Por que Hitler usou sua arma mais mortífera contra quatro povoados espanhóis?
Em 1938, aviação nazista experimentou sua arma mais mortal em uma área longe da frente de batalha Após a guerra, o franquismo escondeu a história que um documentário revela agora
No dia 26 de abril de 1937 Guernica (cidade do País Basco) sofreu um bombardeio que serviu para que a aviação alemã experimentasse seus novos armamentos aéreos. Morreram 126 pessoas e o fato é lembrado como um ícone da luta pela liberdade... Mas poucos sabem que em maio de 1938 houve outro Guernica no El Maestrat, região da província de Castellón, que é parte da Comunidade da Valência.
Um ano antes do fim da Guerra Civil Espanhola, a Legião Condor da Alemanha nazista bombardeou Benassal e outras cidades do interior de Castellón causando 38 mortes e destruindo as cidades pequenas e tranquilas do Maestrat. Seus habitantes nunca entenderam o motivo. Agora, 75 anos depois, sabem que foram vítimas de um experimento nazista.
Naquela época ninguém soube explicar por que os alemães lançaram bombas de 500 quilos sobre aquelas pessoas que viviam tão longe da frente de batalha e de qualquer enclave estratégico. Ninguém até que um morador de Benassal, Óscar Vives, visitou o arquivo militar de Friburgo depois de ler em um livro de um historiador britânico uma breve referência a Benassal que chamou sua atenção.
No Bundesarchiv-Militärarchiv, encontrou um relatório de 50 páginas com muita documentação gráfica sobre os bombardeios de sua cidade, mas também de Albocàsser, Ares del Maestrat e Vilar de Canes. No relatório estava claro que o ataque foi uma experiência para testar os Junkers 87 Stuka, os novos aviões nazistas que mais tarde se tornariam as aeronaves mais temidas durante a Segunda Guerra Mundial.
Agora, uma produtora de Valência está fazendo um documentário que recuperou o material gráfico que ficou guardado na Alemanha, reconstruiu o bombardeio e entrevistou sobreviventes e parentes das vítimas. Experimento Stuka quer reviver aquele episódio macabro de uma história sem memória, resgatar do esquecimento esse Guernica valenciano, a quem ninguém, ainda, fez justiça.
"Entrevistamos uns vinte sobreviventes, testemunhas diretas do bombardeio. Na época eram crianças. Viram a morte de irmãos, parentes e vizinhos... Quando a guerra terminou, a ditadura enterrou o caso e nunca julgaram os responsáveis" conta Rafa Molés, diretor do documentário. "Essas crianças nunca tinha visto um avião em sua vida e praticamente não sabia nada da guerra. Quando ouviram os aviões chegando todas as pessoas saíram para vê-los. Alguns acreditaram que as bombas de 500 quilos que atiraram eram apenas fardos de palha".
Segundo Rafa Molés, o que aconteceu em El Maestrat pode ser comparado ao bombardeio de Guernica. "Em Guernica, Hitler testou o poder destrutivo de seus aviões de guerra. Em Castellón experimentou uma arma absolutamente secreta. Nem Franco a conhecia", acrescenta. "Depois do escândalo de Guernica, Franco pediu à Legião Condor para não atacar alvos civis, por isso Hitler escolheu quatro pequenas cidades de Castellón, alvos indefesos, ignorantes do que estava acontecendo. A Legião Condor não informou nunca o que fez lá".
O documentário, em fase em produção, já foi selecionado entre 250 projetos de todo o mundo, no mercado do Festival Internacional de Documentários DocsBarcelona e conta com uma proposta de ajuda da Generalitat Valenciana, além da colaboração da Universitat Jaume I de Castellón.
O projeto de longa-metragem, produzido por SUICAfilms, é dirigido por Rafa Molés, nascido em Castellón, e Pepe Andreu, nascido em Elche, outra cidade da Comunidade Valenciana. Além disso, Núria Tirado participa do roteiro. A produtora executiva é Natalia Maestro e a fotografia é de José Luis González.
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