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‘Motoserra de ouro’ para a Agricultura

Dilma Rousseff escolhe a senadora Kátia Abreu para a pasta A nomeação levou a protestos dos sem-terra, que ocuparam uma fazenda

Kátia Abreu recebe o prêmio Motosserra de Ouro em 2010.
Kátia Abreu recebe o prêmio Motosserra de Ouro em 2010.Greenpeace/Divulgação

A escolha da presidenta Dilma Rousseff para assumir o Ministério da Agricultura não poderia ser mais polêmica. O nome da senadora Kátia Abreu, que já circulava na imprensa nacional como certo para ocupar a pasta há semanas, foi alvo de inúmeros protestos de movimentos ligados à terra e ao meio ambiente.

Abreu é ex-líder do movimento ruralista no Congresso, grupo que reúne deputados e senadores acusados de defender o interesse do agronegócio e de barrar projetos ligados à preservação ambiental e ao avanço da reforma agrária no país.

Em 2010, ela recebeu do Greenpeace o prêmio “Motosserra de Ouro” quando participava da COP-16 no México. O grupo a acusava de atuar para barrar pontos importantes para os ambientalistas do novo Código Florestal que estava em discussão na Câmara. Em 2013, ela apresentou, como presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), um estudo que afirmava que “mantidas as taxas médias de criação de unidades de conservação e terras indígenas dos últimos Governos, em 2031 acabaria a área de produção agrícola do país”. Também afirmava que “47,7% dos assentados da reforma agrária não produzem o suficiente para a família e 72,3% não geram renda na propriedade”.

Outra polêmica envolvendo o nome de Abreu foi quando em 2013 ela apresentou um projeto de lei cujo objetivo era impedir que as terras invadidas por índios fossem desapropriadas para a demarcação de reservas indígenas. O conflito entre índios e produtores rurais por terras no interior do Brasil tem se agravado nos últimos anos e causado centenas de mortes. Na ocasião, ela afirmou no plenário que os produtores rurais tentaram estabelecer diálogo com os indígenas, mas isso foi infrutífero. “A cada dia que passa, ao invés de diminuir a insegurança jurídica, ao invés de diminuírem as invasões por parte dos índios nas áreas de produção do país, elas estão aumentando”, disse.

Em protesto à possível nomeação da senadora, o Movimento dos Sem-Terra (MST), alinhado ao PT de Rousseff, ocupou uma fazenda no Rio Grande do Sul no mês passado para pressionar a presidência. A pasta da Agricultura já tem sido ocupada por nomes ligados aos ruralistas e não é o órgão responsável pelas políticas de reforma agrária, que são geridas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Mas, para o movimento, a escolha de Abreu é simbólica.

“É uma sinalização muito ruim do Governo a indicação de uma pessoa que historicamente afronta os interesses dos camponeses”, afirma Débora Nunes, da direção nacional do MST. Para ela, o nome da ruralista é um contraste ao movimento de união da esquerda ocorrido no final da apertada campanha que levou Rousseff à reeleição. “A militância de esquerda foi às ruas para que houvesse a vitória de um projeto de perspectiva popular para o país. A expectativa da esquerda era de que isso se materializasse no novo Governo com a indicação de pessoas que possam contribuir com essa construção”, lamenta ela.

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O nome de Abreu também foi rejeitado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e pelo Movimento Brasil pelas Florestas, que criou um abaixo-assinado virtual contra a indicação dela. O documento, assinado por pouco mais de 20.000 pessoas, ressalta que ela foi uma das principais articuladoras das alterações no novo Código Florestal que “anistiam desmatadores e incentivam o desmatamento”. “A nomeação de Kátia Abreu representaria um passo a mais na direção dos interesses do latifúndio e das multinacionais do agronegócio. Caso essa ação se confirme será entendida por nós como um sinal do rompimento definitivo do Governo federal com o desenvolvimento sustentável”, afirma o grupo na petição.

Abreu foi a primeira mulher a assumir a Confederação da Agricultura e Agropecuária do Brasil, entidade que representa os agricultores brasileiros. Em outubro de 2013, ela trocou o PSD pelo PMDB, a pedido do vice de Rousseff, Michel Temer, que é do partido. Desde o início do primeiro mandato da presidenta, a pasta é comandada pela sigla de seu vice e a nomeação de Abreu busca dar continuidade a essa aliança.

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