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Crise na Rússia aumenta pressão sobre a economia brasileira

Repique de juros pelo BC russo pode sinalizar alta no Brasil para controlar a inflação Queda no preço de petróleo deve afetar planos da Petrobras

Carla Jiménez
A rua 25 de Março, em São Paulo, em 4 de dezembro.
A rua 25 de Março, em São Paulo, em 4 de dezembro.PAULO WHITAKER (REUTERS)

A derrocada do rublo e a consequente alta de juros na Rússia nesta terça-feira coloca mais um ponto de interrogação para o mercado financeiro, num momento em que o Brasil já fornece dúvidas em excesso sobre o futuro econômico dos países emergentes.

A alta significativa de juros pelo BC russo, de 10,5% para 17%, está sendo vista como uma sinalização de que a hora da verdade dos países em desenvolvimento chegou. O fim do ciclo de comodities em alta, a melhora da economia dos Estados Unidos e a recuperação letárgica do mundo se soma aos problemas específicos de cada país.

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Os russos, em particular, estão pagando a fatura da queda do preço do barril de petróleo abaixo dos 80 dólares, e dos conflitos geopolíticos de Vladimir Putin. O Brasil, porém, também tem um arsenal bombástico do porte da crise da Crimeia de Putin, acredita Alex Agustini, da agência de risco Austin Rating. “Não estamos em conflito com vizinhos, mas a Petrobras é a nossa guerra particular, que tem afetado muito o risco país”, afirma Agustini. A Petrobras também será afetada pela queda de preços do petróleo, o que vai dificultar o seu desempenho, para além das denúncias de corrupção.

Se até ontem o Brasil já tinha preocupações demais para gerenciar, a crise da moeda da Rússia aumenta o nível de incerteza. Se até ontem o Brasil já tinha preocupações demais para gerenciar, a crise da moeda da Rússia aumenta o nível de incerteza. O dólar atingiu uma das maiores altas da década, fechando o dia a 2,736 reais. O quadro pressiona o Governo de Dilma Rousseff a tomar medidas mais concretas que garantam, ao menos, manter as condições de temperatura e pressão na economia. “Não existe nenhum país do mundo que esteja só fazendo política macroeconômica [mexendo nos juros, câmbio, etc]. É preciso um mix de tudo”, avalia Marcos Troyjo, diretor do BRICS Lab da Universidade Columbia.

Troyjo acredita que o atual panorama tende a empurrar o Brasil para uma política mais ousada do ponto de vista comercial. “Vai ser preciso negociar algo mais concreto entre Mercosul e União Europeia, com a Aliança do Pacífico, e melhorar as conversações com os Estados Unidos”, avisa. Seria a saída ideal para não ficar refém do humor dos mercados, que já estão desconfiados do Governo Dilma há muito tempo.

"Sou você amanhã"

O repique dos juros russos acontece um dia antes do início da reunião do BC dos Estados Unidos, que pode aumentar a vulnerabilidade dos emergentes. Essa alta também é vista como uma espécie de efeito Orloff para o Brasil (“eu sou você amanhã”), que terá de seguir receita semelhante para baixar a febre inflacionária interna e eventualmente proteger o real, com a natural fuga de capitais de curto prazo para mercados mais seguros, como os Estados Unidos. “Se o efeito dessa nova crise russa não for passageiro, teremos de aumentar nossos juros também”, prevê Sidney Nehme, diretor executivo da NGO Corretora. A calibragem, porém, deve ser mais moderada no Brasil.

O BC brasileiro já havia subido a Selic duas vezes desde a vitória de Dilma, no dia 26 de outubro. Mas, a inflação se mantém persistente, e não deve ceder até o final do primeiro trimestre, pelas previsões do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Marcos Troyjo aposta, ainda, que outras mudanças significativas devem ocorrer em função da crise na Petrobras, como a flexibilização da política de conteúdo local, que exigia fabricantes instalados no Brasil para se tornarem fornecedores da estatal. No mundo ideal dos investidores, um choque de gestão na petroleira, com a mudança de toda a cúpula atual, seria um sinal de coragem da mesma proporção que foi a indicação de Joaquim Levy para substituir Guido Mantega no Ministério da Fazenda. Tudo, porém, está no campo das especulações, algo que o mercado financeiro detesta. “Para piorar, este período de transição, em que não se sabe quem serão os próximos ministros e suas ações, aumenta a inquietação”, afirma Sidney Nehme.

Apesar dos pesares, a Bolsa de Valores de São Paulo ainda logrou uma pequena recuperação ao longo do dia. As ações da Petrobras, por exemplo, tiveram leve alta de 2,07%, fechando a 9,37. O valor, no entanto, continua abaixo dos 10 reais, e muito distante dos áureos tempos da companhia, quando seus papeis eram negociados a 27 reais.

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