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A campanha eleitoral brasileira, convertida em uma montanha russa

A presidenta Dilma Rousseff volta a liderar as pesquisas depois de uma reação surpreendente a uma semana do primeiro turno

Antonio Jiménez Barca
Cartaz de Dilma é pendurado em um ato de campanha.
Cartaz de Dilma é pendurado em um ato de campanha.Eraldo Peres (AP)

A última pesquisa publicada no Brasil sacudiu de novo a campanha (e o país), revelando algo que parecia impossível um mês atrás: a presidenta Dilma Rousseff volta a estar na liderança com apreciável distância. No fim de agosto, a candidata Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), subia 15 pontos de uma tacada só e, de repente, colocava-se como a favorita da corrida eleitoral para governar o Brasil. Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), segurava o tranco com muita dificuldade e empatava com a rival.

Marina Silva beneficiava-se então do efeito surpresa de se tornar em um dia a candidata presidencial, depois da morte do titular, Eduardo Campos, em um acidente aéreo. A ex-ministra do Meio Ambiente capitalizou bem a comoção que envolveu o país depois do acidente e passou a defender, segundo ela, uma nova forma de fazer política. Menos de um mês depois, tudo mudou: uma pesquisa divulgada ontem pela Folha de S. Paulo revela que a presidenta se distanciou da adversária, a quem agora supera em 13 pontos, o que se traduz em quase 15 milhões de votos. Em uma semana, Dilma Rousseff conseguiu superar Silva em seis pontos percentuais, o que mostra a trajetória (agora) descendente de Marina Silva e a (agora) ascendente da atual presidenta. Uma montanha-russa e tanto.

A tal ponto que há especialistas segundo os quais, mantida essa tendência, Rousseff – que há um mês contemplava com certa impotência o furacão Silva – poderia ganhar no primeiro turno, que ocorre no próximo dia 5 de outubro, isto é, em oito dias: para isso, seria necessário obter mais de 50% dos votos válidos. O terceiro candidato na disputa, Aécio Neves, embora cresça ligeiramente em suas projeções de voto, permanece em terceiro lugar. As eleições brasileiras, por enquanto, continuam sendo um assunto entre duas mulheres.

O que aconteceu? Como pôde Silva desinflar-se assim? Observando-se a trajetória eleitoral da candidata do PSB, parece o voo de uma bala de canhão: sobe desde meados de agosto, chega ao seu ponto mais alto em 5 de setembro, e desde então não para de cair.

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Quando iniciou sua corrida à presidência (e sua meteórica ascensão), muitos especialistas asseguraram que o verdadeiro inimigo de Silva era o tempo. O fator surpresa a havia beneficiado, mas, passada a primeira estupefação e encaixado o primeiro golpe, a máquina eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT) começaria a minar o efeito Marina. Rousseff, por lei, e devido às alianças políticas do seu partido, goza diariamente de muitos minutos a mais para fazer campanha na televisão. O PT dispõe de mais de 11 minutos, e o PSB não chega a 3. E Rousseff soube aproveitar isso: concentrou essas mensagens em insinuar que, se Marina Silva ganhar, muitas das conquistas sociais obtidas com o PT (salários sociais às famílias mais pobres, subvenções para moradia…) iriam desaparecer.

Silva se esforçou durante todas estas semanas em desmentir isso. Mas a mensagem colou. Sobretudo nas classes sociais que tanto Silva como Rousseff disputam, a chamada classe C, a nova classe média brasileira, composta por 30 milhões de pessoas que abandonaram a pobreza na última década, sob os governos do PT. Até agora, essa população votava sempre no PT, personificado primeiro em Lula e depois em Rousseff, mas hoje ela está repensando. Os especialistas consideram que o eleitor de Silva é mais volúvel, que o partido que a abriga carece da estrutura e do aparato eleitoral do PT.

Rousseff, além disso, une as críticas à sua rival a uma constante alusão às conquistas obtidas no seu Governo. Fez isso – e foi muito criticada – até no discurso inaugural da 65ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta semana. Seja como for, a estratégia funciona. Rousseff acusa Silva de ser uma candidata inconsistente e de prejudicar os mais pobres. Silva se defende recordando sua origem muito humilde e esgrimindo um programa de Governo (coisa que os outros candidatos não divulgaram, para evitar críticas e cair em contradições). O problema duplo para Silva é que, do outro lado, o mais conservador Aécio Neves, também empenhado em minar a candidata do PSB – já que sua única oportunidade passa pela derrota dela –, a tacha de 'maria vai com as outras'. E Silva recorda, em cada comício, que militou por mais de 25 anos no PT. O laço apanhou Silva, e está apertando.

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