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José Serra: “O impeachment não resolve a crise”

Senador tucano crê que o o Governo Dilma cairá e descarta tentativa de golpe de Estado

José Serra (ao centro) assiste a um seminário durante evento jurídico em Lisboa que reúne, em sua maioria, líderes opositores do Governo petista.
José Serra (ao centro) assiste a um seminário durante evento jurídico em Lisboa que reúne, em sua maioria, líderes opositores do Governo petista.Armando Franca (AP)

O senador de oposição José Serra (PSDB-SP) dá como certa a queda do Governo de Dilma Rousseff, embora afirme que “o impeachment não resolve a crise”. O tucano, que disputou a presidência da República com a mandatária em 2010 participou em Lisboa do IV Seminário Luso-Brasileiro de Direito, um evento jurídico que reuniu personalidades que em sua maioria se opõem ao Governo petista, promovido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

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Durante sua palestra sobre “sistemas políticos em tempos de crise”, ele minimizou as conquistas dos Governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma. “Dos anos cinquenta até os oitenta, o Brasil triplicou seu PIB; desde então, cresceu só 40%. O país se desindustrializou, e [o setor industrial] representa apenas 10% do PIB; toda a aposta da política econômica consistiu em favorecer o consumo.”

Serra observou que o país vive um “período de agonia” nos últimos anos. “As grandes manifestações começaram ainda em 2013, por causa do desemprego, e voltaram em 2015, mas já centradas na crítica ao Governo.”

Apesar de ser um evento jurídico, Serra não se esquivou de perguntas sobre a situação política. “Nunca acreditei que a Dilma possa perder o mandato por culpa da crise; o que ocorre no nosso país é que o sistema político impede uma mudança de Governo sem traumas. Historicamente, as mudanças presidenciais foram por suicídio, renúncia, deposição ou impeachment. O sistema presidencialista não permite outros. O impeachment, portanto, é um recurso político com decorrências jurídicas.”

"Para que essas crises não se repitam, é preciso mudar o trocar o regime presidencialista pelo parlamentarismo, e assim substituir os Governos sem traumas"

Como fórmula para acabar com as crises institucionais do país, Serra propôs uma mudança legislativa para que o sistema presidencialista seja substituído pelo parlamentarista, mas admitiu que será uma mudança difícil. “Dizer que a política é a arte do possível é reacionário; eu prefiro dizer que a política é a arte de ampliar os limites do possível.”

Serra, que recordou ter vivido os golpes militares do Brasil e do Chile, disse não acreditar que um golpe de Estado esteja sendo gestado no país —como tem classificado a presidenta Dilma, que em mais de um momento chamou os articuladores do processo contra ela de "golpista" —e  que tampouco deseje isso. “Estamos vivendo o período democrático mais longo da nossa história”, afirmou.

O senador tucano considera certa a queda do Governo, e acha que ela será benéfica para o Brasil. “Já vimos que só com a proximidade da queda da Dilma a taxa de risco caiu mais de 100 pontos. A mudança de Governo trará imediatamente algumas melhoras, porque cria novas expectativas nas pessoas. A mudança é saudável. Os juros cairão e se gerará entusiasmo, mas isso só terá efeitos em curto prazo; para que essas crises não se repitam, é preciso mudar o trocar o regime presidencialista pelo parlamentarismo, e assim substituir os Governos sem traumas.”

Questionado sobre o que faria se um dia se tornar presidente, Serra respondeu que priorizaria as exportações e o setor energético.

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