_
_
_
_

Sequestro aumenta a polarização

A negociação em marcha sem cessar-fogo provoca forte divisão entre os colombianos

Soldados colombianos revistam um camponês.Foto: reuters_live | Vídeo: REUTERS-LIVE!/ AFP
Silvia Blanco

O diálogo de paz entre as FARC e o Governo colombiano tem sido, desde o começo, material inflamável que suscita uma enorme divisão no país. O sequestro do general Rubén Darío Alzate e seus acompanhantes ocorre quando a agenda da negociação em Havana enfrentava os temas mais complicados e que mais irritação causam nas ruas. Um exemplo é a justiça para as vítimas – e, portanto, se os guerrilheiros acusados de delitos graves irão para a prisão – ou como será o desarmamento e a reintegração na vida civil dos rebeldes desmobilizados. O sequestro ocorre quando os militares estão inquietos por seu futuro como instituição depois de uma guerra que durou cinco décadas. Tudo isso em um momento no qual o presidente anterior, Álvaro Uribe, atiça a fogueira dos medos e das dúvidas legítimas de muitos cidadãos sobre o processo.

Horas depois do sequestro, o agora senador Uribe, líder da oposição, pelo Partido de Centro Democrático, declarou em um comunicado que “os membros das Forças Armadas não deveriam continuar sendo igualados ao terrorismo”. Ele o publicou em sua conta no Twitter, uma poderosa plataforma com 3,3 milhões de seguidores, na qual lança dardos todos os dias, implacável, contra o presidente Juan Manuel Santos – a quem acusa de ter vendido o país ao castrochavismo –, e ao processo de paz. Nesta segunda-feira, por exemplo, disse em um tuíte: “Santos permitiu que as FARC se sintam em igualdade com as Forças Armadas, por isso os terroristas sequestram e dizem que é detenção”. Em outro ele afirmava que houve “639 soldados e policiais assassinados por terroristas das FARC durante o diálogo com Santos”.

Mais informações
Presidente da Colômbia suspende diálogo com as FARC
As FARC admitem o dano causado aos colombianos durante 50 anos
O preço de um longo caminho
SANTOS: “A chave é quanta justiça se sacrifica em prol da paz”

Há muitos ouvidos para essas mensagens e o sequestro do general Alzate dá oxigênio aos que acreditam que não há nada a negociar com a guerrilha. Uma pesquisa de outubro do instituto Cifras e Conceitos mostra que somente 39% dos cidadãos acreditam que as negociações serão concluídas com sucesso, e que a grande maioria rejeita que os guerrilheiros possam não ir para a prisão (85%). O grande descrédito das FARC e o ódio que seus crimes causam, em particular o sequestro – que se comprometeram a não praticar –, contribuem para a polarização. A lembrança dos sequestrados durante anos na selva, em penosas condições, está muito presente em um país onde seis milhões de pessoas foram deslocadas e 220 mil acabaram mortas pelo conflito.

O sequestro de um general impacta em cheio no Exército, uma instituição inquieta quanto à missão que terá se o processo de paz for levado adiante e quanto as penas que terão de cumprir seus membros acusados de delitos cometidos em decorrência do conflito. Santos lhes garantiu que gozarão de benefícios penais se a paz for assinada, ao mesmo tempo que se debate no Senado se os casos de execuções extrajudiciais, os chamados falsos positivos – civis assassinados e apresentados como guerrilheiros caídos em combate –, serão transferidos à justiça militar. Há mais de 4.000 militares investigados por esse motivo e organizações de Direitos Humanos, como a Human Rights Watch, temem que se forem julgados pelos tribunais militares estará sendo aberta uma via de impunidade.

No processo de paz, se negocia sem que haja um cessar-fogo. Essa condição o Governo estabeleceu para evitar que as FARC usem o diálogo para se rearmarem, como fizeram na frustrada tentativa anterior de diálogo, as conversações de El Caguán (1999-2002). “É difícil explicar às pessoas que estão negociando a paz em Havana e matando aqui na Colômbia”, reconhecia o presidente Santos em uma entrevista ao EL PAÍS em junho, depois de reeleito. Agora essa pressão aumentou, e o primeiro a fazer isso foi Uribe, que disse nesta segunda-feira: “A comunidade internacional, que tanto apoiou os diálogos com as FARC, deveria exigir desse grupo terrorista a cessação unilateral de atividades criminais”. Apesar da divisão que essas questões desencadeiam, houve avanços em três dos seis pontos da negociação. Se for retomada, fica agora o mais complicado. E com a fogueira em plena combustão.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_