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As pesquisas não devem acertar quem será o prefeito da sua cidade. E não estarão erradas

Menor tempo de campanha deve aumentar importância da internet na eleição, dizem institutos

Rodolfo Borges
Campanha de Aécio Neves promove pesquisa do Instituto Paraná no Facebook, em 8 de outubro de 2014.
Campanha de Aécio Neves promove pesquisa do Instituto Paraná no Facebook, em 8 de outubro de 2014.Reprodução Facebook
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Foi uma reviravolta. Após ultrapassar a ex-senadora Marina Silva na reta final do primeiro turno, o senador Aécio Neves disparava na disputa pelo Palácio do Planalto contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2014. Era o que apontava a primeira pesquisa sobre o cenário do segundo turno. Mas os 54% de intenções de voto do tucano contra os 46% de Dilma aferidos pelo instituto Paraná Pesquisas a pedido da revista Época se transformariam em empate técnico logo no dia seguinte, na contagem dos institutos Ibope e Datafolha. A mudança brusca de expectativas deixou dúvidas sobre a lisura dos institutos e, se você está entre aqueles que enxergam motivações escusas na divulgação dessas pesquisas, prepare-se: variações como essa prometem ser ainda mais intensas nas eleições municipais deste ano, avisam os institutos.

Com a determinação, na mini-reforma eleitoral do ano passado, de que o tempo oficial de campanha será cortado pela metade (de 90 para 45 dias) e de que haverá um limite de gastos para os candidatos, a influência da internet — um meio mais barato para propaganda — deve aumentar nas eleições municipais de 2016, prevê Márcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência. Segundo ela, pelo menos 19% dos eleitores planejam utilizar as redes sociais e a web para se informar sobre o pleito deste ano — em 2008, eram 3%. "Na eleição municipal, qualquer mudança impacta de forma muito rápida. E isso se intensificou após a chegada da internet. Antes a informação demorava mais para chegar", diz Cavallari.

Para Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do Datafolha, essa volatilidade maior já pôde ser sentida na última disputa pela prefeitura de São Paulo, por exemplo, quando o então favorito nas pesquisas, Celso Russomanno (PRB), perdeu a corrida para Fernando Haddad (PT) nas últimas semanas. "A internet e, principalmente, as redes potencializaram a formação de opinião. Elas reúnem todos os vetores: conteúdo, crítica ao conteúdo e defesa. E justamente num fator de formação de opinião importante, composto por amigos e parentes", diz Janoni.

A pesquisa sempre reflete o passado, nunca prevê o futuro" Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do Datafolha

Assim, ainda que uma pesquisa feita no sábado anterior à votação aponte a vitória apertada de um candidato, seu concorrente pode se beneficiar de informações trocadas online nas horas seguintes e, dada a intensidade crescente da troca de conteúdos relacionados à política via internet, levar o cargo. Não por acaso, o instituto norte-americano Gallup decidiu não acompanhar com pesquisas de intenção de voto a corrida presidencial dos Estados Unidos neste ano.

Na última eleição norte-americana, o renomado instituto identificou o republicano Mitt Romney sempre à frente de Barack Obama durante a campanha. E dava 49% para Romney e 48% para o democrata em sua parcial derradeira. Obama acabou reeleito com quase quatro pontos de vantagem e, após revisar seus métodos, o Gallup resolveu que, melhor do que aferir a intenção de voto, é saber o que os eleitores pensam sobre os assuntos que pautam a campanha.

Intenção x voto

Os institutos de pesquisa brasileiros não manifestam a intenção de tomar uma atitude tão radical quanto a do Gallup, mas seus dirigentes se preocupam com a forma como as pesquisas têm sido interpretadas pela imprensa e pelo eleitorado. Murilo Hidalgo, presidente do Paraná Pesquisas, admite que seu instituto pode errar, mas garante ter um "histórico mais de acertos do que de erros" em seus 26 anos de história.

"Existe uma deturpação por parte dos meios de comunicação. A manchete dispara o resultado da eleição, mas a pesquisa está apontando apenas a intenção de voto. Além disso, a divulgação da pesquisa passou a ser usada como peça de marketing pelos candidatos", diz Hidalgo. O próprio pesquisador reconhece, contudo, que os levantamentos sobre intenção de voto contribuem para atrair recursos para as campanhas, já que medem a viabilidade das chapas — essa lógica será posta à prova numa eleição sem doações empresariais.

Para Márcia Cavallari, do Ibope, é preciso ficar claro que a pesquisa não tem o papel de adivinhar o resultado. "Temos de conscientizar a mídia e a população de que a pesquisa não é um oráculo infalível. Ela tem o papel de mostrar como a opinião está se formando, para que lado está indo, mas não o número exato do resultado". Na mesma linha, Janoni, do Datafolha, resume em poucas palavras: "A pesquisa sempre reflete o passado, nunca prevê o futuro".

Menos dinheiro equivale a menos pesquisas?

A crise econômica e o limite de gastos estabelecido para as campanhas deste ano devem diminuir a quantidade de pesquisas eleitorais encomendadas durante as eleições municipais, prevê Murilo Hidalgo, do instituto Paraná. Segundo ele, o instituto, que também faz levantamentos para acompanhamento interno dos partidos, já sentiu uma queda de 30% nas vendas em relação a outras eleições no Paraná, apesar de ter ampliado a atuação nacional nos últimos anos.

Já para Alessandro Janoni, diretor do Datafolha, o novo cenário eleitoral se apresenta como uma oportunidade para os institutos. Segundo ele, haverá maior "racionalização dos gastos", mas os candidatos também serão forçados a testar suas estratégias de campanha com mais cuidado, porque não haverá tempo a perder. Contudo, o Datafolha, que não presta serviço direto a partidos e candidatos em nome da "transparência e da imparcialidade", deve ficar ao sabor dos humores do mercado para vender suas pesquisas.

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