_
_
_
_

OMS: “Não há leite melhor do que o humano”

Amamentar reduz chances de que a criança seja diabética e celíaca no futuro, entre outras vantagens

Semana Mundial do Aleitamento Materno.
Semana Mundial do Aleitamento Materno.
Mais informações
A síndrome da péssima mãe
Eles também criam
Ainda dormem com vocês?
Milhares de mulheres amamentam em público na Argentina em protesto a ação policial

A lista de benefícios oferecida pelo leite materno ao bebê ocupa mais páginas do que o livro Guerra e paz, e continua aumentando. Os bebês amamentados têm três vezes menos probabilidades de sofrer de obesidade, um maior quociente intelectual e um sistema imunológico muito mais forte, que os protege de diarreias e pneumonias, para mencionar apenas algumas vantagens desse autêntico ouro biológico que acompanhará o indivíduo para sempre. “Um triunfo para toda a vida”, é, de fato, o lema da Semana Mundial do Aleitamento Materno que, no Brasil, acontece este ano de 1 a 7 de agosto.

Por que, então, tantas mulheres jogam a toalha? Ainda que na saída do hospital a maioria das mães (80%) dê o peito, aos três meses apenas 52,5% das crianças tomam exclusivamente leite materno, um número que cai para 36% aos seis, segundo dados da Associação Espanhola de Pediatria. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda amamentar o filho de forma exclusiva até os seis meses de vida, e continuar com a lactação, junto com outros alimentos, até os dois anos ou mais.

“Se os riscos de não apoiar a lactação fossem mais conhecidos, as medidas de apoio seriam estimuladas”, reforça María Teresa Hernández, coordenadora da Iniciativa para a Humanizacao da Assistência ao Nascimento e à Lactação (IHAN). Lançada pela OMS e pelo UNICEF, certifica os hospitais que cumprem uma série de requisitos com um selo que significa uma atenção respeitosa e de qualidade.

“Todas as mulheres têm quantidade suficiente de leite para alimentar seus bebês” (Gracia Fernández, parteira)

“Sempre se fala de benefícios, mas não é o mesmo que falar de riscos”, destaca a pediatra, que também é responsável pela Unidade de Lactação Materna do Departamento de Valencia, Dr. Peset, pioneira na Espanha. “Não ocorre a ninguém falar dos benefícios de respirar em relação a não respirar. Trata-se de respirar para viver. A amamentação é a forma natural de alimentação nos primeiros meses. Quando o natural é alterado em etapas tão precoces da vida, altera-se também o desenvolvimento, diminuem as defesas do bebê e aumentam os riscos de doenças em mãe e filho”. A OMS acrescenta: “A lactação materna também é benéfica para as mães. Reduz o risco de câncer de mama e de ovário no futuro, ajuda as mulheres a se recuperarem mais rapidamente seu peso anterior à gravidez e reduz as taxas de obesidade”.

“Há cada vez mais estudos que descobrem substâncias benéficas do leite, como hormônios que favorecem o crescimento intestinal e o desenvolvimento cerebral. Isso supõe que, anos depois, as crianças que não mamaram no peito têm mais probabilidades de serem celíacas, sofrer de diabetes e outras doenças crônicas”, aponta Hernández. Um dos estudos recentes de maior repercussão, publicado na revista Science com o título ‘A primeira comida funcional da natureza’ ressalta mais uma vez como os benefícios vão muito além da nutrição. Mas podem chegar mais surpresas, afirma Hernández: “É um terreno muito esquecido em pesquisa; há lacunas de conhecimento”.

Motivos para amamentar, portanto há aos montes. Mas também sobram problemas. “Amamentar um filho pode ser fácil e prazeroso. E é preciso facilitar esta prática às mães, acabando com a percepção de que se uma mulher não pode amamentar, não acontece nada”, afirma Hernández. Trata-se, indica a pediatra, de recuperar essa “cultura de lactação em que as mães transmitiam a suas filhas que o normal era amamentar”.

A parteira Gracia Fernández, especialista em lactação do centro de preparação ao parto MásNatural, concorda com este ponto. “Procuro passar segurança às mães assustadas pelo que lhes contam familiares e amigas, que percebem a lactação como algo que não é para todo mundo. ‘Minha mãe quase não tinha leite, minha irmã também não, então não acho que vou conseguir’, dizem. Isso não é verdade. Todas as mulheres têm a quantidade de leite suficiente para alimentar seus bebês”, afirma.

Mamadeiras para dormir mais e outras falácias

“Eu te criei com a mamadeira e você cresceu com muita saúde”. Essa frase extraordinária na boca de não poucas avós pode provocar que em um momento de fraqueza – e quem não o tem após dar à luz – algumas novas mães sucumbam ao leite artificial. “Muitas mulheres, até mesmo antes de parir, já preparam as mamadeiras e compram leite artificial como prevenção”, diz a parteira. “Nesses momentos de dificuldade nos quais a mãe tem abcessos e mastite [inflamação da mama], as pessoas ao seu redor a aconselham que abandone a amamentação. Com todo o amor do mundo, mas erroneamente”.

A subida do leite ocorre dois ou três dias depois do nascimento. Até esse momento, o bebê se alimenta de colostro (líquido semelhante ao leite, mas muito mais denso e pegajoso). É uma prática muito frequente suplementar o colostro com mamadeiras, mesmo que, como diz a especialista, seja um erro que pode custar caro. “Se utilizar a mamadeira, o bebê suga menos o peito e não ocorre o estímulo que causa o funcionamento dos hormônios relacionados com a lactação, a prolactina e a oxitocina”, diz Fernández. Outra ideia muito difundida é a de que se tomar a mamadeira de noite, o bebê dormirá por mais tempo. “Isso não favorece de forma nenhuma a lactação. A maior produção de leite ocorre de noite”, diz a parteira.

“A lactação artificial é a mais longa experiência sem grupo de controle e consentimento informado da história da medicina”. A frase de Frank Oski (1932-1996), professor de pediatria da Universidade John Hopkins e editor da revista Pediatrics, se repete entre estudiosos do assunto como a pediatra Ibone Olza, que afirma que estudos de ressonância magnética mostram as diferenças no desenvolvimento da substância branca cerebral entre crianças amamentadas e crianças não amamentadas, e até mesmo as diferenças entre amamentados por 12 meses e mais de 15. “O cérebro amadurece de forma diferente em relação à amamentação. A lactação não é somente o leite, mas também a estimulação sensorial”.

O que acontece se a mãe, não importa a razão (doença crônica, vírus do HIV, medicamentos incompatíveis...), não pode dar o peito? “Então dê a mamadeira como se fosse o peito. Com muito contato de pele com pele”, diz Olza.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_