de bem-estar para os animais, mas acredita que o debate tem de ir além. “Embora alguém pudesse oferecer a Arturo um hotel 5 estrelas, um urso polar não tem nada para fazer na Argentina”, ressalta. O naturalista afirma que fechar os zoológicos “é o mais rápido e barato”, mas alerta que fazer isso seria “um fracasso”.
A seu ver, os zoológicos argentinos, outrora referências na América Latina, “vêm em franca decadência” desde meados do século XX porque “se perpetuaram no tempo” e “não souberam acompanhar os desafios ambientais” – provocados pelo avanço da agricultura, do gado e da urbanização –ao lado de outras instituições a serviço da conservação da natureza, como jardins botânicos, parques naturais e áreas protegidas. “Deveriam ser a cavalaria que sai para combater a extinção das espécies ameaçadas”, afirma Bertonatti, ex-diretor do zoológico de Buenos Aires, mas se não conseguem cumprir os objetivos de conservar, educar, pesquisar e entreter são como “um general incapaz que conduz sua tropa à batalha”.
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