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Ministério do Esporte vira moeda de troca para brecar impeachment

Ministro George Hilton abandonou o PRB para seguir no cargo, mas deve ser demitido

Hilton (no centro), ministro do Esporte.
Hilton (no centro), ministro do Esporte.Tânia Rêgo
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O Ministério do Esporte ficou no meio do tiroteio entre aqueles que apoiam o Governo de Dilma Rousseff e os que querem o impeachment da presidenta. Na semana passada, George Hilton, ainda atual ministro, abandonou o Partido Republicano Brasileiro (PRB) para continuar no cargo, horas depois de o partido anunciar o rompimento com Dilma. O PRB tem 21 deputados, e estava na base do Governo desde 2006, com Lula. Agora, o ministério está sendo usado como moeda de troca por apoio contra o impeachment de Dilma a menos de cinco meses do começo dos Jogos Olímpicos do Rio.

Sem experiência na área, George Hilton foi nomeado ministro do Esporte em janeiro do ano passado, no começo do segundo mandato de Dilma. Alguns atletas disseram que estavam envergonhados com o novo ministro. Deputado Federal eleito por Minas Gerais, foi o primeiro político fora do Partido Comunista do Brasil (PC do B) a assumir a pasta, que antes teve Agnelo Queiróz, Orlando Silva e Aldo Rebelo no cargo. Muito criticado no momento em que virou o titular, assumiu que não entendia "profundamente de esportes”, mas argumentou que sabia ouvir. Sua capacidade de gestão política, porém, seria testada de fato nos próximos meses, de finalização dos preparativos para os Jogos e os mais críticos para a organização.

O plano de Hilton de ganhar projeção junto com o início da Olimpíada começou a ruir na semana passada. O PRB, por meio de seu presidente, Marcos Pereira, soltou um comunicado dizendo que estava oficialmente se afastando de Dilma. Como o ministério do Esporte era a única pasta sob comando do partido, Pereira assinou uma carta dizendo que o ministro George Hilton já havia se reunido com a presidenta para entregar o cargo: “O PRB vem a público informar que o ainda ministro do Esporte, deputado federal George Hilton, esteve reunido com a Presidente da República, Dilma Rousseff, na noite de quinta-feira (17) para confirmar a entrega do cargo anunciada pelo presidente nacional, Marcos Pereira, durante coletiva de imprensa na quarta-feira (16). A decisão do PRB de deixar a base de apoio do governo federal está tomada. O discurso mostrava que Hilton entregaria o cargo instantaneamente. O que aconteceu na prática, porém, foi bem diferente. Horas depois de saber que não seria mais ministro, o deputado rebelou-se contra o PRB. Abandonou o partido, pelo qual foi eleito deputado federal, e declarou apoio a Dilma, como mostra o comunicado oficial do ministério do Esporte divulgado no mesmo dia: “A partir da data de hoje, comunico aos brasileiros e, em especial, ao bravo povo de Minas Gerais, a quem muito orgulhosamente represento no Congresso Nacional, que não faço mais parte do Partido Republicano Brasileiro. Após um diálogo franco e de um convite que muito me honrou, filiei-me ao Partido Republicano da Ordem Social (PROS)”. Resultado: seu ato de rebeldia foi mal digerido pelo partido, que teria exigido a queda do ministro para voltar a conversar com Dilma.

O grito de rebeldia de Hilton teria sido perfeito se, na terça-feira, o PRB não tivesse se reaproximado de Dilma. Fontes ouvidas pela reportagem do EL PAÍS garantem que houve uma reaproximação, ainda que informal, entre os dois lados. O motivo principal seria os 21 deputados do partido na câmara, que, neste momento, são de extrema importância para que a presidenta consiga barrar seu processo de impeachment. Dilma precisa contar com 171 votos para barrar o impeachment. Além disso, vale ressaltar que o PRB é o partido ligado à evangélica Igreja Universal, dona da Rede Record, segunda maior emissora de televisão do Brasil, uma vitrine importante no momento em que o PT abriu guerra com a mídia.

A tendência é que em seu lugar seja colocado Ricardo Leyser, do PC do B (aliado do Governo) velho conhecido de todas as entidades olímpicas no Brasil. Ele faz parte do Ministério do Esporte desde 2003, cuidou de todos os preparativos dos Jogos Pan-Americanos do Rio em 2007 e foi secretário-executivo de Hilton até outubro do ano passado, responsável pela comunicação do ministério com o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e por tocar os assuntos relacionados à Olimpíada. Agora, é cotado a se tornar o homem-forte do Brasil nos Jogos de 2016 dentro de um Governo que ainda não sabe se estará de pé até as Olimpíadas.

Oficialmente, o Ministério do Esporte diz que o George Hilton continua trabalhando normalmente. A dúvida é: até quando?

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