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Sob ‘fogo amigo’ do PT, Cardozo pede demissão do Ministério da Justiça e aumenta crise do Governo

Dilma confirma saída do ministro, que não aguentou pressão do PT Petistas cobravam pulso firme sobre ação da PF

O ministro Cardozo, no Rio, no dia 19. (YASUYOSHI CHIBA/ AFP)
O ministro Cardozo, no Rio, no dia 19. (YASUYOSHI CHIBA/ AFP)YASUYOSHI CHIBA (AFP)

O fogo amigo do PT derrubou um petista de um dos principais ministérios da gestão Dilma Rousseff. José Eduardo Cardozo, o ministro da Justiça, informou à presidenta que pretendia deixar o cargo no início da manhã e sua saída foi confirmada pela presidenta na tarde desta segunda-feira. Ele vinha sendo pressionado a interferir na Polícia Federal para amenizar as investigações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta ao menos dois inquéritos relacionados a imóveis ligados a ele. É a terceira vez que Cardozo cogitou deixar o cargo por reclamações de seus colegas de partido. Nas outras duas ocasiões, foi convencido por Rousseff a permanecer.

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O agora ex-ministro da Justiça é um dos homens de confiança da presidenta e será deslocado para a Advocacia Geral da União, que ficaria acéfala nas próximas semanas com o já anunciado desligamento de Luís Inácio Adams. No cargo desde 2011, depois de ter trabalhado na equipe de coordenação da campanha que elegeu Rousseff pela primeira vez em 2010, Cardozo viu as críticas contra ele crescerem exponencialmente na última semana, quando um grupo de parlamentares petistas foi ao seu gabinete reclamar da PF e quando o próprio Lula sugeriu, na festa de aniversário do PT, que seus sigilos bancários, telefônicos e fiscais seriam quebrados. A interlocutores, Cardozo diz que não teria como impedir qualquer ato legal dos investigadores. Administrativamente a PF é vinculada ao Ministério da Justiça, mas conforme a Constituição Federal, ela tem autonomia para investigar qualquer cidadão, respeitando os foros privilegiados.

Em uma nota à imprensa, a Associação Nacional dos Delegados da PF (ADPF) diz que recebeu a notícia da possível queda de Cardozo com extrema preocupação, principalmente pela suspeita de que ela ocorreria em razão de pressões políticas. “Nos últimos anos vimos os investimentos na Polícia Federal despencarem. Não nos sentimos prestigiados em comparação com outras instituições, como a Justiça, o Ministério Público e a Defensoria. Mas não podemos acusar o ministro de interferir em qualquer investigação. E é isso que a Polícia Federal quer, autonomia”, disse o presidente da ADPF, Carlos Eduardo Sobral.

Com a saída de Cardozo, quem assume o ministério da Justiça é o ex-procurador-geral da Justiça do estado da Bahia Wellington César Lima e Silva. Junto com essa troca, Rousseff também anunciou mudança no comando da Controladoria Geral da União (CGU), que será presidida por Luiz Navarro Brito. A CGU vinha sendo comandada interinamente por Carlos Higino desde dezembro.

No Congresso Nacional, o assunto ganhou fôlego e membros da bancada do PT chegaram a sugerir que Rousseff empossasse um dos deputados da legenda na função. Os nomes ventilados foram do carioca Wadih Damous e o do paulista Paulo Teixeira.

A presidenta, porém, resiste à indicação por entender que passaria um sinal negativo às instituições e daria a entender que a PF estaria completamente sob o controle de seu partido. Por essa razão, ela deve escolher um nome mais técnico. Por influência do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, Rousseff estuda a possibilidade de empossar Wellington César Lima, um procurador de Justiça na Bahia.

Linha de frente de Dilma

Ministros da Justiça desde 2011, José Eduardo Cardozo é procurador licenciado no município de São Paulo. Sua carreira política ganhou força quando, em seu segundo mandato como vereador paulistano, presidiu a CPI da Máfia dos Fiscais e sugeriu no ano 2000 o impeachment do então prefeito Celso Pitta (morto em 2009). Eleito duas vezes deputado federal, Cardozo relatou o projeto de Lei da Ficha Limpa.

Quando se tornou ministro, levou consigo um quadro técnico gabaritado na área de segurança pública, já que tinha pouca experiência nesse quesito. Dois antigos aliados dele no ministério disseram ao EL PAÍS que Cardozo era um ministro dedicado e aberto ao diálogo, seu único defeito era ser "mulherengo", algo que não diz respeito à função que ocupa.

Em qualquer crise envolvendo o Governo é comum ver Cardozo na linha de frente da defesa de Dilma Rousseff. Já foi escalado para falar de uma dezena de assuntos, desde impeachment presidencial até protestos contra a Copa do Mundo. É um dos mais leais aliados da presidenta, e sua saída isola ainda mais a presidenta, num momento em que vive divergências públicas com o PT.

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