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Ataque jihadista múltiplo foi preparado na Bélgica e na Síria

Identificados três franceses entre os supostos jihadistas dos ataques. Os investigadores acreditam que Ismail Omar Mostefai, parisiense de 29 anos, viajou à Síria em 2013

Carlos Yárnoz
Autoridades mantém buscas por pistas na França e na Bélgica.
Autoridades mantém buscas por pistas na França e na Bélgica.Jeff J Mitchell (Getty Images)

A Bélgica e a Síria são os epicentros onde foram planejados os ataques jihadistas de Paris que causaram a morte de 129 pessoas. Vários dos terroristas identificados residiam em Bruxelas e arredores, e foi ali onde se alugou pelo menos um dos carros usados pelos terroristas. Pelo menos três dos terroristas identificados tinham passado temporadas na Síria. Antes do múltiplo ataque, eles mantiveram contato com pessoas que moram nesse país do oriente Médio. Enquanto isso, a França e a Europa em seu conjunto se encontram em estado de alarme máximo na caçada aos terroristas que conseguiram fugir após a carnificina. Os alarmes foram disparados depois que a polícia identificou um dos fugitivos como Salah Abdeslam, de 26 anos, que passou da Bélgica para a França na sexta-feira.

A polícia já identificou cinco suicidas franceses, dois deles residentes na Bélgica. Um deles é Ibrahim Abdeslam, de 31 anos, irmão de Salah. Ele se suicidou na sexta-feira no restaurante do bulevar Voltaire, onde feriu uma pessoa. Outro é Bilal Hadfi, de 20 anos, que se matou na região do Stade de France. Ele vivia na Bélgica e passara vários meses na Síria. O terceiro é Ismail Omar Mostefai, nascido em outubro de 1985 em Courcourronnes e que morava em Chartres, no sudoeste de Paris, e viajava às vezes para a Bélgica.

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Mostefai se mudou no segundo semestre de 2013 para a Turquia e, segundo fontes policiais, partiu para a Síria para se unir aos jihadistas, onde permaneceu vários meses. O suicida foi identificado a partir de um pedaço de um dedo encontrado na sala de concertos Bataclan. O promotor de Paris, François Molins, informou, na noite de sábado, que o primeiro dos camicases identificados –que seria Mostefai—fora detido em oito oportunidades por crimes comuns e menores. Molins acrescentou que, desde 2010, Mostefai estava fichado por suas atividades relacionadas ao islamismo radical.

O quarto terrorista identificado carregava um passaporte em nome de Ahmad Al Mohammad, nascido em 1990. Atacou o Stade de France. Samy Amimour, nascido em 1987 em Paris, é o quinto. A França já havia expedido um mandato de prisão internacional para ele, que atacou a Bataclan. Segundo sua família, esteve na Síria em 2013.

Os autores dos ataques se comunicaram anteriormente à chacina com membros de destaque do Estado Islâmico (EI), segundo o jornal norte-americano The New York Times, que cita fontes da investigação de ambos os lados do Atlântico. Segundo o jornal, os terroristas fizeram essa comunicação através de um sistema criptografado.

Bombardeios maciços

O Ministério da defesa francês anunciou na noite deste domingo que seus aviões realizaram bombardeios maciços na região síria de Raqa. Dez aviões lançaram 20 bombas e destruíram um centro de comando e um campo de treinamento dos jihadistas, segundo afirmou o ministério. Foi a primeira resposta à matança de sexta-feira.

Seis familiares de Mostefai, entre eles seu pai, um irmão e a mulher deste, foram detidos. Também foi preso um outro irmão de Salah Abdeslam na Bélgica, onde foram realizadas várias detenções e buscas em locais à procura de provas sobre os autores dos atentados de Paris.

Em encontro em Paris, o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, e seu homólogo belga, Jan Jambon, destacaram, que belgas e pessoas residentes na Bélgica tiveram um papel determinante no múltiplo ataque jihadista em Paris. Os ataques foram “preparados no exterior”, insistiu Cazeneuve, referindo-se também à Síria e ao Iraque.

Salah Abdeslam alugou na Bélgica o Volkswagen Polo usado pelos terroristas que mataram 89 pessoas no Bataclan. Uma fotografia de Salah Abdeslam, que tem 1,75 metro de altura e olhos castanhos, foi distribuída pela polícia.

A França alertou vários países europeus para a possibilidade de que Abdeslam tenha deixado o país. Em um alerta enviado à Espanha e a outros países, informa-se que se trata de “um indivíduo perigoso”, que pode estar envolvido nos atentados.

Na manhã do sábado, dia seguinte aos atentados, Abdeslam foi identificado em um posto de controle da fronteira franco-belga a bordo de um outro automóvel. Estava acompanhado de dois moradores de Bruxelas. A polícia francesa os identificou e deixou que passassem, pois não estavam fichados.

Na própria sexta-feira à noite, após os ataques, a França também enviou à Espanha um comunicado apontado para a possibilidade de que os ocupantes de dois carros com chapas belgas, um Seat preto e um Golf cinza, poderiam se dirigir para a Espanha. A nota afirmava que se trata de “indivíduos muito perigosos que podem estar armados”.

A identificação, neste domingo, no bairro parisiense de Saint-Denis, de um segundo carro usado pelos terroristas demonstrou que, como a polícia suspeitava desde sexta-feira, um terrorista ou cúmplice conseguira fugir. No automóvel foram encontrados três metralhadoras Kalachnikov.

O maior alerta está dirigido para a fronteira franco-belga. À medida que seus trabalhos avançam, os investigadores encontram mais provas de que os atentados foram preparados, em boa parte, na Bélgica, como sugeriu o ministro Cazeneuve.

Controles de fronteira

Os dois ministros se comprometeram a intensificar a cooperação bilateral de suas polícias, do judiciário e dos serviços secretos. A luta contra o tráfico de armas é um dos objetivos prioritários. Eles acrescentaram que, na reunião extraordinárias de ministros de justiça convocada para a próxima sexta-feira a pedido da França, irão propor ao restante dos países que se restabeleçam os controles nas fronteiras. É o que a França começou a fazer desde sexta-feira por causa da Conferência sobre o Clima, prevista para o período de 30 de novembro a 11 de dezembro em Paris.

No automóvel localizado neste domingo em Saint-Denis, na região de Montreuil, um Seat Leon preto, foram encontradas três metralhadoras Kalachnikov. Os dois carros usados pelos jihaditas foram alugados na Bélgica no começo da semana passada, como informa Lucía Abellán.

O ministro de Relações Exteriores do Iraque, Ibrahim Jaafari, afirma que seu país alertou antecipadamente a França sobre o risco de um atentado, informa Ángeles Espinosa. “Os serviços secretos iraquianos obtiveram com antecipação a informação de que países seriam atacados, sobretudo na Europa, concretamente a França, assim como os Estados Unidos e o Irã”, afirma Al Jaafari em um vídeo postado em sua página na Internet. O ministro, que não especifica se essas ameaças provêm do autodenominado Estado Islâmico (EI), que controla áreas bastante amplas da Síria e do Iraque, assinala ter informado a esses países sobre os riscos.

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