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Andrade Gutierrez oferece 1 bilhão e dois senadores em acordo na Lava Jato

Otávio Azevedo, preso há 150 dias, está na negociação final para assinar delação premiada Ministério Público suspeita que propina também atingiu obras da Copa e usina nuclear

Otavio Azevedo e Marcelo Odebrecht, em junho.
Otavio Azevedo e Marcelo Odebrecht, em junho.RODOLFO BUHRER (REUTERS)

Duas semanas atrás, um incomum sorriso aparecia na face de um homem que estava preso havia 150 dias pela Operação Lava Jato. Otávio Marques de Azevedo, o presidente da segunda maior empreiteira do Brasil, a Andrade Gutierrez, estava diante de uma câmera e frente a frente com o juiz Sérgio Moro, que vai definir o seu futuro e de todos os mega-empreiteiros brasileiros presos sob suspeita de corrupção na Petrobras.

Ao invés de demonstrar a habitual tensão dos réus, o empreiteiro tentava fazer brincadeiras para descontrair o ambiente. A estranha tranquilidade tinha uma razão: seus defensores já estavam negociando um acordo de delação premiada e outro de leniência que podem resultar em sua saída da prisão mediante uso de tornozeleira eletrônica, no pagamento de uma multa de 1 bilhão de reais e na acusação de ao menos dois senadores que estariam envolvidos no esquema. Assim, ao invés de responder aos questionamentos feitos por Moro, Azevedo só agradeceu a sua família e disse que não falaria nada ao magistrado.

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“Eu queria rapidamente fazer um agradecimento à minha família, que nesses 150 dias me suportou, me apoiou, meus familiares, meus amigos e dizer que, por orientação dos meus advogados, que vou permanecer em silêncio.”

Nesta sexta-feira, o jornal Folha de S. Paulo revelou em sua versão on-line o bojo desse acordo. Duas pessoas que tiveram acesso às investigações confirmaram ao EL PAÍS que ele está a ponto de ser finalizado e seria firmado com a Procuradoria-Geral da República, com o Ministério Público Federal no Paraná e com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Oficialmente, porém, nenhum desses órgãos confirmaram essa informação sob a alegação de que, caso ele exista, poderia ser maculado antes de ser homologado judicialmente por Moro e pelo ministro Teori Zavascki, o responsável no Supremo Tribunal Federal pelos casos envolvendo a Lava Jato. O advogado de Azevedo, Celso Vilardi, disse apenas que não pode comentar o assunto por questões éticas.

Segundo a Folha, a Andrade Gutierrez vai admitir que pagou propinas em uma série de obras que conduziu, além das que tocava com a Petrobras. Entre elas estariam empreitadas da Copa do Mundo de 2014, na usina nuclear Angra 3, na hidrelétrica de Belo Monte e na ferrovia Norte-Sul. Os procuradores já suspeitavam das irregularidades na Copa, mas não havia nenhuma prova concreta até o momento.

Em um primeiro momento, conforme pessoas que participam da negociação das tratativas entre o réu o Ministério Público, Azevedo não queria admitir a culpa. O que o motivou foram as frequentes citações feitas por outros delatores do esquema, como o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o lobista Fernando Soares, o Baiano.

Caso se concretize, esse será o maior acordo firmado até o momento pela Lava Jato, que já recuperou 1,8 bilhão de reais. Antes dele, o que obteve mais recursos de multa foi um assinado com a Camargo Corrêa – 800 milhões de reais – em julho passado. Para fechar esses acordos, o Ministério Público leva em conta o tamanho da organização e qual foi a participação dela no desvio. Por exemplo, a Camargo Corrêa é a quinta maior do país e teve uma receita líquida de 4,5 bilhões de reais no ano passado. Já a Andrade Gutierrez, a segunda, teve uma receita de 8,4 bilhões de reais e é acusada de ter pago cerca de 632 milhões de reais em subornos para obter contratos com a Petrobras.

Até agora, representantes de ao menos quatro empreiteiras já se comprometeram a colaborar com as investigações e entregar os outros participantes do suposto esquema de corrupção, entre eles políticos com foro privilegiado. Com a maior adesão dos empreiteiros, aumenta a pressão para que a Odebrecht, a principal construtora brasileira, siga o mesmo caminho. Na última vez que foi questionado sobre o assunto durante depoimento na CPI da Petrobras, o presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, que está preso em Curitiba, disse que não tinha nada para delatar.

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