Sotaque hispânico na Mostra de Cinema de São Paulo
O maior evento cinéfilo paulistano exercita seu espanhol com homenagens à Espanha e forte presença latino-americana. Filmes de culto também não faltam
Uma das grandes atrações da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo este ano é seu forte acento espanhol. E não se fala aqui só de Espanha, apesar do tradicional evento paulistano, que inaugura nesta quinta-feira sua 38ª edição, ter escolhido dar ampla atenção ao cinema desse país, com uma série de homenagens, retrospectivas e exposições. Fala-se também da cercania com os hispânicos da vizinhança latino-americana, bem representados, já de cara, por dois filmaços na abertura e no encerramento da programação: “Relatos selvagens”, do argentino Damián Szifrón, e Dólares de areia, da dominicana Laura Guzmán e do mexicano Israel Cárdenas.
A novidade é de se comemorar, já que o Brasil – mesmo quando se trata de um evento cinéfilo e de grande relevância cultural como a Mostra paulistana –não está acostumado a olhar para os lados, mais do que mira o norte tradicional, quando o assunto é arte. Pois vêm aí 331 títulos, dos quais 42 são da Espanha e outros 22 da América Latina, exibidos em 35 salas da cidade de 16 a 29 de outubro.
Entre as atrações espanholas, há filmes frescos, como Hermosa juventud, de Jaime Rosales, que recebeu menção honrosa no último Festival de Cannes; Viver é fácil com os olhos fechados, de David Trueba, vencedor de seis Goya (principal premiação do cinema espanhol) e indicado pela Espanha para disputar uma das vagas para o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2015; e As Bruxas de Zugarramurdi, de Álex de la Iglesia, premiadíssimo nos Goya.
E há também deliciosas pedidas clássicas, como uma retrospectiva da obra Pedro Almodóvar – autor do cartaz desta edição – e outra de Victor Erice, menos conhecido dos brasileiros, mas que é um dos mais cultuados cineastas espanhóis; a exposição ‘México Fotografado por Luis Buñuel’, com 85 fotografias feitas pelo cineasta no México entre os anos 1947 e 1965, e que acontece na Cinemateca Brasileira. Já dentro do Foco Espanha, cinco longas restaurados pela Cinemateca Espanhola serão exibidos, entre eles Falstaff - O toque da meia-noite (1965), produção que Orson Welles filmou na Espanha; A Idade do Ouro (1930) e Um cão andaluz (1929), ambos de Buñel.
Na seara latino-americana, a Argentina sai disparada, com a presença de nove filmes majoritariamente argentinos nas seções principais. Além de Relatos selvagens, uma comédia negra composta por seis histórias sobre a perda do controle, que esteve presente em Cannes 2014 e representa o país na disputa por mais um Oscar estrangeiro no que vem, há ótimas pedidas como Jauja, de Lisandro Alonso, Ciências naturais, de Matías Lucchesi, e Juana aos 12, de Martín Shanly. Depois, vários países comparecem com um filme cada, como a Colômbia, com Mateo, de María Gamboa; o Peru, com El mudo, de Daniel e Diego Vega, e a Costa Rica, com Por las plumas, de Neto Villalobos – todos merecedores de ótimas críticas e, em sua singularidade, imperdíveis. Da República Dominicana, vem o Dólares de areia, um drama estrelado por Geraldine Chaplin que viajou por vários festivais, com uma história amorosa entre uma francesa e uma dominicana.
Menu cinéfilo
Mas o espectador paulistano mais cinéfilo tampouco ficará sem as palmas, leões e outras estátuas de ouro e prata que caracterizam o evento a cada ano. Na Perspectiva Internacional se destacam Winter Sleep, grande vencedor de Cannes, Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência, de Roy Anderson, leão dourado em Veneza, Foxcatcher – Uma história que chocou, prêmio de melhor direção em Cannes, e Do que vem antes, de Lav Diaz, número um do pódio em Locarno, para citar alguns exemplos.
O que promete comover o público em geral é a exibição gratuita e ao ar livre do filme O circo, homenagem aos 100 anos de Carlitos, de Charles Chaplin. Junto com ele, será exibido o curta Corrida de automóveis para meninos (1914), primeira aparição do personagem Carlitos no cinema. Ambos serão exibidos no dia 1 de novembro na área externa do Auditório Ibirapuera com acompanhamento da Orquestra Experimental de Repertório da Fundação Teatro Municipal de São Paulo e regência do maestro Carlos Eduardo Moreno.
Confira a programação completa da Mostra, que inclui itinerâncias pelo estado, aqui.
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