Cresce o movimento “volta Lula”, mas o ex-presidente nega candidatura
Queda de Dilma em pesquisa aumenta especulação pela volta de seu antecessor. Especialista avalia que esse movimento seria muito arriscado para o PT
O cobrador de ônibus Fábio Rodrigues, de 42 anos, diz que está cheio da política brasileira. O taxista Augusto Dias, de 39, também, e acrescenta: “não aguento mais as picuinhas de Governo e da oposição”. Mas, quando são perguntados em qual candidato a presidente votariam nas próximas eleições, ambos respondem sem titubear: no Lula.
A sensação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve concorrer à sucessão de sua pupila e correligionária Dilma Rousseff (PT) cresce sempre que a avaliação do Governo dela cai. A última pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no fim de semana mostrou isso.
A economia que castiga a gestão Rousseff, aliada à requentada crise da Petrobras, fizeram com que ela perdesse seis pontos percentuais nas intenções de voto – caiu de 44% em fevereiro para 38% dos votos neste mês – no cenário mais provável, em que seu principais adversários seriam Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Por outro lado, quando Lula foi colocado como o possível candidato petista contra esses mesmos dois concorrentes ele teria 52% das intenções de votos.
O movimento “volta Lula” reapareceu de maneira tão intensa que o próprio petista tratou de convocar uma entrevista com blogueiros na qual desmentiu essa possibilidade. “Eu não sou candidato. Minha candidata é a Dilma Rousseff. E eu conto com vocês para divulgar isso e acabar com essa boataria”, afirmou logo no início da conversa.
A fala de Lula deve ser levada em conta, apesar do movimento contrário feito por boa parte de seus correligionários. Ao menos dois pontos sustentam esse discurso do ex-presidente: 1) se ele concorresse ao Planalto estaria dando o recibo de que sua sucessora não foi capaz de fazer tudo o que prometeu; 2) abasteceria os opositores com argumentos de que o tempo do PT no Governo já se esgotou.
“Se o Lula concorresse ele teria o mesmo dilema que o Maluf teve com o Pitta em São Paulo e estaria negando sua sucessora, que ele próprio criou”, afirmou o cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Na comparação, o especialista se refere ao ex-prefeito paulistano Paulo Maluf, que elegeu seu substituto Celso Pitta, em 1997, dizendo que se este fizesse uma má administração nunca mais pediria os votos de seus eleitores. Para sintetizar a história, Pitta se envolveu em vários escândalos de corrupção e acabou seu mandato, no final do ano 2000, com uma rejeição de 83%.
Antecedentes
O movimento “volta Lula” não é tão novo como aparenta. Em 1o de maio do ano passado, por exemplo, em um evento da Força Sindical onde estavam milhares de trabalhadores e sindicalistas, um humorista subiu ao palco e fez uma enquete improvisada com os espectadores, perguntando quem eles queriam para presidente. Quando os nomes de Aécio, Campos e Dilma foram citados, poucos aplausos. Ao falar de Lula, ovação. Isso também é bem demonstrado nas últimas pesquisas. A do Datafolha indica que tanto Dilma, Aécio e Campos têm a rejeição dos eleitores na casa dos 33%. Enquanto a de Lula é de 19%.
Um pouco da impopularidade de Rousseff talvez se deva ao seu perfil mais técnico do que político. Nos oito anos do Governo Lula, era comum vê-lo fazendo pronunciamentos (em rede nacional ou na imprensa) nos momentos de crise, o que nem sempre ocorre na atual gestão. Além disso, ela enfrenta dificuldades com sua base aliada no Congresso Nacional que pretende instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito em pleno ano eleitoral.
O que pesa a favor da presidenta é que os oposicionistas ainda não foram competentes para ocuparem o espaço deixado por ela. Dos seis pontos perdidos por Rousseff, apenas um se transferiu para Campos, o que poderia estar dentro da margem de erros de dois pontos percentuais. Aécio não cresceu nada, os demais foram para votos em branco e nulos ou para candidatos por partidos nanicos, que têm chances remotíssimas de fazer qualquer barulho.
O "não" de Lula já foi dado, mas a negativa definitiva só deve ocorrer se o cenário político não mudar tanto até agosto, prazo definido pelo Tribunal Superior Eleitoral para os partidos trocarem os candidatos que concorrerão no pleito de outubro. Um sinal disso foi dado pelo presidente do PT, Rui Falcão, em entrevista publicada nesta segunda-feira na Folha de S. Paulo. Ao ser questionado se há uma pressão pela troca de candidatos, ele respondeu que não. “Isso teria ocorrido se ela [Rousseff] tivesse sido suplantada pela oposição”. Aparentemente, Falcão ainda deixa algumas brechas.
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