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Dilma busca trégua no mercado com o novo ministro da Fazenda

Espera-se que Joaquim Levy, alinhado com a escola mais liberal, seja confirmado Escolha mostraria uma guinada para a austeridade no segundo mandato da presidenta

Levy em evento da Standard & Poor's, em 2010.
Levy em evento da Standard & Poor's, em 2010.Marcos de Paula (Estadão Conteúdo)

Houve um gostinho de vitória no mercado financeiro nesta sexta-feira, ainda que os agentes se sintam em um campeonato de segunda divisão, diante de uma economia em marcha lenta. Já é dada como certa a ida de Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro do primeiro governo Lula, para o ministério da Fazenda, no lugar de Guido Mantega, o que levou a Bolsa de Valores às alturas, fechando na maior alta em três anos. A informação, que não foi confirmada até o final do dia pelo Palácio do Planalto, deixou claro que a presidenta Dilma Rousseff acatou a grita geral de um nome técnico que entenda a ansiedade dos investidores para assumir a pasta mais importante do seu segundo mandato. Levy, que atualmente é economista-chefe do Bradesco Asset Management, teria credenciais fortes para agradar a gregos e troianos.

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Formado em engenharia Naval, Levy, de 53 anos, é doutor em Economia pela Universidade de Chicago, um centro tradicional que formou centenas de “chicago boys”, como ficaram conhecidos os economistas alinhados com a cartilha liberal de um dos líderes dessa escola, Milton Friedman. O oposto da bonança de outra linha, o keynesianismo, mais afeita aos gastos públicos, e que caracterizou o primeiro mandato do Governo Dilma. Se confirmado, Levy não tem só uma universidade acima de qualquer suspeita no currículo. Ele esteve presente na primeira equipe econômica do Governo Lula, como secretário do Tesouro, peitando um dos grandes nós da economia naquele momento: administrar um superávit primário, diferença entre receitas e despesas do Governo, que precisava ser robusto para atender aos preceitos do Fundo Monetário Internacional (FMI), que na ocasião, era credor do Brasil. Na época, o FMI cobrava um superávit de 3,75% do Brasil. Mas a equipe do então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, cumpriu 4,25%.

Hoje, o Governo Dilma se encontra diante de um dilema da mesma proporção, com a necessidade de resgatar a confiança dos agentes econômicos, de que irá cumprir, por exemplo, o superávit primário, um indicador fundamental para demonstrar o compromisso com as contas públicas. Isso num momento em que a equipe econômica atual negocia com o Congresso o abatimento dos gastos em infraestrutura para fechar as contas, segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal.

O nome do presidente do banco Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, chegou a ser cogitado, e, segundo o jornal Valor Econômico, ele teria sido convidado, mas recusou a oferta.

Mas, o nome de Levy não poderia ser mais celebrado. Para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central no Governo de Fernando Henrique Cardoso, e atual sócio da Rio Bravo Investimentos, a escolha de Levy surpreende positivamente e “dá alento aos que esperavam uma guinada de volta na direção do bom senso". "Joaquim Levy tem um grande desafio pela frente, e todas as condições de enfrentá-lo, pois é um profissional experiente e bem qualificado. Desejo sorte ao novo ministro, e não creio que lhe faltará apoio para fazer o que é certo.”

Além dele, outro nome dado como certo para a nova equipe econômica é o de Nelson Barbosa para o Ministério do Planejamento. Ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda (entre 2011 e 2013), teria saído por desgaste com a equipe de Guido Mantega. Antes disso, esteve nas duas gestões do Governo Lula, em cargos técnicos na Planejamento e na Fazenda.

Alexandre Tombini, por sua vez, se manteria como presidente do Banco Central, embora seu nome tenha chegado a ser aventado para a Fazenda também. Para Luis Eduardo Assis, ex-diretor do Banco Central, os novos nomes devem trazer euforia num primeiro momento, mas isso não muda as dificuldades dos problemas, que incluem a negociação com uma base parlamentar hostil. “É um pequeno passo, mas uma equipe com credibilidade não resolve tudo”, avalia. Heron do Carmo, professor da Fundação Getúlio Vargas, concorda que ainda é um gesto mínimo, “mas é um passo na direção correta”, acredita. “As variáveis fundamentais da economia brasileira estão boas. Mas é preciso sair do déficit [das contas públicas] para superávit”, explica. Para ele, a equipe que está sendo cogitada tem condições de adotar uma política articulada com as necessidades atuais. Mas o mais importante, seria uma intervenção menor por parte da presidenta.

Essa efetivamente será a prova dos nove para Dilma que, por necessidade, terá de ser mais maleável neste segundo mandato, quando o barulho em torno da economia cresce a cada dia, ainda mais com as denúncias de corrupção na Petrobras, que ameaçam afetar inclusive o ritmo da atividade econômica.

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