Cotação do dólar supera a barreira dos 4 reais
Insegurança em relação ao cenário político-econômico faz mercado reagir com oscilações

O dólar superou, nesta terça-feira, a temida barreira dos 4 reais, e atingiu sua maior cotação desde a criação do Plano Real em 1994. Às 10h30, a moeda norte-americana tinha alta de 1,65% e era vendida a 4,0464 reais, refletindo a tendência mundial de valorização do dólar, mas também a crise política e econômica que o Brasil atravessa. Na segunda-feira, a moeda fechou em alta de 3,980 reais, mas era vendida nas casas de câmbio por mais de 4 reais.
Nem as projeções mais pessimistas pressagiavam a atual forte desvalorização do real frente ao dólar e a tempestade de más notícias que o Brasil enfrentaria em 2015. Desde o início do ano, a moeda norte-americana já acumula uma alta de quase 50% em relação à moeda brasileira.
A preocupação com o rumo do país tem impulsionado a cotação da divisa. Atualmente, o Governo de Dilma Rousseff empreende uma política de austeridade e um necessário, segundo muitos especialistas, ajuste nas maltratadas e endividadas contas públicas. No entanto, há risco certo de que novas agências de qualificação rebaixem a nota de crédito no Brasil já que no início do mês, a agência Standard & Poors rebaixou a nota brasileira e retirou o selo de bom pagador do país. Agora, especialistas concordam que as agências Fitch e Moody seguirão o mesmo caminho.
Tudo indica que a volatilidade entre o dólar e o real continue nas próximas semanas. Ninguém pode se atrever, no entanto, a calcular quanto valerá o dólar no fim do ano, mas a tendência é que oscile em torno dos quatro reais por dólar, de acordo com a maioria dos analistas.
Na semana passada, Dilma Rousseff anunciou novos cortes e aumentos de impostos para eliminar o déficit de 35 bilhões de reais do orçamento de 2016, transformando-o num superávit de 60,4 bilhões de reais. No entanto, as medidas precisam passar pelo crivo do Congresso Nacional, hostil ao Governo, onde devem enfrentar resistência. Nesta terça-feira Dilma envia ao Legislativo as propostas do ajuste. A insegurança em relação à aprovação dessas medidas fez o mercado reagir com fortes oscilações na segunda-feira.
"Parte da perda de força do real é externa, mas as razões internas são muitas", diz o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Guilherme Perfeito. O especialista lembra que a moeda é um reflexo da situação do Governo. Se ele está enfraquecido, assim estará sua moeda. "Vivemos uma crise política muito forte que acaba deteriorando os esforços fiscais e a economia, num momento em que a presidenta adotou um plano de austeridade", conclui o economista.
Nas últimas semanas, o mundo político e econômico brasileiro foi sacudido por crises ininterruptas: especulou-se a destituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o arquiteto de todo o plano de ajuste; depois, houve especulações sobre a demissão do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Tudo isso reflete a instabilidade de um Governo fustigado por múltiplas forças.
A situação da presidenta piora a cada dia. "Ela está cada vez mais isolada, o que impossibilita a adoção de medidas muito importantes para reativar a economia e cria esse cenário de incerteza. Com esse panorama é difícil que a taxa de câmbio reverta a tendência de alta", explica.
O economista salienta, no entanto, que a situação da desvalorização do real ainda não é tão preocupante porque o Brasil possui uma reserva de divisas relativamente boa, de 370 bilhões de reais. "Entre os Brics, só temos menos reservas que os chineses", acrescenta.
Quem ganha e quem perde
Ainda que o real mais fraco pressione a inflação com o aumento do preço dos importados, reduzindo o poder de compra dos brasileiros, a moeda desvalorizada beneficia a balança comercial do país e facilita as exportações. A lógica é simples, os preços dos produtos ficam mais competitivos no exterior e a demanda pelos produtos brasileiros sobem.
"Essa valorização não pode ser vista apenas sob uma perspectiva negativa. Um dólar mais caro ajuda no equilíbrio da balança comercial que vem sofrendo com a desaceleração da economia da China (o principal comprador do Brasil) e com a queda global dos preços das commodities", afirma.
O economista explica também que os turistas brasileiros vão começar a buscar mais destinos nacionais o que fará que o dinheiro circule mais no turismo local. Com um dólar mais caro, uma viagem para o exterior pesará mais no bolso dos cidadãos. "Os brasileiros estavam deixando uma média de 2 bilhões de reais no exterior por mês, mas agora esse valor deve cair bastante", explica Perfeito.
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