_
_
_
_
_

O lado mais fantástico de São Paulo chega a Madri

Exposição na Espanha mostra uma versão mais lúdica da grande metrópole brasileira

Um dos desenhos originais do Script Fantástico de São Paulo.
Um dos desenhos originais do Script Fantástico de São Paulo.Ángela León

A dura poesia das esquinas de São Paulo, eternizada em 1978 pelas palavras de Caetano Veloso, é o motor da arte de Ángela León na obra Guia Fantástico de São Paulo, cujos desenhos originais podem ser vistos na galeria Guayasamín, da Casa da América de Madri até o dia 5 de novembro. A desenhista espanhola, que vive há mais de quatro anos na cidade brasileira, pensa em fazer uma segunda edição do projeto editorial que retrata a urbe mesclando realidade e ficção.

“O Guia nasceu por meio de crowdfunding e com a ajuda dos paulistas. Há um sentimento coletivo de apropriação de espaços e um público que se interessa por isso neste momento”, afirmou León durante a inauguração da exposição Fantástica São Paulo, como parte do programa América nos Une, na Casa América.

Mais informações
A fantasia inunda São Paulo
Assim o paulistano curtiu a Virada
O jardim suspenso da Babilônia paulistana
“O pensamento conservador pode abordar coisas que as esquerdas recalcam”
São Paulo quer se apropriar de si mesma

“Recomendado para todos os que veem uma cidade, mas sonham com outra”, diz o texto que abre a exposição. De fato, os desenhos de León constroem uma imagem distinta da maior metrópole da América do Sul, cuja imagem está marcada por todo o concreto usado para construir seus edifícios, ruas e avenidas. Em sua obra, a desenhista evoca o lado humano e cultural da cidade ao recordar, por exemplo, os cinemas que ocupavam as ruas do centro nos anos oitenta, muitos dos quais agora se transformaram em igrejas evangélicas.

Com a ajuda do arquiteto Miguel Rodríguez, diretor da Basurama Brasil, e o apoio de coletivos culturais, o Guia pôde saltar dos desenhos para a realidade por meio de intervenções artísticas em festivais paulistanos já conhecidos, como o Baixo Centro e a Virada Cultural. Dessa maneira, em uma espécie de realidade mágica, os cidadãos puderam de fato desfrutar de balanços pendurados no Viaduto Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, que também se transformou em uma piscina de 30 centímetros de profundidade com a ajuda da arquiteta e artista Luana Geiger, embora somente por 24 horas.

León destaca essa colaboração entre artistas como parte do processo de reconquista do espaço público e de dar valor ao cotidiano e popular da cidade. Em um dos desenhos veem-se as típicas feiras livres de São Paulo, com suas frutas e verduras amontoadas. Essa imagem, que marcou León e Rodríguez, deu início ao projeto Caixa de Som, da Basurama. Registrado em vídeo na exposição, trata-se de um instrumento que permite que “crianças de 0 a 99 anos” mesclem os gritos dos vendedores das feiras com ritmos populares, como o funk carioca.

“São Paulo é uma cidade com uma imagem ruim, de congestionamentos, poluição... Essa obra nos mostra uma visão otimista e quase de sonho da cidade, não da metrópole que esmaga”, declarou no evento a conselheira cultural da Embaixada do Brasil em Madri, Rita Bered de Curtis. Como sustenta outro dos vídeos da exposição, que registra a intervenção feita no Viaduto do Chá: “A cidade é para brincar”.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_