Líder socialista apela a Podemos para tentar formar Governo na Espanha
Sánchez, sem maioria, enfatiza "mudança" em sessão do Congresso. Votação é nesta quarta
Pedro Sánchez, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), propôs nesta terça-feira um "Governo da mudança e do diálogo" que retire a Espanha da situação de impasse e, acima de tudo, que corrija as consequências causadas durante a permanência do Partido Popular (PP) no Executivo. Foi o discurso de posse no Congresso do líder socialista, indicado pelo Rei Felipe IV para tentar formar Governo após o pulverizado resultado das históricas eleições de 20 de dezembro.
A mensagem de Sánchez foi dirigida especialmente ao esquerdista Podemos, terceiro em número de cadeiras no Parlamento e a única força política capaz de ajudar o PSOE a formar Governo. O primeiro teste do líder do PSOE no plenário será nesta quarta. Com seu acordo com o Ciudadanos, centro-direita quarto colocado nas eleições, o socialista conseguirá somente 130 votos dos 176 necessários para a maioria absoluta que deveria obter para formar uma gestão. Também não é o suficiente para a votação de sexta-feira à noite, segundo teste, quando só são necessários mais votos a favor do que contra.
Sánchez convocou todos os partidos que queiram a mudança; ou seja, toda a Câmara, exceto o PP. "Dezoito milhões de espanhóis e espanholas votaram pela não continuidade do atual Governo. Dezoito milhões de espanhóis esperam um Governo diferente, que corrija as consequências dos erros que foram cometidos e que abra caminho a outras e melhores políticas”, afirmou o líder socialista.
Por quase 90 minutos, leu um discurso no qual a palavra mais repetida foi "mudança" e no qual apresentou, como única opção, tirar a Espanha da situação criada pelos resultados das eleições de 20 de dezembro. Apenas o PSOE, segundo sua explicação, é capaz de aglutinar um Governo de mudança na Espanha.
Em sua análise, voltou a descartar a possibilidade de um acordo de grande coalizão com o PP, fez uma emenda à totalidade do mandato de Mariano Rajoy e, em seguida, deixou claro que não é possível, mesmo que quisesse, um acordo da esquerda, embora existam "muitos eleitores socialistas", reconheceu, que "gostariam muito que um Governo reunisse as principais forças da esquerda". A única fórmula que poderia formar uma maioria, afirmou, é o acordo transversal dos partidos que querem uma mudança, e essa ideia foi repetida por ele quase uma dúzia de vezes. "Queremos uma mudança de Governo com base no acordo, sim ou não?" perguntou Sánchez.
O líder socialista apelou à sua responsabilidade para assumir a tarefa encomendada pelo Rei, agradeceu ao líder dos Ciudadanos, Albert Rivera, sua vontade de fazer um pacto, e fez um relato detalhado sobre o acordo assinado com o partido laranja. Sem mencionar especificamente, convocou o Podemos para um acordo de mínimos com o apoio de todos os grupos — enquanto Pablo Iglesias e seus deputados respondiam com aplausos aos elogios a Albert Rivera — e fez uma clara alusão ao líder do partido: "O Governo da mudança é modelado a partir do acordo, não do ataque".
Também acenou ao Podemos em forma de propostas, como um plano de emergência para 750.000 famílias, entre outras. Todas essas medidas, destacou, poderiam ser lançadas na próxima semana, se o Podemos permitisse sua posse, se abstendo. Os grupos não definirão suas posições até a quarta-feira pela manhã, embora o partido de Iglesias já tenha sugerido que votará contra.
Para Sánchez, “hoje, nesta Câmara, existe uma ampla maioria que defende, com sensibilidades diferentes, uma mudança de Governo, uma mudança das políticas impostas e uma mudança nas formas de se governar”.
Reiteradamente, o pretendente enfrentou a opção do PP com a do chamado Governo de mudança: “Existe um amplo acordo sobre as mudanças que queremos em regeneração democrática, reconstrução do Estado de Bem-Estar, reativação e modernização econômica, criação de emprego com direitos e luta contra a dualidade do mercado de trabalho, o combate sem tréguas contra a corrupção. Só existem duas opções. Cabe a essa Câmara decidir que postura tomar. Ficamos parados ou começamos a andar”.
Não deixou claro que tipo de Governo propõe, sozinho ou em coalizão. Ele se limitou a afirmar que “os deputados e deputadas do Partido Socialista sabem que não temos uma maioria parlamentar suficiente para governarmos sozinhos. Um Governo não partidário, sem uma visão unitária e parcial da realidade, um Governo apoiado por diferentes forças, com diferentes ideologias, mas que compartilhem a ideia de se conviver em um amplo território comum. Além de ser o que melhor representa a demanda da sociedade”, argumentou, “é o único caminho possível”.
Para justificar sua intenção de se apresentar à investidura sem um acordo que lhe permita governar, Sánchez afirmou que pretendia “deixar clara nossa firme vontade de trabalhar por uma mudança da política espanhola”, também “estender a mão a todos que compartilhem um objetivo comum, o de conseguir mediante o diálogo e o acordo uma mudança desse Governo e uma mudança na forma de se governar esse país”. “Quero manifestar minha satisfação porque ao dar um passo à frente, e aceitar essa sessão de investidura, resolvemos o bloqueio da situação política causado pela falta de responsabilidade do senhor Rajoy. Os mecanismos da democracia hoje voltam a funcionar. Os prazos começam a correr e o Estado sai do bloqueio. Meu fracasso teria sido recusar o oferecimento do chefe do Estado”, argumentou.
Sánchez incluiu uma referência à Catalunha, sem admitir o referendo de autodeterminação, mas aceitando a opção do acordo sobre o documento que o então presidente da Generalitat Artur Mas entregou a Mariano Rajoy com 23 pedidos em julho de 2014. O agora presidente não contestou à época esse pedido.
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