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Greve de caminhoneiros atinge nove Estados pedindo renúncia de Dilma

Movimento independente faz greve em um momento que a temperatura do impeachment arrefece no Congresso

Grevistas na refinaria da Petrobras de Cubatão.
Grevistas na refinaria da Petrobras de Cubatão.Rovena Rosa (Ag. Brasil)

O PT, um partido que surgiu do movimento sindical, agora se depara com dois movimentos de trabalhadores até então inesperados justamente no momento em que vê arrefecer, no Congresso Nacional, a temperatura do impeachment de Dilma Rousseff. A greve dos trabalhadores da Petrobras e de caminhoneiros autônomos causam preocupações diferentes, mas ambas com potencial para gerar mais danos à imagem da presidenta petista.

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As paralisações dos caminhoneiros já atingiram até o início da tarde desta segunda-feira as rodovias de ao menos nove dos 27 Estados do país. Em alguns locais houve concentração em acostamentos, em outros, bloqueios das estradas. Conforme o Comando Nacional do Transporte, o grupo independente que organiza os protestos, a greve foi registrada em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Norte e Tocantins. A principal demanda do grupo é a renúncia da presidenta Dilma Rousseff. Nenhuma pauta de reivindicações foi apresentada ao Governo e as principais entidades que representam os caminhoneiros não apoiam a paralisação.

A gestão Rousseff caracterizou a greve como pontual e que ela tem como único objetivo “desgastar o Governo”. “Se nós tivermos uma pauta de reivindicações o Governo Dilma sempre estará aberto ao diálogo. Uma greve que se caracteriza pelo único objetivo de gerar desgaste ao Governo é uma greve que não vai de encontro aos interesses dos brasileiros, da sociedade”, afirmou o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.

Nem os caminhoneiros nem os petroleiros têm como bandeira principal o reajuste salarial ou de benefícios trabalhistas, o que vai na contramão das últimas paralisações registradas no país desde 1983, conforme o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

Paralisados desde o dia 1º de novembro, os petroleiros reclamam principalmente da venda dos ativos da Petrobras e entendem que a companhia de capital misto está a um passo da privatização completa. “A maior empresa nacional sofre graves ataques, que já afetam a economia do Brasil e comprometem milhões de empregos. O condenável esquema de corrupção, envolvendo ex-diretores e ex-gerentes, não pode servir de pretexto para privatizar uma empresa”, diz trecho da nota da Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Neste caso dos petroleiros, o alerta não foi aceso apenas por conta dos prejuízos causados pela paralisação, mas porque demonstra que o PT tem perdido o controle de seu braço sindical, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade a qual a FUP é filiada. O presidente da CUT, Vagner Freitas, é um dos incentivadores dos protestos, que foi batizado como a Pauta pelo Brasil. Se não bastasse esse viés, outros movimentos sociais, uma das poucas bases de apoio do PT, também apoiam esse movimento grevista. Alguns deles, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) têm participado de uma série de atos reclamando da política econômica do Governo Rousseff. Neste domingo, uma multidão esteve na avenida Paulista para pedir a saída do ministro Joaquim Levy da Fazenda, além de fortalecerem o grito de “Fora Cunha”.

Acuada após uma semana de produção parada em ao menos 11 das 15 refinarias da Petrobras, em mais de 20 terminais e em 46 unidades marítimas, a diretoria da Petrobras marcou para esta segunda-feira a primeira reunião para debater a paralisação nacional da categoria. O encontro foi incentivado pelo gabinete da presidenta Rousseff.

A venda de ativos da Petrobras foi uma das alternativas encontrada pela empresa neste ano para estancar a sangria provocada, principalmente, pelo caso de corrupção descoberto pela operação Lava Jato que gerou ao menos 6 bilhões de reais de prejuízos à companhia.

Caminhoneiros autônomos

Já os caminhoneiros, que pararam as estradas brasileiras em fevereiro e março passado, pedem que Rousseff renuncie ao seu cargo. “Ela deixou de cumprir o que prometeu para a categoria em março e por isso tem de deixar a presidência”, diz um dos líderes dos caminhoneiros Ivar Schmidt. O grupo ligado a Schmidt, autodenominado Comando Nacional dos Transportes, promete paralisar seus caminhões a partir desta segunda-feira em todo o país. “Em princípio não vamos bloquear rodovias, a menos que a gente perceba que tem muito companheiro furando a greve”, avisa o líder trabalhista sem ligação com qualquer sindicato.

Caminhoneiro em Mossoró (RN), Schmidt iniciou os protestos do início do ano usando apenas as redes sociais e o aplicativo para celular WhatsApp. Quando o movimento grevista começou a ganhar corpo, entidades de classe engrossaram o coro que pedia a redução do preço do óleo diesel, um valor de frete mínimo e a aposentadoria permitida para os caminhoneiros que tivessem 25 anos de contribuição com a Previdência Social, entre outras pautas.

Agora, quando a pauta se tornou completamente política, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), a União Nacional dos Caminhoneiros e a Confederação Nacional dos Transportes rapidamente esclareceram que nada tem a ver com a paralisação. Em nota, a CNTA se apressou em criticar a liderança de Schmidt dizendo que considera o movimento imoral, que tem interesses particulares. O posicionamento oficial das entidades de classe só ocorreu após uma intervenção de auxiliares da presidenta.

“Não tenho como não dizer que o movimento não é político. Mas nós não traímos ou iludimos os trabalhadores. Tem mais de sete meses que a negociação não avança e só se criam falsas expectativas para os caminhoneiros”, explicou Schmidt.

Eleitor do candidato à presidência do PSDB derrotado em 2014, Aécio Neves, o líder dos caminhoneiros diz que só vai negociar com o Governo quando Rousseff não estiver mais no cargo. Se isso não ocorrer, ele e seus aliados prometem deixar seus caminhões trancados nas garagens.

Hoje, cerca de 2,5 milhões de caminhões são usados para transportar cargas no país. O setor é responsável pelo transporte de 58% de tudo o que é produzido no Brasil. E a preocupação do Governo é que uma greve, ainda que parcial, interfira no abastecimento de alimentos, combustíveis e outros produtos para diversas regiões. Algo que só alimentaria a insatisfação popular com a já debilitada gestão petista.

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