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Nova manobra de aliados adia para esta quarta votação contra Cunha

Apoiadores ganham tempo em debates e adiam análise de relatório que propõe cassação

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha.U. M. (REUTERS)

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados adiou para esta quarta-feira a votação do relatório que pede a abertura da investigação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoro parlamentar. Em princípio, a análise do relatório estava prevista para a tarde desta terça-feira, mas aliados do peemedebista fizeram de tudo para inviabilizar a votação do documento. Por quase duas horas promoveram discussões que não levavam a lugar nenhum. Debateram sobre a fila de entrada na sala do Conselho de Ética, levantaram suspeitas sobre o relator do caso (Fausto Pinato – PRB-SP) e reclamaram do condicionador de ar que mal funcionava em uma sala que abrigava mais de uma centena de pessoas.

Como havia mais de 25 deputados inscritos para discursarem, o debate que se iniciou às 14:46, se estendeu por quase seis horas, quando já ocorria a sessão do Congresso Nacional. Como o regimento interno da Câmara proíbe que sejam tomadas decisões nas comissões ou conselhos enquanto houver votações no plenário do Legislativo, o presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PSD-BA), decidiu iniciar a votação do relatório apenas na tarde de quarta-feira.

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Entre os sete deputados com direito a voto no conselho que se manifestaram até a conclusão desta reportagem, seis foram favoráveis à continuação da investigação que poderia resultar na cassação do mandato de Cunha. Apenas o deputado Wellington Roberto (PR-PB) apresentou um voto em separado no qual defende a continuidade da votação, mas com a punição máxima de censura escrita, ou seja, contrário à cassação. “Não precisa ter tanto ódio, tanto rancor para condenar um colega. O que falta aqui é humanidade. Mais irmandade entre os colegas”, afirmou Roberto ao ler o seu voto em separado.

O placar parcial de seis votos a favor da admissão das investigações ainda não representa uma vitória dos opositores de Cunha. Boa parte dos aliados do presidente da Câmara que são titulares no Conselho de Ética não se manifestaram e devem fazê-lo na quarta, caso não haja nenhuma manobra influenciando o andamento da sessão. Ao total, o Conselho de Ética tem 21 membros, contando o presidente que, em caso de empate na votação, teria o voto de minerva.

“Delação torturada”

Durante as seis horas da sessão desta terça-feira, o advogado Marcelo Nobre, um dos defensores de Cunha, negou que seu cliente tenha contas no exterior ou que tenha mentido na CPI da Petrobras e reclamou que o julgamento estava sendo politizado com base em uma delação premiada sem provas. “Delação torturada não faz prova de nada”, afirmou Nobre em referência aos réus da Operação Lava Jato que denunciaram ter pago 5 milhões de dólares de Cunha como propina dentro do esquema que desviou recursos da Petrobras.

O discurso dele foi rebatido por opositores do peemedebista. “Não houve tortura. Não cheguemos ao extremo de pensar que delação premiada seja comparada com tortura”, afirmou o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE).

Na mesma linha e cobrando que os membros do PT votem a favor do andamento do processo, o deputado Nelson Marchezan Junior (PSDB-PR) afirmou que a sociedade não perdoaria a Câmara, caso as denúncias não fossem investigadas.

PT, impeachment e Rui Falcão

Nos últimos dias, Cunha ameaçou dar início ao processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), caso os três deputados do partido dela – Valmir Prascidelli (SP), Léo de Brito (AC) e Zé Geraldo (PA) – votassem contra ele no Conselho de Ética. Nenhum dos três se manifestou na reunião do conselho. Prascidelli iria discursar, mas pediu para adiar sua fala para a próxima sessão. À tarde, o presidente do PT, Rui Falcão, postou mensagem no Twitter recomendando o voto contra Cunha.

Com o adiamento da votação, Cunha consegue praticamente garantir que o processo contra ele não termine neste ano. Caso seja autorizada a abertura da investigação, o caso só deverá ser concluído em março ou abril por conta do recesso parlamentar que se inicia em 22 de dezembro e segue até o início de fevereiro.

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