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Rio 2016 começa contagem regressiva para Olimpíada em seu pior momento

A cem dias do mega-evento, a cidade lida com accidentes mortais nas suas instalações e uma longa lista de más notícias

Vista aérea do Parque Olímpico, no Rio.
Vista aérea do Parque Olímpico, no Rio.Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio

O Rio de Janeiro deu início nesta quarta-feira à contagem regressiva dos 100 dias até os Jogos Olímpicos, sem ter muito o que comemorar. Enquanto a tocha olímpica deixa Atenas rumo ao Brasil, a cidade tenta se esquivar de uma tempestade de dificuldades que já se apresentam como uma corrida de obstáculos até 5 de agosto, o dia da cerimônia de abertura. A boa notícia é que quase todas as obras para a realização dos Jogos foram concluídas; a má notícia é uma longa lista de problemas que irão manter as autoridades em alerta até o final do evento.

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A cidade lida com acidentes com vítimas fatais em suas obras de legado olímpico, com o zika vírus — que perdeu a atenção da mídia diante da grave crise política no país que pode derrubar o atual Governo —, mas que provocou no Rio o maior número de vítimas no país. As obras do metrô, importantíssimas para descongestionar o trânsito da cidade, serão inauguradas — se realmente forem — em cima da hora. Cerca da metade dos ingressos ainda não foi vendida, e as forças de segurança já confessam o temor de que os Jogos Olímpicos sejam o cenário ideal para manifestações em massa, alimentadas pela pior crise política e econômica do país em três décadas.

Na quinta-feira passada, um trecho da mais famosa ciclovia do Rio, construída sobre o mar e promovida como parte do legado olímpico, desmoronou como uma folha de papel após o impacto de uma onda gigante. Pelo menos duas pessoas morreram, colocando em evidência a negligência de uma construtora que gerencia tantas outras instalações olímpicas. O prefeito da cidade, Eduardo Paes, assumiu a responsabilidade e prometeu punir os culpados, bem como fazer uma vistoria em todas as obras da cidade.

Uma vistoria mais rigorosa dos projetos poderia comprometer os prazos das obras em andamento ou até mesmo afetar as instalações já concluídas, mas Paes acredita no sucesso de seu projeto olímpico: "Checamos as obras constantemente. As pessoas desconfiavam de nossa capacidade de terminar o Parque Olímpico, a Vila dos Atletas, o campo de golfe... Já entregamos tudo, faltam apenas pequenos detalhes". Na verdade, o Rio superou as expectativas, e quase 100% de suas instalações já estão concluídas, mas ainda há pontas soltas: o centro de tênis e velódromo, cujo orçamento aumentou mais de 26%, continuam em obras.

As obras do metrô, que vai ligar a área turística da cidade com a Barra de Tijuca, o principal palco das competições, tampouco foram concluídas. O projeto, considerado parte do legado, é de responsabilidade do Estado, que está imerso em uma crise tão profunda que não tem dinheiro para manter seus hospitais nem para pagar funcionários, acumulando atrasos e promessas não cumpridas nos últimos meses. A meta é que os vagões, embora com capacidade reduzida, comecem a circular em julho, prazo que preocupa especialistas, porque diminui a capacidade de testar seu funcionamento com tempo. E o Estado já tem em seu histórico outro importante projeto prometido e inacabado. A despoluição da Baía de Guanabara, o destino final de milhões de litros de esgoto e resíduos industriais e palco das competições de vela, não será concluída antes de 2030.

O desafio da segurança

A segurança é um grande desafio para o sucesso dos Jogos Olímpicos. As possíveis ameaças terroristas são somadas à uma cidade já violenta, com assaltos frequentes nas ruas e o recrudescimento da violência nas favelas. Além disso, a Anistia Internacional destaca a violência da polícia do Rio de Janeiro, que no ano passado matou 307 pessoas, responsável por um de cada cinco homicídios cometidos na cidade. "Apesar da promessa do legado de uma cidade segura para realizar os Jogos Olímpicos, os homicídios cometidos pela polícia têm aumentado de forma constante ao longo dos últimos anos no Rio. Muitas pessoas foram gravemente feridas por balas de borracha, bombas de efeito moral e até mesmo armas de fogo utilizadas pela polícia em manifestações", denuncia a organização.

Apesar dos atrasos pontuais, a pressa do Rio de Janeiro para evitar a imagem de ineficiência que o Brasil transmitiu ao mundo na Copa de 2014, ao abrir a porta de seus estádios milionários no último minuto, é justamente a causa apontada pela Superintendência Regional do Trabalho, um órgão do Ministério do Trabalho, para justificar a morte de nove pessoas durante a construção de obras olímpicas. Durante a Copa do Mundo, realizada em 12 cidades-sede, oito operários morreram, enquanto que durante a preparação dos Jogos Olímpicos de Londres não houve mortes. "Nada é feito com pressa. O ritmo é acelerado, mas não é por isso que tem havido mortes", rebate o prefeito.

O Rio de Janeiro, no entanto, promete estar à altura, e todas as manifestações oficiais do Comitê Olímpico Internacional, inicialmente preocupado com o jeitinho brasileiro de fazer as coisas, têm sido de apoio e comemoração. A partir de 5 de agosto, feriado decretado no Rio, os cariocas e os cerca de um milhão de turistas esperados na cidade serão os melhores juízes para testar o único evento que o Brasil tem para esquecer, pelo menos por duas semanas, de uma de suas fases mais difíceis.

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