Vaticano diz que o papa Francisco não pretendia estigmatizar o México
Governo do México enfrentou várias crises diplomáticas semelhantes nos últimos meses
O Vaticano disse na terça-feira que as declarações do papa Francisco sobre o risco de “mexicanização” da Argentina não tinham “intenção de estigmatizar o povo do México” e reconheceu o esforço realizado pelo Executivo de Peña Nieto na luta conta o narcotráfico. Os apontamentos do Pontífice incomodaram o Governo, que nos últimos meses enfrentou várias crises diplomáticas de natureza semelhante.
No último capítulo dessas desavenças o chefe de Estado do Vaticano expressou, em uma missiva endereçada ao vereador argentino Gustavo Vera, seu desejo de que o país sul-americano não se “mexicanize”, em relação ao aumento da violência do narcotráfico na região. “Espero ainda termos tempo para evitar a mexicanização. Falei com alguns bispos mexicanos e a situação é de terror”, disse o Papa em sua carta.
Nos parece que mais do que buscar estigmatizar o México ou qualquer outra região dos países latino-americanos, o que deveria ser feito é buscar melhores enfoques O ministro das Relações Exteriores mexicano, José Antonio Meade
“A Santa Sé considera que o termo mexicanização de nenhuma maneira teve a intenção de estigmatizar o povo do México e, muito menos, pode ser considerado uma opinião política em detrimento de uma nação que vem realizando um esforço sério para erradicar a violência e as causas sociais que a originam”, diz agora o Vaticano.
Na segunda-feira, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, José Antonio Meade, o Governo mexicano anunciou o envio de uma nota diplomática e assegurou já ter conversado com o Pontífice. “Buscamos e tivemos um encontro com o núncio e enviaremos uma nota”, respondeu Meade às perguntas da imprensa.
O chanceler mexicano destacou ainda que o Governo observa com “tristeza e preocupação” as declarações. “O que nos causa essa preocupação é que no desafio do narcotráfico, que é um desafio compartilhado, o México fez enormes esforços, firmou um grande compromisso e demonstrou multilateralmente a necessidade de um amplo diálogo a respeito desse tema”.
Meade lembrou que o país “deu as boas-vindas” à Assembleia Geral das Nações Unidas para “refletir sobre esta problemática”. Nos últimos meses, o México tem recebido a atenção de todo o mundo pelo desaparecimento de 43 estudantes de magistério no Estado sulista de Guerrero, uma das regiões mais pobres do país. A violência dos cartéis de droga espalhados pelo território gerou altas taxas de homicídio, desaparecimentos e extorsões em locais como Tamaulipas, na fronteira com os Estados Unidos, ou Michoacán, onde alguns religiosos denunciaram ameaças na capital econômica da região de Terra Caliente, Apatzingán, uma cidade controlada até 2014 pelo grupo criminoso Os Cavaleiros Templários.
“Nos parece que, mais do que buscar estigmatizar o México ou qualquer outra região dos países latino-americanos, o que deveria ser feito é buscar melhores enfoques, melhores espaços de diálogo e melhores espaços de reconhecimento dos esforços que o México e a América Latina fazem a respeito de um tema que nos preocupa muito e que nos custou muito esforço”, concluiu o chanceler.
As supostas declarações do Papa – não foram confirmadas oficialmente pelo Vaticano – somam-se ao que foi dito por outros mandatários. Em novembro, o presidente do Uruguai, José Mujica, qualificou o Estado mexicano de “falido e com poderes públicos totalmente fora de controle”, vinculando os fatos de Guerrero à “gigantesca corrupção” existente no país. “No México, a corrupção se estabeleceu, me dá a impressão, vendo à distância, como um costume social tácito. Seguramente, o corrupto não é mal visto, é um vencedor, é uma pessoa esplêndida”. A Secretaria de Relações Exteriores refutou as acusações e anunciou que iria convocar o embaixador do Uruguai para pedir-lhe explicações.
Um mês depois, o presidente da Bolívia atacou os Executivos da Colômbia e do México, por seus “problemas profundos” com o narcotráfico por conta de seu “falido” modelo de livre mercado, que segundo o governante os submete “ao império norte-americano”. Neste caso, a chancelaria mexicana também enviou uma nota diplomática ao país andino.
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