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Ministro do Esporte: “Não há nenhum cenário que possa por em dúvida a realização dos Jogos no Brasil”

Eventual Impeachment não atrapalhará a Olimpíada, diz Ricardo Leyser Entrega dos Jogos "é uma tarefa que une situação e oposição", segundo ministro

Recém-empossado ministro interino do Esporte, Ricardo Leyser (PC do B) tem a missão de entregar os Jogos Olímpicos do Rio em meio a uma das maiores crises políticas da história do Brasil. Aos 45 anos, foi colocado no cargo pela presidenta Dilma Rousseff cinco meses antes do início da Olimpíada depois de uma disputa política que causou a queda do ex-ministro George Hilton. Quem acompanha de perto a organização avalia que a troca foi boa para o evento, já que Leyser está diretamente ligado ao projeto desde sua concepção. Durante a gestão de Hilton, foi secretário-executivo do ministério, respondendo diretamente pela ponte entre a pasta e as entidades olímpicas. Depois, foi colocado na Secretaria de Alto Rendimento, também ligada aos Jogos. Agora, diante do possível impeachment da presidenta, precisa blindar a competição e acertar os detalhes finais. Em meio à crise política atual, não é garantido que Leyser esteja no cargo nas Olimpíadas.

O ministro do Esporte, Ricardo Leyser.
O ministro do Esporte, Ricardo Leyser.Roberto Castro (ME)

Ciente do desafio, Leyser analisa, em entrevista exclusiva ao EL PAÍS, os pontos mais importantes da preparação do Brasil para receber o evento em agosto. Até a cerimônia de abertura, no dia 5, ele diz que precisa resolver “milhares de pequenos problemas”.

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Pergunta. Como é a relação dos órgãos olímpicos com o Governo Dilma? Preocupa um possível impeachment da presidenta?

Resposta. A relação é muito boa. A presidenta Dilma tem uma relação com o presidente Thomas Bach [do Comitê Olímpico Internacional]. Ela o recebeu todas as vezes que ele veio para o Brasil. Ele tem liberdade para colocar suas preocupações e sempre ela decidiu apoiá-lo. O último desses pedidos foi quanto à energia elétrica e foi ouvido. Quanto à questão do impeachment, não podemos fazer comentários nem para um lado nem para outro. Nós temos uma posição de defesa do Governo e da presidenta Dilma. Não podemos trabalhar com hipóteses, vamos trabalhar com a questão de entrega dos Jogos até porque foi um pedido da presidenta, que fosse montado agora um ministério técnico 100% focado na entrega dos Jogos. Então estamos sendo fiéis ao pedido, de que o Ministério do Esporte não se dedicasse às questões políticas da crise e sim à tarefa que o país tem de entregar os Jogos Olímpicos. E essa é uma tarefa que une situação e oposição.

P. A saída de Dilma implicaria em algum problema para a Olimpíada?

R. Os Jogos estão praticamente prontos e não são tarefa só do Governo Federal. São tarefa do Comitê Organizador Rio 2016, da Prefeitura do Rio, do Governo do Estado e da União. É um conjunto de atores, então não há nenhum cenário que ameace a questão dos Jogos. Não há nenhum cenário plausível no horizonte que atrapalharia os Jogos.

P. Nem o impeachment?

R. Não há nenhum cenário que possa por em dúvida a realização dos Jogos no Brasil.

P. A crise política pode prejudicar os Jogos Olímpicos de alguma maneira?

R. Nós achamos que não, por vários fatores. O primeiro fator é que os Jogos estão praticamente prontos. Então não há pressão sobre a preparação. Tudo o que o Governo tem que entregar em termos de obras e operação já está muito bem encaminhado, não há grandes decisões a serem tomadas, não há nenhuma obra que está fora do cronograma e que precise de uma atenção especial, então é uma conjuntura em que está tudo pronto. O segundo fator é que a Olimpíada no Brasil é suprapartidária. Vários governos tentaram conquistar esse direito para o Brasil, então o Brasil está muito orgulhoso de sediar os Jogos Olímpicos. Vários políticos que estão na situação ou na oposição já encamparam esse projeto, já lideraram candidaturas do Brasil aos Jogos Olímpicos em diversos momentos até que a gente fosse feliz e ganhasse. Nós vemos um certa união em torno desse tema.

P. O Brasil perdeu em dezembro do ano passado o primeiro prazo do acordo de fornecimento de energia elétrica para os Jogos e o COI reclamou. Esta questão está resolvida?

R. A grande preocupação sobre o funcionamento geral da energia elétrica não existe mais. Agora é uma série de várias pequenas preocupações sobre vários locais de competição. Pode haver algum local que não está 100% resolvido. Mas isso não é uma coisa que a solução não esteja na mesa, é mais uma questão técnica e operacional do que uma questão de financiamento ou de soluções maiores.

P. Os geradores de energia para os locais de prova já foram comprados?

R. Para nós isso esta resolvido. Neste momento nós saímos dos grandes problemas e começamos a entrar numa fase de milhares de pequenos problemas. Obviamente, projeto a projeto, local a local existem dezenas de pequenas questões e discussões técnicas sobre como fazer. [...] Mas quando você olha no todo, a situação está bem resolvida.

P. Quanto da Olimpíada está pronta?

R. Quando falamos de estrutura, falamos um número que vai se aproximando dos 95%, numa média geral. Na operação é um pouco diferente porque tem outras características. Por exemplo, deslocamento das tropas para o Rio de Janeiro. Tem um calendário específico operacional. Então nós vamos atingir um percentual maior na operação dos Jogos mais próximo da abertura. Cada um tem sua lógica própria, seu cronograma próprio.

P. Qual é o ponto mais crítico dos Jogos neste momento?

R. Não podemos falar crítico no sentido de estar atrasado, mas sim crítico no sentido de que a Olimpíada é uma grande operação que precisa ser entregue. Aeroportos, aduanas, segurança, tudo isso entra na parte crítica que é a parte de operação. Então crítico não é no sentido de que uma obra está atrasada, mas é crítico porque agora é a hora da operação correr corretamente, e são grandes operações.

P. Como vocês estão lidando com a questão da segurança e ameaças de atentados terroristas?

R. Nós temos uma boa experiência com o assunto segurança principalmente no Rio de Janeiro, que vem de uma operação grande nos Jogos Pan-Americanos de 2007, nos Jogos Militares de 2011, Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo em 2014 e Rio+20. Tivemos nos últimos anos vários mega-eventos no Rio de Janeiro em que a segurança foi testada e aprovada. Apesar de o Brasil não ter um histórico de ser alvo de atentados, estamos muito atentos a essa situação internacional e cooperando com todos os organismos internacionais no sentido de prevenir qualquer coisa que possa acontecer. Mas acho que é a única cidade do mundo que pode falar que nos últimos anos teve cinco ou seis grandes eventos internacionais que exigiram grandes esquemas de segurança, com a presença de muitos chefes de Estado, a presença do Papa. Acho que o Rio de Janeiro é uma das cidades mais preparadas do mundo para fazer essa operação.

P. Como está a questão da zika? Como o Brasil está nesse ponto e qual a segurança que você pode passar para os atletas que estão vindo para cá?

R. Foi uma questão nova que apareceu. O Brasil tem tratado diretamente com a Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem reconhecido o esforço do Brasil nesse sentido. Então as medidas estão todas tomadas. A gente sabe que é uma época em que a incidência do mosquito cai drasticamente e há toda uma mobilização tanto do Governo como da sociedade para encarar esse problema. Nós achamos que vamos estar com a situação muito controlada, com um risco muito baixo de as pessoas terem problema com a zika nos Jogos Olímpicos.

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