Dilma Rousseff, favoritismo imune a escândalos
Candidata à reeleição enfrentou campanha dura, com país à beira de uma recessão, movimento “volta Lula”, denúncias de corrupção e lembranças da onda de protestos
A campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT) foi marcada por crises e denúncias que ameaçaram sua trajetória na disputa em 2014. Fragilizada pelo avanço de Marina Silva (PSB), que chegou a aparecer nas pesquisas empatada com ela, a petista viu sua popularidade ameaçada e passou meses tendo de rebater as críticas dos rivais e mesmo de setores do partido que, descrentes de suas chances de se reeleger, pediam o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – em um movimento que ficou conhecido como “volta Lula”. Mesmo assim, às vésperas da eleição, a presidenta chega ao primeiro turno com chances de repetir a votação de 2010, quando teve quase 47% dos votos válidos, mais que o obtido pelo próprio Lula na primeira etapa das eleições de 2002.
Pesquisas divulgadas neste sábado mostram que a candidata do PT teria entre 44% e 46% dos votos válidos (excluídos brancos e nulos). Há dois meses, porém, ela aparecia empatada com Marina, que entrou na corrida após a morte do presidenciável Eduardo Campos (PSB) em um acidente aéreo em 13 de agosto.
Dilma vem enfrentando obstáculos em sua tentativa de se reeleger desde junho de 2013, quando os protestos contra o aumento das tarifas dos transportes públicos em São Paulo, e contra os gastos excessivos para a realização da Copa do Mundo no Brasil, se transformaram em uma onda de manifestações por todo o país. Na mesma época, o país começava a dar sinais de um retorno do ‘fantasma’ da inflação, que assombra os brasileiros desde o final dos anos 1980 e o início da década de 90.
Pressionada por uma crise de confiança sem precedentes em relação a política, a presidenta ainda teve de responder, em 2014, por denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras, a estatal petroleira que é a “menina dos olhos” do Governo. Isso porque, revelações do ex-diretor de abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal após ser apontado como pivô de um esquema de desvios de dinheiro, associaram o escândalo a políticos da base aliada, incluindo um ministro, o titular da pasta de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB do Maranhão).
Ainda teve de responder à pressão do empresariado pela saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, após a agência de classificação de risco Standard&Poors (S&P) reduzir a nota de crédito do Brasil. E, meses depois, o IBGE apontar um recuo do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três meses anteriores – o que configura, segundo analistas, com uma recessão técnica.
Apesar dos obstáculos e escândalos, Dilma manteve o favoritismo principalmente em decorrência de alguns fatores importantes: o sucesso dos projetos de inclusão social no Brasil desde a era Lula – que tirou milhões de pessoas da pobreza e cuja importância nenhum dos demais presidenciáveis ousa questionar –; a manutenção do baixo índice de desemprego no país; e, obviamente, o poder da máquina pública, uma arma que impõe, a cada eleição, dificuldades a qualquer adversário que enfrenta o candidato governista.
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