_
_
_
_
MEDO À LIBERDADE
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Venezuela: a terceira invasão

Na América, os Estados Unidos estão sendo substituídos como potência dominante por outras forças

A mudança geoestratégica que está acontecendo na América tem vários componentes. O mais importante é a substituição, ainda que sem repercussões políticas imediatas, da potência dominante (Estados Unidos) por outras forças econômicas, como acontece com a paulatina ocupação da região pela China.

Emprestar dinheiro ao país que continua tendo as maiores reservas de petróleo do mundo tem pouco mistério, no sentido de que — se a Venezuela não explodir politicamente — o investimento sempre poderá ser recuperado.

Os Estados Unidos continuam sendo o principal sócio comercial de Caracas, com um fluxo próximo aos 70 bilhões de dólares anuais. No entanto, ao mesmo tempo, como aconteceu um dia com os chavistas e então com os cubanos, os chineses começam a se multiplicar em todos os setores da economia venezuelana.

Mais informações
Brasil: mulher contra mulher
O Islã na América
América desgarrada

Não se trata apenas de a Venezuela ser o maior consumidor de celulares fabricados na China em toda a América Latina, nem que ninguém sabe o número de médicos cubanos que trabalha em missões ou o número exato de conselheiros militares. É que em um país com população relativamente pequena (menos de 31 milhões de habitantes) há mais de 400 mil chineses.

Chineses e venezuelanos estabeleceram uma relação econômica bilateral que cresceu exponencialmente nos 15 anos de chavismo e que, no fundo, se transformou na trincheira de resistência do regime. Os números são claros: o intercâmbio comercial entre os dois países passou de 12 bilhões de dólares em 2000 para mais de 230 bilhões por ano.

Nicolás Maduro começou seu mandato com uma viagem à China. Agora a presença chinesa na Venezuela (como em outros países latino-americanos) adquire características peculiares porque já não se trata apenas de financiar o país em troca de produtos — petróleo e materiais estratégicos de mineração — mas também de entrar e trocar bens de consumo. A compra de grandes armazéns comprova.

Pequim não é um inimigo ideológico dos outros equilíbrios da região, mas uma potência econômica emergente. Além disso, tem uma estratégia dupla: o peso específico e súbito que dá à população de origem chinesa e uma exportação massiva de técnicos (uma das grandes áreas nas quais Pequim investiu nos últimos dez anos) para ocupar não só os espaços físicos com o dinheiro, mas os intangíveis a partir de desenvolvimento tecnológico próprio.

A China está propiciando, com créditos especiais, a recuperação da infraestrutura e a criação de novos sistemas de comunicação na região, o que lhe permite envolver e ocupar territórios como faziam antes Estados Unidos ou a União Europeia.

Os trens e os grandes portos são os melhores exemplos. Assim, as estradas de ferro voltam à América Latina pela mão dos chineses, que acabam de emprestar 7,5 bilhões de dólares à Venezuela para a construção de uma linha ferroviária de 468 quilômetros, da qual a China Railways Engineering possuirá 40%. A China investe cerca de 1,9 bilhões de dólares por ano na nação bolivariana.

E não se pode perder de vista que Chávez se dedicou a se rearmar e a buscar o equilíbrio na região com compras em massa de equipamentos militares na Rússia de Putin. Agora, pela primeira vez, os chineses não só financiam o país em troca de obter petróleo e produtos de que necessitam, mas, em uma repetição da história, acumulam matérias-primas para seguir mantendo seu nível de desenvolvimento.

A possibilidade de cooperação nos setores de transporte ferroviário e energético, assim como o empenho chinês em transformar-se em uma potência em trens de alta velocidade no continente americano, onde não têm concorrência direta norte-americana, se traduz em acordos como o firmado na região de Junín — considerado o cinturão de petróleo de Orinoco — entre a China International Trust and Investment Corporation e a Petroleos de Venezuela SA (PSVSA).

Mesmo assim, prevê-se a criação de um companhia entre PDVSA e a empresa chinesa de tecnologia Sinotec para descobrir e explorar jazidas. O Banco de Desenvolvimento da China oferecerá um empréstimo de 500 milhões de dólares para a compra de maquinário e tecnologia petrolífera.

A China importa da Venezuela mais de 500 mil barris de petróleo diários, 10% de suas importações totais de óleo bruto. Prevê-se que, para 2016, o número se duplique. Mas, para chegar a esse ponto, primeiro a China deve se tornar dona da capacidade de exploração dos poços petrolíferos.

Outro problema que se apresenta nessa macroluta estratégica deriva do equilíbrio entre chineses e russos. A volta do ativismo russo a Cuba não ocorre por acaso, pois, no fim das contas, a segunda invasão da Venezuela, levada a cabo pelos cubanos durante o mandato de Chávez, é um fenômeno de penetração ideológica, militar e de controle social que não deve ser menosprezado.

Em termos absolutos, os Estados Unidos é aparentemente o grande ausente da luta pelo controle da Venezuela, devido à penetração dos cubanos não só física como em sistemas de segurança. E agora se apresenta a terceira invasão, que é a financeira e tecnológica, a cargo da China. As lacunas são sempre preenchidas.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_