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Coluna
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Levando a política para a cama

Você teria um relacionamento amoroso, seja de que status for, com alguém que pense radicalmente o contrário?

Em momento de paixões políticas incendiárias, o cronista pesca, na rodinha de amigos da barraca Doutor Sócrates, posto 6, praia de Copacabana, a filosófica e edificante discussão: Você teria um relacionamento amoroso, seja de que status for, com alguém que pense radicalmente o contrário?

Um rapaz da turma, um típico carioca filiado ao partido dos gozadores, explica melhor a história:

“Tipo aquele coxinha da firma que ama a petralha do RH.”

Na assembleia praieira havia representantes de todas as cores. Até apartidários, criaturas cada vez mais difíceis de se achar na praça. Para os momentos mais tensos da prosa, o garçom, óbvio, funcionava como juiz moderador, servindo as suas ampolas glaciais sob um solzão de 37º como testemunha.

“Com reaça, nem a pau, nem para uma rapidinha de Carnaval”, discursava o brotinho mais exaltado –sim, no Rio ainda existem os brotinhos, meu caríssimo Paulo Mendes Campos, depois te escrevo sobre o assunto.

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“Pra petista não dou nem bom dia, imagina esse corpicho”, exaltou outra moça, empolgadíssima com a marcha de protesto deste domingo. Ela comentara um pouco antes que havia customizado uma camisa da seleção brasileira especialmente para o ato.

Menos criteriosos no tema, os meninos da roda tiravam onda: “Não peço carteira de identidade ideológica nem para baranga”, comentou o mais incorreto, o “porco chauvinista” da galera. “O importante é o teor da felação premiada”, disse outro trocadilhesco rapaz do grupo. Foi o que de mais leve saiu da boca dos marmanjos.

Dormindo com inimigo

Em outras ocasiões de embates eleitorais acirrados, escrevi várias vezes sobre o tema. Nada era tão radical assim, embora reinasse a treta. Importante voltar ao assunto.

E você, leitor(a), dormiria com o inimigo político?

Imagina uma DR, a mitológica discussão de relação, acrescida do tempero caseiro ideológico? Mortal combate na certa.

“Além de paneleiro golpista, ficou brocha”, ela atacaria, baixando geral o nível que já andava flertando com o esgoto.

“Sua comunista acobertadora de ladrões, vai levar cigarro pro sapo barbudo na cadeia”, ele mandaria de volta.

“O importante é o teor da felação premiada”, disse outro trocadilhesco rapaz do grupo.

É o tipo de briga que, convenhamos, não esquenta a transa depois. Tesão zero.

Melhor parar por aqui nosso exercício de imaginação. Não podemos mexer com essa gasolina da discórdia nesse momento histórico.

Recomendo também que os amantes não façam uso da delação premiada no amor e no sexo. Um perigo. Deixa quieto. Aqui ninguém entrega ninguém e estamos combinados.

Fenômeno Hegel

E de repente o Brasil, nas redes sociais ou nos botecos pés-sujos da Lapa, começa a discutir sobre o Hegel. Não se fala de outra coisa. Mundão perdido e sem porteira em que os alemães nos humilham no futebol e nós discutimos a filosofia deles.

Como diria o próprio pensador, “nada é, tudo vem a ser”. Sim, dele mesmo, o Hegel. Mais ou menos naquele embalo da música dos Titãs: É o que não pode ser que não / É o que não pode ser que não/ É...”

Não deixa de ser um pensamento adequado para o episódio do tríplex que seria ou poderia ter sido um dia do Lula. Os promotores de São Paulo fizeram muito bem em trocar o Engels pelo Hegel no pedido de prisão.

Entre a apreensão da realidade e a própria realidade há uma complicação desgraçada, como diz o Ceará II, meu garçom predileto do Galeto Sat´s, o templo da filosofia de Copacabana, onde se discute a “fenomenologia do espírito” da obra hegeliana mais do que em toda a história de Stuttgart, terra onde nasceu o pensador. Chupa, Alemanha.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor do romance “Big Jato” (Companhia das Letras), entre outros livros. Na televisão, é comentarista do programa “Papo de Segunda” (GNT).

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