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Katia Abreu entra na ‘bolsa de apostas’ para substituir Mercadante

A atual ministra da Agricultura tem apoio da classe produtora e a oposição de senadores

Katia Abreu, em entrevista no último dia 9, em Brasília.
Katia Abreu, em entrevista no último dia 9, em Brasília.Antônio Cruz (Agência Brasil)

A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, se perfila para ocupar um dos cargos que já foram da atual mandatária brasileira, Dilma Rousseff (PT). Com a crise política e a reforma administrativa/ministerial que se aproxima, a senadora licenciada pelo PMDB do Estado de Tocantins (TO) tem se credenciado para virar a nova chefe da Casa Civil, em substituição a Aloizio Mercadante (PT), que assumiu a pasta ainda no primeiro mandato. A saída de Mercadante é dada como certa no meio político, uma vez que o ministro estaria sempre ligado a erros políticos cometidos pela presidenta. O mais recente diz respeito à divulgação do déficit das contas públicas de 2016. O atual ministro teria ajudado a convencer Rousseff a se posicionar contra Joaquim Levy, que defendia o superávit.

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Assim, a bolsa de apostas em Brasília coloca Abreu como uma das favoritas para o cargo, o que tiraria a pasta do PT e daria espaço ao rebelde PMDB num dos ministérios mais importantes da Esplanada. O assunto ainda não está definido. Um outro candidato forte para suceder Mercadante seria o ministro da Defesa e petista histórico, Jaques Wagner. Correm por fora algum outro quadro do PMDB que seria indicado pelo vice-presidente Michel Temer e uma quarta alternativa, possível, mas menos provável, um estudioso que não está no meio político e serviria para tentar arrefecer o clima de bota-fora que toma conta da capital federal.

As especulações sobre a entrada de Abreu na Casa Civil ganharam força depois que ela cancelou sua participação numa comitiva de ministros do seu partido que acompanham desde segunda-feira o vice-presidente em viagem oficial para Rússia e Polônia. Há quem interprete que a sua ausência seria uma traição a Temer, que a apadrinhou no PMDB, ao optar por uma aproximação de Rousseff. Os rumores fizeram a ministra emitir um comunicado à imprensa para justificar que sua falta foi por motivos de saúde (um tratamento ortopédico) e que tem compromissos tanto com a presidenta quanto com o vice.

“Sou fiel, antes de tudo, ao meu país, e integro com lealdade e disciplina, o governo da presidente Dilma Rousseff – assim como o vice-presidente, que tenho na conta de aliado dedicado. Lamento versões que exploram circunstâncias para contaminar o ambiente político, absorvendo intrigas dos que estão empenhados em produzir a cizânia”, diz trecho da nota.

Na concorrência pelo cargo, a senadora ganhou força por ser uma das confidentes de Rousseff e uma das auxiliares que mais têm mostrado lealdade a ela nos últimos meses. Ao ser filiada ao PMDB, partido do qual o PT depende cada vez mais para manter o seu Governo evitando um impeachment presidencial, a escolha do seu nome cairia como uma luva para gerenciar o momento delicado de Rousseff. A nomeação de Abreu, contudo, ainda causa certa estranheza entre colegas de Senado, entre a bancada de deputados peemedebistas e, principalmente, entre movimentos sociais, que chegaram a conceder o prêmio “motosserra de ouro” para a senadora, por ser uma das principais representantes da tradicional e conservadora bancada ruralista brasileira.

Rousseff e Temer, nas pontas, durante o casamento de Kátia Abreu e Moisés Gomes, em fevereiro.
Rousseff e Temer, nas pontas, durante o casamento de Kátia Abreu e Moisés Gomes, em fevereiro.Divulgação

“Ela é muito reacionária. Somos a favor de tirar o Mercadante, mas colocá-la no cargo seria um retrocesso. Os petistas certamente se sentiriam traídos. Aqui no Senado ela não é bem vista. Muitos acham que ela só cresce no Governo porque é uma verdadeira puxa-saco”, apontou um senador do PT. “O atual ministério da Dilma não representa a bancada do PMDB da Câmara. Só a do Senado. Se ela quer apoio de deputados, tem de perguntar para nós quem seriam os bons quadros para nos representar. Trocar nomes, simplesmente, não garante nenhum apoio”, afirmou um deputado peemedebista.

O caminho de Abreu para ganhar a confiança de Rousseff começou a ser traçado de maneira, aparentemente, não calculada, quando ela ainda era uma senadora do DEM e uma das principais vozes de oposição ao Governo Lula (PT). O primeiro passo foi dado em 2009, quando Rousseff era ministra da Casa Civil e pré-candidata de Lula à sucessão presidencial. Na ocasião, a então ministra anunciou que estava com câncer e recebeu uma carta de solidariedade assinada por Abreu.

Dois anos depois, já eleita, Rousseff recebeu a ainda oposicionista em uma audiência em seu gabinete. O encontro era para tratar de demandas dos produtores rurais. Abreu, na ocasião, era a principal voz dos ruralistas como presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), órgão do qual também está licenciada atualmente.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, em 2013, a senadora conta que a presidenta, ao contrário de seu antecessor, a ouviu e deu prosseguimento a algumas das demandas. Foi o sinal que resultou na aproximação entre elas. A união foi selada neste ano com a escolha de Rousseff como sua madrinha de casamento e de Abreu como a ministra da Agricultura. Antes, porém, a senadora deixou o oposicionista DEM. Foi uma das fundadoras do PSD no Tocantins, e,, a pedido de Temer foi para o PMDB para concorrer à reeleição ao Senado. Quando foi indicada para a Agricultura, movimentos sociais chegaram a fazer um abaixo-assinado contra sua posse. Em vão.

Psicóloga de formação, nunca exerceu a profissão. Tornou-se produtora rural aos 25 anos, quando ficou viúva e herdou a fazenda do marido, morto em um acidente de avião em 1987. Abreu começou na política como presidente do sindicato rural da pequena cidade de Gurupi, de 75.000 habitantes, no sul do Tocantins. Alcançou novos postos sempre se vangloriando por ser a primeira mulher em cada cargo que ocupou: presidenta da Federação da Agricultura do Tocantins, presidenta da CNA, senadora de seu Estado e ministra da Agricultura. Caso seja a escolhida para ocupar a Casa Civil, porém, não será a precursora. Antes dela, outras três mulheres estiveram na função, a própria Rousseff, Erenice Guerra e Gleisi Hoffmann. Talvez seja a primeira mulher não ligada ao PT que ocupe o cargo.

Independentemente do tamanho das especulações, é praticamente consenso que Mercadante deve deixar a Casa Civil até o final do mês, quando o Governo encerra sua reforma administrativa. A cabeça dele tem sido pedida por vários setores e agentes políticos. Desde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), passando por militares, congressistas e chegando a empresários. As justificativas são as mais variadas para uma eventual troca, segundo seus detratores: não escuta a base aliada nem o empresariado, faz picuinhas internas, alimenta intrigas entre colegas e tem dificuldades em levar os problemas para a presidenta como realmente são. “Ele sempre dá uma versão mais leve das coisas para a presidenta”, relatou um deputado governista. A gota d’água, foi o pedido de abertura de inquérito contra Mercadante para investigar se ele estava envolvido no esquema desbaratado pela operação Lava Jato.

Nesta terça-feira, Rousseff confirmou que anunciará sua reforma ministerial no dia 30 de setembro, assim que retornar da viagem que fará para Nova York onde discursará na abertura dos debates da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

Os dez ministérios que podem ser cortados

A presidenta Dilma Rousseff já anunciou que cortará 10 de seus 39 ministérios. Parte deles são secretarias com status de ministérios. Outros são autarquias com esse mesmo perfil. Na prática, isso significa redução de funcionários e assessores comissionados. Os cortes representarão 200 milhões de reais aos cofres públicos. Algo pequeno na questão orçamentário, mas representativo na seara política.

Os cortes seriam anunciados nesta semana. Mas como o vice-presidente Michel Temer e uma comitiva de ministros do PMDB estão fora do país, Rousseff aproveitou para ganhar tempo e amadurecer a ideia com alguns aliados. Ela decidiu anunciar as medidas no fim do mês, quando retorna de uma viagem aos Estados Unidos.

Eis os principais candidatos a serem extintos:

Ministério da Pesca – Há uma intensa pressão por sua extinção por entender que sua função poderia ser ligada à outra pasta. Voltaria a ser vinculada ao Ministério da Agricultura como uma secretaria. Hoje é ocupado por Helder Barbalho, do PMDB.

Secretaria de Relações Institucionais – Está acéfala desde abril, quando Pepe Vargas foi para os Direitos Humanos. O vice-presidente Michel Temer e o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, dividiram suas funções com a desta secretaria, mas nunca ocuparam o posto oficialmente. Suas funções seriam abraçadas pela Casa Civil.

Secretaria de Aviação Civil e Secretaria dos Portos – Seriam anexadas ao Ministério dos Transportes. Hoje são ocupadas pelos peemedebistas Eliseu Padilha e Edinho Araújo.

Secretaria da Micro e Pequena Empresa – criada por Rousseff para agradar aliados, teria suas funções deslocadas para o Ministério de Desenvolvimento. Seu titular atualmente é Guilherme Afif, do PSD.

Banco Central, Advocacia-geral da União e Controladoria Geral da União – Ganharam status de ministério na gestão Lula para poder acomodar congressistas aliados. Como hoje não são ocupadas por deputados, correm o risco de perder esse perfil. Os ministros são Alexandre Tombini, Luis Inácio Adams e Valdir Simão.

Secretarias da Igualdade Racial e das Políticas para Mulheres – Históricas pastas ocupadas por petistas e membros de movimentos sociais teriam suas funções ligadas à Secretaria de Direitos Humanos. Governo terá dificuldades em cortá-las. Suas ocupantes são Nilma Lina Gomes e Eleonora Menicucci.

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