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OMS: “Não há leite melhor do que o humano”

Amamentar reduz chances de que a criança seja diabética e celíaca no futuro, entre outras vantagens

Semana Mundial do Aleitamento Materno.
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A lista de benefícios oferecida pelo leite materno ao bebê ocupa mais páginas do que o livro Guerra e paz, e continua aumentando. Os bebês amamentados têm três vezes menos probabilidades de sofrer de obesidade, um maior quociente intelectual e um sistema imunológico muito mais forte, que os protege de diarreias e pneumonias, para mencionar apenas algumas vantagens desse autêntico ouro biológico que acompanhará o indivíduo para sempre. “Um triunfo para toda a vida”, é, de fato, o lema da Semana Mundial do Aleitamento Materno que, no Brasil, acontece este ano de 1 a 7 de agosto.

Por que, então, tantas mulheres jogam a toalha? Ainda que na saída do hospital a maioria das mães (80%) dê o peito, aos três meses apenas 52,5% das crianças tomam exclusivamente leite materno, um número que cai para 36% aos seis, segundo dados da Associação Espanhola de Pediatria. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda amamentar o filho de forma exclusiva até os seis meses de vida, e continuar com a lactação, junto com outros alimentos, até os dois anos ou mais.

“Se os riscos de não apoiar a lactação fossem mais conhecidos, as medidas de apoio seriam estimuladas”, reforça María Teresa Hernández, coordenadora da Iniciativa para a Humanizacao da Assistência ao Nascimento e à Lactação (IHAN). Lançada pela OMS e pelo UNICEF, certifica os hospitais que cumprem uma série de requisitos com um selo que significa uma atenção respeitosa e de qualidade.

“Todas as mulheres têm quantidade suficiente de leite para alimentar seus bebês” (Gracia Fernández, parteira)

“Sempre se fala de benefícios, mas não é o mesmo que falar de riscos”, destaca a pediatra, que também é responsável pela Unidade de Lactação Materna do Departamento de Valencia, Dr. Peset, pioneira na Espanha. “Não ocorre a ninguém falar dos benefícios de respirar em relação a não respirar. Trata-se de respirar para viver. A amamentação é a forma natural de alimentação nos primeiros meses. Quando o natural é alterado em etapas tão precoces da vida, altera-se também o desenvolvimento, diminuem as defesas do bebê e aumentam os riscos de doenças em mãe e filho”. A OMS acrescenta: “A lactação materna também é benéfica para as mães. Reduz o risco de câncer de mama e de ovário no futuro, ajuda as mulheres a se recuperarem mais rapidamente seu peso anterior à gravidez e reduz as taxas de obesidade”.

“Há cada vez mais estudos que descobrem substâncias benéficas do leite, como hormônios que favorecem o crescimento intestinal e o desenvolvimento cerebral. Isso supõe que, anos depois, as crianças que não mamaram no peito têm mais probabilidades de serem celíacas, sofrer de diabetes e outras doenças crônicas”, aponta Hernández. Um dos estudos recentes de maior repercussão, publicado na revista Science com o título ‘A primeira comida funcional da natureza’ ressalta mais uma vez como os benefícios vão muito além da nutrição. Mas podem chegar mais surpresas, afirma Hernández: “É um terreno muito esquecido em pesquisa; há lacunas de conhecimento”.

Motivos para amamentar, portanto há aos montes. Mas também sobram problemas. “Amamentar um filho pode ser fácil e prazeroso. E é preciso facilitar esta prática às mães, acabando com a percepção de que se uma mulher não pode amamentar, não acontece nada”, afirma Hernández. Trata-se, indica a pediatra, de recuperar essa “cultura de lactação em que as mães transmitiam a suas filhas que o normal era amamentar”.

A parteira Gracia Fernández, especialista em lactação do centro de preparação ao parto MásNatural, concorda com este ponto. “Procuro passar segurança às mães assustadas pelo que lhes contam familiares e amigas, que percebem a lactação como algo que não é para todo mundo. ‘Minha mãe quase não tinha leite, minha irmã também não, então não acho que vou conseguir’, dizem. Isso não é verdade. Todas as mulheres têm a quantidade de leite suficiente para alimentar seus bebês”, afirma.

Mamadeiras para dormir mais e outras falácias

“Eu te criei com a mamadeira e você cresceu com muita saúde”. Essa frase extraordinária na boca de não poucas avós pode provocar que em um momento de fraqueza – e quem não o tem após dar à luz – algumas novas mães sucumbam ao leite artificial. “Muitas mulheres, até mesmo antes de parir, já preparam as mamadeiras e compram leite artificial como prevenção”, diz a parteira. “Nesses momentos de dificuldade nos quais a mãe tem abcessos e mastite [inflamação da mama], as pessoas ao seu redor a aconselham que abandone a amamentação. Com todo o amor do mundo, mas erroneamente”.

A subida do leite ocorre dois ou três dias depois do nascimento. Até esse momento, o bebê se alimenta de colostro (líquido semelhante ao leite, mas muito mais denso e pegajoso). É uma prática muito frequente suplementar o colostro com mamadeiras, mesmo que, como diz a especialista, seja um erro que pode custar caro. “Se utilizar a mamadeira, o bebê suga menos o peito e não ocorre o estímulo que causa o funcionamento dos hormônios relacionados com a lactação, a prolactina e a oxitocina”, diz Fernández. Outra ideia muito difundida é a de que se tomar a mamadeira de noite, o bebê dormirá por mais tempo. “Isso não favorece de forma nenhuma a lactação. A maior produção de leite ocorre de noite”, diz a parteira.

“A lactação artificial é a mais longa experiência sem grupo de controle e consentimento informado da história da medicina”. A frase de Frank Oski (1932-1996), professor de pediatria da Universidade John Hopkins e editor da revista Pediatrics, se repete entre estudiosos do assunto como a pediatra Ibone Olza, que afirma que estudos de ressonância magnética mostram as diferenças no desenvolvimento da substância branca cerebral entre crianças amamentadas e crianças não amamentadas, e até mesmo as diferenças entre amamentados por 12 meses e mais de 15. “O cérebro amadurece de forma diferente em relação à amamentação. A lactação não é somente o leite, mas também a estimulação sensorial”.

O que acontece se a mãe, não importa a razão (doença crônica, vírus do HIV, medicamentos incompatíveis...), não pode dar o peito? “Então dê a mamadeira como se fosse o peito. Com muito contato de pele com pele”, diz Olza.

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