As caras do protesto em São Paulo
O que pensam os que foram às ruas, entre eles um metalúrgico, um caminhoneiro e um vereador do PT que diz ter levado 2.000 ao ato

Um trabalhador que defende a redução da quantidade de agrotóxicos nos alimentos. Um vereador petista que diz ter levado 2.000 agricultores do interior do Estado para a avenida Paulista. Um escritor que trabalha com a educação de jovens. Duas mulheres do movimento feminista da Grande São Paulo. Um metalúrgico que quer a renovação da frota de caminhões. Uma militante do movimento negro que pede a reforma política. Um sem-teto que só queria ser visto. Eis alguns dos participantes do protesto desta sexta-feira em São Paulo.
O escritor contra uma eventual ditadura

Membro de uma organização não governamental formada por escritores, professores, artistas e jornalistas, Jeosafá Fernandez, é categórico ao explicar a razão de estar em um protesto. “Sou de um movimento social e em uma ditadura, nenhum movimento social sobrevive”, afirmou. Ao lado de outros membros do Fórum Mudar São Paulo, o escritor Fernandez diz que a convocação dos opositores de Dilma Rousseff para o ato de domingo, que pedirá o impeachment da presidenta, o motivou a protestar.
O vereador que levou 2.000 ao protesto

Filiado ao PT há 22 anos, o vereador do município de Itaberá Antônio de Oliveira, o Serrinha, diz ter juntado 2.000 aliados políticos para engrossar o protesto desta sexta-feira. “Reunimos todos os agricultores que conseguimos para vir até aqui.” Segundo ele, o grupo estava por dentro de tudo o que estava sendo discutido: reforma política, redução dos direitos trabalhistas, poucos recursos para os trabalhadores rurais e, principalmente, a manutenção de Dilma Rousseff no cargo de presidenta. Porém, quando qualquer militante que vestia chapéu de palha ia ser entrevistado, todos apontavam para Serrinha. “Só o nosso vereador fala por nós”. A única exceção foram duas mulheres que entraram em uma loja para ver o preço dos sapatos. “Lá em Itaberá não tem tanta coisa bonita assim não.”
Por um mundo com menos agrotóxicos

“O pimentão tem quase 90% a mais de agrotóxico do que é permitido. A cenoura, 49,6%. É isso que me trouxe para o protesto”, diz João Batista Franco ao lado de um homem fantasiado de cenoura gigante. Membro da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação, Franco percorre os protestos sociais para divulgar a causa de sua entidade. “Os trabalhadores correm mais riscos quando têm de aplicar tanto agrotóxico e nós, que consumimos, também. Você já notou o quanto tem aumentado os casos de pessoas com câncer?”, diz. E o que vocês estão fazendo na manifestação de hoje? Defendem alguma causa das que estão sendo postas aqui? “Na verdade, não. Acho que só a democracia e a causa da alimentação, mesmo”.
As militantes contra o machismo

As amigas Diná Araújo e Sônia Leite militam há anos em causas sociais. Desde que Dilma Rousseff assumiu o poder, dizem, reforçaram sua atuação contra causas machistas. “Só querem derrubar a Dilma porque ela é mulher. Se fosse homem, nada disso estaria acontecendo”, diz Leite. Moradoras de Carapicuíba, ambas estiveram no protesto desta sexta-feira para, segundo elas, reforçar os pedidos das causas feministas. “Precisamos ter uma participação maior na política. Sem a Dilma lá, dificilmente teremos”, afirmou Araújo.
O metalúrgico da pauta três em um

Metalúrgico em Diadema há duas décadas, Antônio Pereira, conhecido como Boquinha, carregou por quase quatro quilômetros uma placa com dizeres inusitados: Renovação da frota de caminhões. “Pensa comigo. Se renovarmos toda a frota, teremos mais empregos porque teremos de fabricar caminhões novos. Os velhos podem ser reciclados. Sem tanto caminhão velho, aumentamos a segurança na estrada e reduzimos a poluição. É uma pauta três em um. Garante emprego, aumenta a segurança e preserva o meio ambiente”, explicou enquanto caminhava no protesto desta sexta-feira, em São Paulo.
Pelo “empoderamento” dos negros

Cirlene Silva é uma das representantes do movimento negro de São Paulo. No ato desta sexta-feira, ela era uma das poucas entrevistas que defendia uma reforma política. O motivo é para que os possam ter uma maior participação na política. “Defendo o ‘empoderamento’ do povo negro e uma reforma política profunda, não só mudança de uma vírgula ou outra”, diz Silva, que é da ONG Unegro. Além disso, a militante afirma que se houver uma troca de governante antes de 2016, nem as mulheres nem os negros serão representados no Palácio do Planalto. “Temos várias críticas à Dilma, mas ainda nos sentimos representados por ela. Se ela cair, será um retrocesso”.
O sem-teto que apoia seus apoiadores

“Eu apoio quem me apoia. Vim aqui para ser visto, senão nunca serei lembrado”. Assim, o porteiro e militante da Frente de Luta por Moradias Renato Lessa Alves justifica sua presença no ato de sexta-feira. “Sempre que precisamos, esse pessoal da CUT e dos movimentos sociais nos ajudam. Viemos retribuir”, afirmou Alves, que mora em uma área invadida na Brasilândia, periferia da zona norte de São Paulo. Além disso, o porteiro diz que se houver uma troca de Governo dificilmente as políticas sociais que beneficiam seus “companheiros de luta” serão mantidas.