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No primeiro embate do ano, Governo consegue impor derrota a Eduardo Cunha

Vitória de Picciani para liderança do PMDB mostra que presidente da Câmara perdeu força no partido

Fantasiados de mosquitos, manifestantes criticam ministro Marcelo Castro.
Fantasiados de mosquitos, manifestantes criticam ministro Marcelo Castro.UESLEI MARCELINO (REUTERS)
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Na véspera da eleição para a liderança do PMDB na Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Eduardo Cunha, disse em tom confiante que escreveria o resultado do pleito em um papel e o colocaria dentro de um envelope lacrado. Assim que terminasse a votação, o peemedebista apresentaria o papel para os jornalistas com o número de votos que dariam a vitória ao seu candidato, Hugo Motta. Assim que a urna foi aberta com 37 votos para Leonardo Picciani, candidato do Governo de sua grande rival, Dilma Rousseff, e 30 para Motta, Cunha voltou atrás. Disse que não tinha motivos para revelar o seu palpite. Com a voz aguda que lhe é peculiar em momentos de maior tensão, afirmou que não se sentia derrotado, afinal, não era ele o candidato, mas sim um aliado seu.

Cabe ao líder da bancada sinalizar o rumo que a legenda deve seguir em votações de projetos de lei e a escolher membros de comissões permanentes e temporárias, como a do impeachment de Rousseff, que será formada nas próximas semanas.

As movimentações de Cunha no recesso parlamentar para pedir votos para Motta (“Votar nele é votar em mim”, dizia) mostram que a reeleição de Picciani foi um duro golpe para o homem que já teve o seu partido na palma da mão e que, por isso, conseguiu impor importantes derrotas à Rousseff no ano passado. Ele foi eleito duas vezes para a liderança, uma delas por aclamação, e acabou festejado pelo PMDB como um candidato alternativo à presidência da Casa no ano passado. Até que chegou a operação Lava Jato, a revelação da existência de contas bancárias no exterior e a suspeita de receber milhões de reais em propinas.

Agora, internamente, Cunha não é mais unanimidade. Costumava ser mal visto por uma minúscula (quase inexistente) ala independente da sigla, mas agora passa a perder a sustentação de parte de quem um dia lhe foi fiel. Por isso, a reeleição de Picciani nesta quarta-feira representa mais do que uma vitória do Governo Dilma Rousseff. É uma sonora derrota de Cunha, no primeiro embate que ele trava com sua rival. Ele, entretanto, nega. “Nunca estive isolado na bancada. Nem estou isolado. Votar no Picciani não significa estar contra mim”.

Nesta quarta-feira, não foi bem isso o que os peemedebistas entenderam. Cinco deputados decidiram retornar ao Legislativo para dar suporte ao candidato do Governo à reeleição e inflaram a bancada do PMDB, que atingiu 71 parlamentares – dois votaram em branco e dois não compareceram à votação. “Não há a menor dúvida de que o Governo sai fortalecido com essa vitória do Picciani. As posições contra o Governo, de maneira geral, ficam enfraquecidas”, afirmou o ministro da Saúde, Marcelo Castro, um dos peemedebistas que voltou à Câmara apenas para votar. O Governo tinha tanto interesse na escolha do líder do PMDB, do qual é completamente dependente nas votações da Casa, que liberou o ministro da Saúde para o pleito em meio a uma grave crise de saúde pública, o aumento de casos de microcefalia no país, e não se opôs à visita de Celso Pansera, outro ministro peemedebista, que acompanhou a votação in loco durante um dia de trabalho regular. Os dois ministros entraram no Governo em outubro passado, em uma polêmica reforma ministerial feita por Rousseff para dar mais espaço aos peemedebistas e conseguir mais apoio a seus projetos na Câmara.

Se não bastasse a movimentação dos ministros, outro momento em que demonstrou um racha entre os peemedebistas, e mais uma vez a derrota de Cunha, foi quando cinco mulheres entraram no plenário, ao fim da apuração, e começaram a chamar os aliados de Picciani de “traidores, petistas”.

Enquanto na reunião do PMDB todo protesto contra Picciani era aceito, do lado de fora da Câmara um grupo de 30 pessoas que pediam a destituição de Cunha da presidência da Casa foi impedido de entrar no local. A Polícia Legislativa fez um cordão de isolamento no acesso do anexo 2 e barrou os manifestantes, vinculados a um grupo de sem-teto do Distrito Federal. Eles bradavam: “Fora, Cunha ladrão”.

No mesmo momento em que era derrotado na sua bancada, Cunha via, pela 15ª sessão consecutiva, o seu processo ficar estancado no Conselho de Ética, onde responde por quebra de decoro parlamentar. O novo relatório foi lido, pedindo a admissibilidade do processo contra ele. Mas um aliado seu, Wellington Roberto (PR-PB) pediu vistas de dois dias úteis e prorrogou a votação do documento.

Picciani e Motta se cumprimentam antes da votação.
Picciani e Motta se cumprimentam antes da votação.Fernando Bizerra Jr. (EFE)

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