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‘Crise do lixo’ causa indignação no Líbano, e provoca protestos

Protesto pela acumulação de detritos nas ruas há semanas deixa uma centena de feridos

Uma manifestação contra a acumulação de lixo acaba com 100 feridos.Foto: reuters_live | Vídeo: AFP / Reuters-Live
Natalia Sancha

As manifestações ocorridas em Beirute neste final de semana são as mais violentas das últimas décadas. E isso por conta do lixo. A iniciativa coletiva #YouStink (#VocêFede) conseguiu reunir 4.000 pessoas, segundo fontes oficiais, 10.000, segundo os organizadores, para protestar contra o acúmulo de detritos amontoados nas ruas do Líbano. O movimento nasceu motivado pela chamada crise do lixo, surgida em julho, quando o principal lixão do país entrou em colapso. Convivendo há mais de três semanas entre 3.500 toneladas de lixo somente na capital, os libaneses deram no sábado um ultimato ao precário Governo.

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“O povo quer o fim do regime!”, “Revolução!”, gritavam no sábado milhares de pessoas em Beirute. “Dessa vez é sério, não vamos recuar”, disse Assaad Thebian, organizador da manifestação. Seu movimento tem 105.000 seguidores em sua página do Facebook; só no sábado 20.000 uniram-se ao grupo. Com uma hora de protesto, que foi convocado às 18h (12h de Brasília) na praça central de Riad El Solh, começaram os confrontos entre polícia e manifestantes. Os agentes tentaram romper as fileiras dos descontentes com violência. Sem sucesso, utilizaram os canhões de água e começaram a dispersar os presentes, com tamanha imperícia que arrastaram vários de seus colegas policiais entre os jorros de água.

Utilizando o clássico humor libanês, gritavam com frascos de shampoo nas mãos: “Finalmente teremos água para tomar banho!”. Com a persistência dos manifestantes, cansados de corrupção, para quem a crise do lixo simboliza a incapacidade do Estado de prestar contas, explodiu uma verdadeira batalha campal.

A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que, agora sem humor, voltou com mais raiva. Mulheres com crianças fugiram dos centros comerciais, enquanto voluntários despejavam leite para diminuir a irritação no rosto dos afetados pelos gases.

Lançaram bombas sonoras e dispararam rajadas de munição real para o ar, o que causou uma debandada geral. Em uma das ruazinhas onde geralmente estacionam Hummers e Ferraris, uma dezena de jovens com o rosto coberto jogaram pedras contra a polícia. Esses, de fuzil nas mãos, atiraram balas de borracha rente ao chão. Ahmed, estudante de medicina de 24 anos, exibia uma fileira de até seis ferimentos avermelhados na pele, da perna até as costas. Mais de uma centena de pessoas foram atendidas pelo Crescente Vermelho, 35 policiais e 75 manifestantes, dois deles com gravidade.

Um país sem presidente

O Líbano está há 15 meses sem presidente, comandado por um Governo interno. “Estamos cansados dos cortes de eletricidade e de água, da corrupção, dos cargos conseguidos por influência”, diz Mohamed Baroud, músico de 32 anos e um dos manifestantes. Enquanto os municípios oferecem alternativas para uma possível solução, os ministros respondem com propostas temporárias. “A questão é levar uma fatia das concessões feitas por debaixo dos panos, como tudo o que faz esse Governo”, se queixa Rami Ayoub, engenheiro de 40 anos.

Esse protesto popular não tem precedentes: Sem slogans religiosos e bandeiras de partidos políticos. Somente bandeiras libanesas tremularam na noite de sábado acompanhando o hino nacional. “É irônico que tenha sido necessária uma montanha de lixo para unir os libaneses”, disse Mariem Khoury, estudante universitária de Beirute.

A Palestina, a guerra na vizinha Síria, Israel e as milícias internas monopolizaram os cartazes das manifestações na última década. Dessa vez, a indignação popular era contra o Parlamento libanês, para onde se dirigia a marcha. A violenta repressão causou outras manifestações em todo o país. No sábado os confrontos se repetiram.

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