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Marina, em meio a uma briga interna do PSB que ameaça sua campanha

O partido convoca eleições para a escolha da diretoria seis dias antes da disputa presidencial

Marina Silva discursa em São Paulo, no dia 24.
Marina Silva discursa em São Paulo, no dia 24.Andre Penner (AP)

Enquanto Marina Silva tenta se assegurar no segundo turno, o atual presidente do PSB, o cientista político Roberto Amaral, quer se agarrar ao seu trono. Uma briga interna do partido da segunda colocada nas intenções de votos do Brasil, corre o risco de afetar a candidatura dela, que começa a mostrar suas primeiras fragilidades com as quedas nas pesquisas eleitorais. Amaral agendou uma eleição para a escolha dos 35 novos integrantes da diretoria do partido para a próxima segunda-feira, seis dias antes da disputa presidencial.

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Amigo e aliado do ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro de Ciência e Tecnologia, Amaral era contrário à candidatura própria e defendia a manutenção do apoio à reeleição de Dilma Rousseff. Foi voto vencido. O PSB decidiu lançar Eduardo Campos e ele teve de se contentar na vice-presidência da legenda. Era um cargo figurativo, no qual dava algumas opiniões sobre a formulação do programa de governo, mas não tinha a caneta para tomar qualquer decisão mais importante.

O jogo começou a mudar de cena com a morte de Campos, o então presidente da legenda, em um acidente aéreo no dia 13 de agosto. Amaral foi alçado instantaneamente ao cargo de presidente da agremiação. A neossocialista Marina, que era candidata a vice-presidente da República, virou o nome para encabeçar a chapa do PSB. Foi aí que começaram as brigas internas. Um dos coordenadores da campanha de Campos, Carlos Siqueira, se desligou da função por discordar dos posicionamentos de Marina. Amaral nunca demonstrou amores por ela e, temendo perder apoio interno, decidiu convocar o pleito. Em sua defesa, ele diz que Campos já havia programado a eleição para o dia 29 de setembro, independentemente da campanha eleitoral nacional. Pelo regimento do partido, porém, ele poderia chamar a eleição até dezembro.

A decisão de Amaral só aumentou as fissuras partidárias. O grupo de socialistas de Pernambuco, Estado natal de Campos, reclamou de ter sido deixado de fora da chapa e pediu ajuda ao líder do partido na Câmara e candidato a vice-presidente, Beto Albuquerque. Foi prontamente atendido. Albuquerque cancelou a agenda que teria em Minas Gerais nesta sexta-feira com Marina Silva para tentar impedir a disputa interna. Uma série de reuniões deve ocorrer no quartel-general do PSB em São Paulo.

“É inoportuno nesta hora eleger o presidente do PSB. É hora de eleger o presidente da República. Eduardo marcou esta data porque seria reeleito [pelo PSB]. Qual é o problema de adiar a eleição no partido? O que não pode é adiar a eleição presidencial. Isso desmobiliza”, afirmou Albuquerque ao jornal O Estado de S. Paulo.

Histórico conturbado

A chegada de Marina ao PSB já foi conturbada. Sem êxito em registrar o seu partido, a Rede Sustentabilidade, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente se filiou ao PSB no fim do prazo legal, em outubro do ano passado. A ideia de se unir aos socialistas foi se manter viva no cenário eleitoral e tentar entregar a eles parte dos 19 milhões de votos que obteve na eleição de 2010, quando era do PV. Partido, aliás, do qual saiu pela porta dos fundos, já que não teve apoio interno e entrou em rota de colisão com a diretoria da legenda.

Internamente, Marina nunca teve tanta força. Os socialistas mais antigos a viam como uma estranha no ninho, pois sabiam que logo ao fim do segundo turno ela deixaria a legenda, independentemente do resultado das urnas. Nos dias que sucederam a morte de Campos, quando o nome dela ainda não havia sido oficializado como a substituta, era comum ver Amaral ou outros membros do partido reticentes em anunciá-la como candidata a presidência.

O sinal mais claro das dificuldades que Marina enfrentaria foi o desligamento de Carlos Siqueira da coordenação da campanha. De lá para cá, enfrentou diversos outros empecilhos partidários, como o não envio de seu material publicitário (como santinhos, panfletos e bandeiras) para parte dos Estados brasileiros e desentendimentos na divulgação de seu programa de governo, que teve de revisto em ao menos duas ocasiões. Isso sem contar a série de ataques externos que vem sofrendo de seus principais adversários, Rousseff e o Aécio Neves (PSDB).

Seja qual for a decisão dos socialistas, de adiar ou não a disputa interna, uma coisa é certa, nunca uma coligação formada por seis partidos pequenos (PSB, PPS, PPL, PHS, PSL e PRP) esteve tanto no centro das atenções em uma eleição brasileira. Agora resta saber se a atual crise é um furacão ou apenas uma brisa.

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