Rússia recorrerá à Organização Mundial do Comércio
Putin diz que só aplicará medidas retaliatórias contra a UE e os EUA se elas não prejudicarem a economia russa

A Rússia vai recorrer à Organização Mundial do Comércio contra as novas sanções que a União Europeia e os Estados Unidos lhe impuseram por seu envolvimento na crise da Ucrânia, segundo anunciou nesta sexta-feira o ministro da Economia russo, Alexey Ulyukayev. Embora Moscou também “esteja pensando” em possíveis medidas retaliatórias, somente as aplicará se beneficiarem os seus interesses econômicos. “Que passos concretos daremos, e se o faremos ou não, é algo que ainda vamos ver, mas não faremos nada que vá contra nós”, afirmou nesta sexta-feira o presidente russo, Vladimir Putin, na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), realizada em Dushanbe, capital do Tadjiquistão.
A reação do Kremlin à nova rodada de sanções foi recebida com surpresa. As advertências do primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, e de altos funcionários sobre as consequências das novas represálias contra a Rússia sugeriam que a resposta de Moscou seria contundente. Na quinta-feira passada o assessor presidencial, Andrei Belousov, anunciou que o Kremlin estava preparando o veto à importação de automóveis.
Contudo, Moscou quis deixar claro o seu mal-estar. “Tomar essa decisão (de introduzir novas sanções) no exato momento em que o processo de paz na Ucrânia ganha estabilidade significa optar por prejudicá-lo”, afirmou o ministro russo de Relações Exteriores, Sergei Lavrov, à emissora de televisão Rússia-1, empregando um tom mais ameaçador ao aludir às sanções específicas dos EUA. “É um passo hostil e tomaremos medidas”, desafiou.
A piora das relações com a União Europeia e os Estados Unidos em razão dos acontecimentos na Ucrânia estimulou a Rússia a estreitar relações políticas e econômicas com a Ásia e os países de outros continentes, e acelerar os planos de diminuir sua dependência da Europa como principal mercado externo para suas matérias-primas, especialmente os hidrocarbonetos.
Prova disso é o acordo sobre a construção de um gasoduto até a China, depois de anos de divergências sobre os termos do projeto. Putin firmou o acordo em maio, durante uma viagem a Pequim. Trata-se de um megaprojeto de valor equivalente a 950 bilhões de reais e que transportará 38 bilhões de metros cúbicos anuais do precioso combustível ao gigantesco vizinho.
A Organização de Cooperação de Xangai representa para a Rússia uma boa alternativa para aprofundar os laços econômicos com os países asiáticos: fazem parte dessa organização, além dos citados China, Rússia e Tadjiquistão, o Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão. Além disso, têm status de observadores o Afeganistão, Irã, Mongólia, Índia e Paquistão (estes dois últimos países poderiam em breve se transformar em membros de pleno direito). Belarus, Turquia e Sri Lanka são parceiros.
Rússia busca aliados na Ásia, ante a deterioração das relações com a União Europeia e os Estados Unidos
Putin afirmou nesta sexta-feira que considerava necessário “melhorar a eficácia da interação” dos países que participam da OSX com a finalidade de “responder aos desafios da época”. “E ainda mais em uma situação mundial difícil, com uma série de ameaças crescentes” acrescentou o presidente, apesar de não se referir diretamente às tensões criadas entre a Rússia, de um lado, e Estados Unidos e a União Europeia, por outro. O líder russo propôs nesse contexto “atualizar o programa de comércio e cooperação econômica”.
A OCX é também uma plataforma para encontrar apoios e aliados políticos. Uma demonstração disso é a declaração conjunta na qual alertam que a construção do “escudo nuclear” representa uma ameaça à “segurança internacional e à estabilidade estratégica”. Embora não tenha citado expressamente os Estados Unidos, a OSX se referiu desse modo aos planos de Washington de criar um sistema global de proteção contra os mísseis nucleares, que a Rússia vê como uma ameaça à sua segurança.
Rússia e China se puseram de acordo ainda para construir um grande porto na costa russa do mar do Japão, em um novo sinal de aprofundamento da aliança entre esses gigantes.